Sim, “Eu tenho o direito de ser feliz!” Mais, as redes sociais inundam-nos com estas pérolas. Pergunta: Sério? Independentemente do que seja felicidade, a verdade é que para termos esse direito temos de ter uma imensidão de deveres. Deveres para connosco próprios e para com os que nos rodeiam.

O viés de confirmação explica: tendência para buscar, interpretar e corroborar informações de maneira a confirmar as nossas crenças pré-existentes ou hipóteses quando, em paralelo, tendemos a ignorar, desconsiderar ou interpretar de forma menos favorável as informações que contradizem essas crenças.

Quem diz felicidade diz uma série de outros direitos que são muito comummente abordados e reivindicados em redes sociais:

O direito a ter um trabalho condigno.

O direito a ser pago de forma justa.

O direito a que me tratem de forma humana.

O direito a ser vulnerável e a ter segurança psicológica.

E, o cúmulo, o direito a ser feliz!

Acha-se isto mas desconhece-se, ou finge-se que não existe, tudo o resto.

O dever de trabalhar com afinco, lealdade, escrúpulo, seriedade, para a organização onde estou.

O dever de criar riqueza (valor) para a organização para a qual trabalho.

O dever de tratar de forma humana todos os que me rodeiam. Quantas vezes se vê “o ser forte para com os fracos”? Detestável.

O dever de saber ser liderado e de dar espaço à minha liderança para que sinta conforto e segurança psicológica, abertura e à-vontade para comigo para que, sem que faça uso disso, lhe propicie também esse espaço de segurança.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Enfim, o dever de ser feliz dá muito trabalho. É preciso fazer muito por mim e para com os que me rodeiam, tratar bem outros, trabalhar com fair play, conseguir relações estáveis e proveitosas com as pessoas, gerir-me emocionalmente, manter-me psicológica e fisicamente são, alimentar-me como deve ser e dormir, descansar apropriadamente, são apenas partes ínfimas dos deveres que tenho para que possa chegar ao direito de ser feliz. E mesmo assim não é garantido. Nada é garantido.

Porém, mesmo descurando tudo isto, todos os deveres que tenho para comigo e os outros, é frequente ouvir-se e ler-se a afirmação “tenho o direito de ser feliz”. Proposições infantis e inconsequentes que abundam pelas redes sociais.

Não, não tens direito a ser feliz (e, tão pouco, estamos a falar do conceito de felicidade porque isso levar-nos-ia a outro campeonato). A menos que a esse direito corresponda a inúmeros deveres e também a alguma sorte de percurso. Mas sorte que normalmente também dá muito trabalho. E, ainda assim, nada é garantido. Portanto, se queres ser feliz faz-te à estrada. Trabalha para isso. Exerce os teus deveres para que ouses, de alguma forma, teres esse direito.

Nota: Se não quiseres ter muitos likes no que escreves opta por escrever coisas sérias e não dissimuladas. Assume as tuas convicções e não te deixes plagiar pelo facilitismo da opinião simples. Essa coerência é a coerência que deves impor-te a ti mesmo; a da verdade. Este, por exemplo, é um artigo – como vários outros que escrevo – que não terá direito a grandes likes. As pessoas não gostam de ouvir verdades. Lá está, viés confirmatório. Porque daqui não emerge confirmação alguma.