Já antes de a pandemia se ter desencadeado no início do corrente ano, a navegação do governo Costa se fazia à vista, sem ponto de mira seguro para lá da sobrevivência parlamentar e da clientelização eleitoral. O fenómeno não é novo no PS, vindo a agravar-se ao longo do tempo até à falência do país devida a Sócrates. Depois do gigantesco aumento da dívida e de alguma austeridade gerida pelo «bloco de direita», o novo líder do PS angariou os votos dos dois partidos de «extrema-esquerda» com cedências financeiras populistas que não permitiram, obviamente, consolidar o crescimento económico mas lhe garantiram uma espécie de maioria…

Para azar do PS e para todos nós, vai para mais de meio-ano de uma pandemia que já infectou em Portugal dezenas de milhar de pessoas e já provocou um número significativo de mortes nas faixas etárias mais velhas, sobretudo tendo em conta o «excesso de mortalidade» associado à pandemia e não contabilizado pela DGS. Durante esta crise inesperada da qual o governo não nos defendeu melhor nem pior do que a maioria dos países (melhor que a Espanha mas pior que a Alemanha), a pandemia entrou de novo em fase de grande actividade, embora com menor letalidade, mas cujo termo não se vislumbra.

No momento, este governo destituído da mínima estratégia mobilizou-se em torno de dois pontos de mira: um é a vacina prometida para breve mas que tarda, como é próprio das vacinas https://elpais.com/ciencia/2020-10-10/en-que-fase-esta-cada-vacuna.html; o outro é o dinheirão oferecido pela UE. A gravidade acumulada por esta dupla espera sem prazo rápido manifesta-se já há meses, não só na elevada quebra sócio-económica mas também no aumento da dívida pública para valores inéditos (260 mil milhões de euros; 132% do PIB).

Entretanto, a espera continua e o governo limita-se a recorrer aos mais díspares incidentes de modo a esconder os negros momentos que estão para vir e durar mas que a generalidade da comunicação social varre para as últimas páginas… De novo, o PS virou-se para a «esquerda» e prometeu-lhe mundos e fundos que muito em breve se transformarão em migalhas perante o buraco que todos os dias se está a abrir debaixo dos nossos pés. Não à toa, o 1.º ministro já anunciou renunciar a um balúrdio ainda maior que a UE emprestaria… mas a juros, continuando assim a aumentar a dimensão gigantesca da dívida externa!

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Daí a necessidade de o PS manter a chamada «extrema-esquerda» amordaçada junto de si, prometendo ao BE a eutanásia, que até pouparia dinheiro ao sistema de saúde, e ao PCP «leis do trabalho» que afastam os patrões de contratar novos empregados ou a quem pagarão o «salário mínimo» em troca de horários mais curtos. Em suma, tudo aquilo de que o país não precisa para tentar evitar que a crise pandémica dê cabo da economia real… Daí, por fim, a necessidade de fazer aprovar um orçamento qualquer para 2021 com tantas «chances» de funcionar como funcionou o «superavit» anunciado na altura com trombetas enquanto o antigo ministro das Finanças subia o escadório do Banco de Portugal…

Se a crise não fosse tão certa como profunda, o eleitorado poderia rir-se destas contorções politiqueiras com que os «media» têm enchido os ecrãs de televisão e a generalidade dos jornais nos últimos seis meses de pandemia e crescente activismo dito de «esquerda». Quem talvez não ache graça é o presidente da República, o qual não hesita em participar activamente nas manigâncias governamentais com receio que as eleições presidenciais venham a revelar-se tão pouco triunfais como as norte-americanas…

Estou a referir-me, com efeito, à última manigância de tipo «socrático» como aquela que o velho «bloco central» acaba de fazer – PS, PR e PSD incluídos – fim de escorraçar o antigo presidente do Tribunal de Contas – um dos poucos órgãos estatais que funcionava com um mínimo de transparência – e substituí-lo por um indivíduo afastado a seu tempo por alegada participação nas trapalhadas habituais entre partidos e alta-finança, como tantas outras que dormitam nas prateleiras do nosso sistema de justiça, apesar de já ter sido corrigido vezes sem conta pelo Tribunal de Justiça Europeu!

A pergunta que legitimamente nos fazemos é esta: em que crêem o PS, a «frente popular» e o velho «bloco central», Presidente da República incluído, ao agitarem-se de incidente em incidente, verdadeiro ou alegado, até um incidente final… como a falta de pagamento da dívida ou a abstenção maciça às eleições presidenciais? Um tal incidente pode não tardar muito e resultar numa espécie de vazio político perante a falência sócio-económica… Na realidade, a falta de visão e de coragem política do PS conseguiu destruir o antigo sistema partidário a fim de navegar à bolina entre mentiras e abusos de poder!