Nestes dias confusos, o mais fácil é certamente criticar, principalmente quando as lideranças não são, como não foram, prontas, expeditas, claras.

Fomos entretidos durante várias semanas por uma espécie de conversas de família protagonizadas por uma senhora de idade que arrazoava sobre epidemias com acentuado optimismo.

Depois, vimos a pantomina habitual do nosso Presidente que se divertia a fazer um esconde-esconde numa varanda. Mais tarde, assistimos a um inenarrável jogo do empurra para ver quem decidia mais devagar, entre o Primeiro Ministro e o Presidente. E depois, quando tudo apertou, vimos finalmente o Primeiro Ministro a dar a cara por um modelo em que ele acredita.

Mas eu não!

Falo da forma como o governo decidiu apoiar as pessoas e as empresas. Não quero dar demasiado enfase à intensidade em termos de valor financeiro disponibilizado das medidas tomadas quando comparadas, por exemplo, com as da nossa vizinha Espanha. É que em Espanha são muitas vezes mais, mesmo na proporção das pessoas e das economias. Mas admito que os apoios sejam dinâmicos e que possam ser anunciados na medida em que o perfil e a extensão da crise passem a ser entendíveis.

Falo, outrossim, do modelo que foi escolhido para apoiar, em especial, as empresas.

Para já a palavra de ordem é – paguem depois! E façam o favor de se responsabilizarem pelos trabalhadores que têm. Mesmo que o seu teletrabalho seja imprestável.

Ao contrário Boris Johnson avançou com o pagamento de 80% dos salários dos trabalhadores que não possam exercer uma actividade útil pelo lay off ou encerramento das suas empresas. E às empresas encerradas disponibilizou empréstimos, com um budget global ilimitado, durante 12 meses, sem o pagamento de juros. Para além de isentar a totalidade do pagamento do IVA até ao final do ano.

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Qual a diferença para o modelo que foi anunciado pelo nosso Primeiro Ministro?

António Costa parece achar que basta dizer às empresas que pagam depois. Como se alguma delas viesse mais tarde recuperar o tempo em que nada fez e o dinheiro pelas vendas ou serviços que realmente não prestou!

E este “esperar que passe” que “enquanto não passa não lhe acontece nada”, não irá resolver problema nenhum, nem o actual, por as empresas estarem mais preocupadas em fazer ajustes ao emprego ou, as mais fragilizadas, em aproveitarem para fechar definitivamente e acordarem mais tarde, quando a borrasca passar e todos quiserem dinamizar uma nova economia. Porque sentem que ou é isso, ou estarão a endividar-se insuportavelmente para um futuro que não pode ser mais imprevisível. Não foram orientadas de outro modo….

A genialidade das medidas de Boris Johnson está precisamente nos efeitos imediatos que geram e na forma como orientam as empresas para um determinado comportamento.

O Primeiro Ministro Inglês conseguiu, em primeiro lugar, cativar o emprego – transmitindo segurança e confiança às pessoas e, em segundo lugar orientar as empresas para um modelo positivo de “ir a jogo”, sem o ónus do emprego e com o acesso a um crédito ajustável que só custa o que custa.

Olho para as diferenças e percebo que provavelmente continuamos a ter Centeno a mais no Governo, com resquícios de preocupações que até Bruxelas já deixou cair. Precisamos mesmo do tal choque positivo na economia e nas empresas, de quem as oriente para jogarem o jogo da crise, para permanecerem saudáveis e num estado vivo de prontidão quando tudo aliviar.

Não será preciso que “Chamem a Policia” como na saudosa canção dos Trabalhadores do Comércio, mas será certamente preciso que chamem, com a urgência toda, o senhor ministro da Economia.