Voltámos a ter cinco escolas de gestão nacionais no Top das Escolas Europeias do Financial Times. Desse ponto de vista, e do ponto de vista das escolas, estamos todos de parabéns. Parabéns à NovaSBE, parabéns à Católica Lisbon, parabéns ao ISEG, parabéns à FEP-PBS e parabéns a nós próprios, ISCTE-IUL.
Para nós, inclusive, este foi o ano de regresso ao pódio e àquilo a que habituamos os nossos stakeholders. Parabéns por termos conseguido subir 23 posições e posicionado no TOP 50 como há alguns anos não posicionávamos.
Porém, e uma análise atenta de todas as escolas, programas e rankings do passado e de mais este levanta algumas questões a que devemos estar atentos. Muito atentos.
Somos um país pequeno e vulnerável. Somos um país de baixos recursos. Somos um país que, apesar de estarmos de certa forma na moda – por uma série de circunstâncias como o clima, a segurança, o cosmopolitismo, o custo de vida, a alimentação, uma certa neutralidade política (sobretudo porque riscamos pouco ou nada) –, deveria saber que, depois destas conquistas, conseguidas com o suor e o esforço brutal de alguns, a defesa de posições, a capacidade que temos para perpetuar no tempo estas conquistas, para nos afirmarmos definitivamente no panorama do ensino superior de gestão no mundo a partir de Portugal é coisa complexa. Um pequeno espirro aqui dentro ou do outro lado do mundo e sofreremos com isso.
O que quero dizer com isto é que, por exemplo, o Lisbon MBA é, apesar de todas as diferenças culturais e posicionais entre NovaSBE e Católica Lisbon, uma ideia que funciona. Como as parcerias funcionam para ranking como funcionam para a vida. E sendo este caso único podíamos e devíamos estar a pensar em mais casos de interseção entre escolas de gestão nacionais. E não só. Ficamos muito contentes, legitimamente, quando ficamos à frente do A ou do B. Lançamos foguetes e fazemos a festa. Apanhamos canas. Mas não paramos para pensar no que devemos fazer a seguir. Na visão.
O mundo do Financial Times e dos rankings no geral está mais preocupado com outras questões do que com as 5 escolas portuguesas que estão nos seus rankings de gestão. Um dia teremos um susto, todos, com uma mudança de critérios ou com exigências para as quais não temos recursos. Vivermos centrados no nosso umbigo e no curto prazo das nossas posições e no quão bons somos enquanto gestores é um perigo. Esquecemos, porém, que os critérios estão a ir para caminhos complexos como a exposição a matérias e práticas ESG, à diversidade do corpo docente e de participantes, ao seu caráter internacional, à pegada de carbono e à neutralidade pretendida, e virão tempos e critérios bem mais exigentes em peso e em necessidade de recursos do que aqueles que agora nos são exigidos. Com os quais outros países com muito mais recursos vão conseguir lidar melhor e mais facilmente.
Há uns anos, vários anos, lançamos, ISCTE-IUL, IST e PBS um mestrado conjunto em Logística. Aliás o único que funcionou e inaugurou a época das parcerias a três a nível interno. Foi difícil? Foi. Tínhamos posições nem sempre convergentes? Claro que tínhamos. O produto durou 10 anos e formou muitos gestores do setor. Era um produto pioneiro com recursos conjuntos, com lógicas negociadas em conjunto, um produto muito apropriado ao país que somos. Porque acabou? Essencialmente porque a professora que estava no IST, Profª. Isabel Themido, morreu e com ela a grande vontade de levar isto para a frente. O que significa que estas coisas dependem dos protagonistas e das visões dos protagonistas.
Nós somos pequenos, sem recursos, sem grande capacidade de não nos constiparmos perante uma gripezinha vinda do exterior. Deveríamos – meu entendimento e já exposto a outras escolas – estar a trabalhar em produtos conjuntos que nos pudessem defender de espirros, de constipações, de mudanças abruptas de critérios. Queremos? Isso depende, em boa verdade, dos protagonistas das várias escolas e que são igualmente decisores.
Não critico resultados. Não critico a concorrência – que antes de mais nos torna melhores – e tenho por hábito, sempre, dar os parabéns a quem figura nos rankings. Fico genuinamente contente com as posições de todos e do que cada um vai fazendo e conseguindo. Estou, porém, mais preocupado com o futuro do que com o resultado de hoje. Estou mais preocupado com a lógica de complementaridade de Nalebuff & Brandenburger do que apenas com as posições de dominação e concorrencialidade “à la Porter”. Porquê? Porque fazem cada vez mais sentido para o que se aproxima.
Sermos concorrentes e complementares ao mesmo tempo dar-nos-á muito mais força. Somos nós as escolas que mais exportam alunos, sim. Somos nós as escolas a quem os nossos políticos não passam cartão nem tão pouco olham para estes feitos, sim. Mas somos nós, também, as escolas que devem ter a responsabilidade de ver para além do óbvio e de largarem a lógica, apenas, do lançamento dos foguetes e do apanhar das canas. Temos a obrigação de estar imunes ao vai e vem político para nos dedicarmos a soluções estáveis e que nos permitam continuar o nosso caminho. Os resultados, estes resultados, exigem essa responsabilidade.