4 de Janeiro. Sim, já sei que os EUA matarem Bin Laden durante a presidência Obama era fazer justiça. E que os mesmos EUA matarem Soleimani durante a presidência Trump é uma catástrofe. Também não me esqueço que Portugal venezueliza: os hospitais não funcionam; os funcionários dos serviços públicos são sovados regularmente pelos protegidos do Estado Social enquanto o Presidente brinca, umas vezes aos banhistas outras às candidaturas. Mas neste momento, e após ter ouvido a reconstituição das respostas dadas por José Sócrates ao juiz Ivo Rosa, não vejo maior mistério na política mundial (e note-se que estou a incluir nessa lista a recente e espectacular fuga do ex-líder da Renault-Nissan do Japão para o Líbano!) que o manto de silêncio que caiu sobre as declarações do antigo primeiro-ministro português.

Não vou discutir se o dinheiro era ou é de Sócrates ou do seu amigo. Para isso estão aí os tribunais. O que me choca é Portugal ter estado nas mãos de tal criatura! Não há ali um vestígio de sentido de responsabilidade! Não há um mínimo de adesão à realidade! Não há uma réstia de bom senso!

Perante a leviandade alarve de tudo aquilo onde estão as declarações dos antigos amigos? Dos fiéis? Dos seguidores? Dos defensores? Dos seus antigos ministros? Do PS?… O caso Sócrates não é apenas um caso de justiça. É em primeiro lugar um caso de impunidade política que só foi possível porque o escrutínio aos políticos é em geral baixo e aos de esquerda baixíssimo: em 2011, apesar da acumulação de casos e mais casos pelo antigo primeiro-ministro, 1 568 168 eleitores deram-lhe o seu voto! E gente tida como séria e sensata apoiou-o. Não acham que devem uma explicação ao país? Uma palavrinha, pelo menos? Uma explicação para o fenómeno? Nada disso aconteceu: lestos e frescos por aí andam.

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