Na minha prática diária, quer seja com pacientes individuais, organizações ou mesmo com colegas de profissão a quem faço supervisão, deparo-me com esta questão: comportamentos aditivos ou comportamentos subtrativos? Comportamentos aditivos ou comportamentos subtrativos para o stress, a ansiedade, a incerteza, o medo, a preocupação, a tristeza, o problema, a indecisão, o desespero, o deserto?
É verdade que a pandemia trouxe novos desafios e novas formas de estar que nos colocam em desconforto. Este desconforto traduz-se concretamente em confusão, raiva, pior humor, irritabilidade, exaustão emocional, tristeza, culpa, comportamentos de evitamento, distanciamento, baixa concentração, pior desempenho. Perante esse desconforto, uns respondem com comportamentos aditivos, outros, porém, com comportamentos subtrativos. Enquanto que os comportamentos aditivos são a resposta compulsiva a uma impulsão, os comportamentos subtrativos são a resposta estratégica a uma reflexão.
Se entre os comportamentos aditivos temos o consumo ou o consumo excessivo de álcool, tabaco, cannabis, ansiolíticos, pornografia, jogo, internet, comida e exercício físico, entre os comportamentos subtrativos podemos ter uma ajuda especializada de um profissional de saúde mental, um retiro espiritual, um balanço em casal ou em família do ano que termina, uma supervisão profissional, umas férias, um hobby, um voluntariado, um desporto, uma participação cívica. Enquanto que o comportamento aditivo promove um processo de exclusão da pessoa do seu ecossistema (família, trabalho, escola, amigos, comunidade, sociedade), o comportamento subtrativo promove um processo de inclusão da pessoa no seu ecossistema.
Ambos, comportamentos aditivos e comportamentos subtrativos são fenómenos complexos e multidimensionais, pois incluem factores genéticos, neurobiológicos, psicológicos e ambientais, mas enquanto que nos comportamentos aditivos há uma associação automática a prazer, nos comportamentos subtrativos surge muitas vezes uma associação espontânea a angústia. Se, por outro lado, compararmos ambos os tipos de comportamento em termos de resultados, enquanto que nos comportamentos aditivos encontramos danos e consequências negativas para o próprio e/ou para terceiros como conflitos, erros, instabilidade, quebras, custos, acidentes, tédio, frustração, separação, perda de liberdade, solidão, discriminação, exclusão, nos comportamentos subtrativos verificamos mais-valias e consequências positivas para o próprio e/ou para terceiros como motivação, compromisso, satisfação, realização, entusiasmo, reconhecimento, desafio, apoio, liberdade interior, segurança, escuta, inclusão.
Muitas vezes perguntam-me porque me especializei, enquanto psicóloga, nestas três áreas: em Psicologia Clínica e da Saúde, em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações, e em Psicogerontologia. A resposta é simples: comportamento subtrativo. Porque, reparem, se por um lado isto advém de escolhas, decisões, caminhos que nestes quase 20 anos de carreira enquanto psicóloga fui tecendo, por outro, a paixão por ajudar a sociedade a investir em comportamentos subtrativos falou mais alto: quer seja uma pessoa indecisa sobre o seu projecto de vida, quer seja um trabalhador com necessidade de melhor gerir o seu tempo e conciliação vida pessoal-vida profissional, quer seja uma pessoa já na sua reforma que pretende colocar a render os seus talentos e potencial nesta sua nova fase de vida.
Por fim, desejo a todos um Santo Natal e um 2022 cheio de comportamentos subtrativos!