Notoriamente, desde que obteve uma falsa «maioria absoluta» com pouco mais de 40% dos votantes sem falar da abstenção, António Costa não só perdeu o controle dos últimos acontecimentos – guerra na Europa, desvalorização da grande maioria dos bens e, finalmente, a ameaça de ruptura da banca mundial – como tem vindo de mal a pior sem qualquer esperança de alteração a curto ou sequer a médio ou mesmo a longo prazo. Está visto que o dinheiro dado sem troca não medra nem ao fim de quase 40 anos da UE!
Os próprios biliões de euros distribuídos sem contrapartida nem garantia pelo Conselho Europeu aos países atrasados, por conseguinte pobres para as suas pretensões, fizeram com que Portugal e os outros retardatários tenham vindo por aí abaixo desde a educação aos transportes, assim como às diferentes actividades profissionais a respeito das quais o governo tão depressa geme a com a falta de habitação como da falta de mão-de-obra ou vice-versa. Restam-lhe, mesquinhamente, os euros provenientes do resto da Europa para comprar os ingredientes indispensáveis à nossa vida!
Assim sendo, como demonstram caricaturalmente os azares sucessivos da Marinha portuguesa ao tirar o pé às pretensões eleitorais do seu comandante máximo, podemos crer que as eleições para o Parlamento Europeu, que terão lugar daqui a ano e meio, já poderão então reflectir algumas das questões que se levantaram desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, reforçando a «europeização» dos antigos países de Leste ao contrário das posições defensivas e retardatárias dos países da Europa do Sul como Portugal. Tudo leva a crer, pois, que o «centro» da UE se moverá cada vez mais para Norte e para Leste, alguns países dos quais já ultrapassaram o grau de inserção política e do crescimento económico de países do Sul como Portugal.
Tal movimento geográfico tenderá, entre outras vertentes, a consolidar o liberalismo sócio-económico emergente na dezena de países pertencentes ao antigo «bloco comunista», os quais possuem uma elevada formação escolar e profissional, ao contrário do proteccionismo externo e interno bem como dos corporativismos ainda reinantes nos países do Sul.
No presente momento, em que a camada mandatária do PS está, como aliás sempre esteve, completamente alheio à movimentação dos grupos profissionais desde o sumiço dos antigos líderes socialistas e à sua promoção aos altos cargos do aparelho estatal, o PS tornou-se o falhado gestor dos ministérios. Hoje, este faz permanentemente frente às multidões de professores das escolas e dos liceus, assim como enfrenta os sindicatos da velha CGTP, desde os ferroviários de superfície e do metropolitano aos transportes marítimos.
No plano da saúde, a despesa não cessa de aumentar, crescendo mais de 50% nos últimos 10 anos e havendo o SNS sido ultrapassado pelo «privado». As provas da falta de planeamento e da própria arbitrariedade do primeiro-ministro e da sua «troupe» de colaboradores empenhados em desbaratar o dinheiro dos contribuintes repetem-se quase dia-a-dia, ora comprando e ora vendendo de novo o monstro sugador da TAP em nome do turismo como duvidosa fonte da economia nacional…
Paradoxalmente ou não, na sequência das repetidas mudanças de ministros e secretários de Estado, sobrou da crise da TAP um improvisado ministério da Habitação consagrado, entre outras ameaças felizmente sem viabilidade nem perigo, a manter à distância os mesmos turistas que haveriam de sustentar a economia nacional… Em suma, cada dia que passa nova «ideia» substitui a da véspera: desta vez foi a oferta do imposto do IVA aos frequentadores dos supermercados dando assim ideia de ter abandonado a anterior «ideia da habitação»!
A tudo isso acresce o pior, isto é, a falta de oposição partidária com peso contra a nova vaga de «socratismo» em que nos encontramos presentemente: ainda me recordo do aumento de 2,9% com que o dito dirigente socialista presenteou os funcionários públicos na véspera da enorme crise do século XXI! Ora, no momento actual em que reina já uma quebra bancária de peso, não é só o titubeante poder socialista que está em risco mas sim algo de bem pior: a conjuntura de guerra da Rússia contra a Ucrânia!
Ora, lamentavelmente, apesar de as novas sondagens portuguesas darem ideia que António Costa poderia perder a «maioria absoluta», um candidato ao poder como o PSD liderado por Luís Montenegro não só não propõe uma ideia de jeito como se limita a balbuciar uns vagos protestos sem seguimento político nem consequências eleitorais previsíveis. É, pois, necessário não esquecer que, em 2011, Sócrates foi obrigado a aceitar o empréstimo internacional para evitar a falência do país, tendo Pedro Passos Coelho que aceder ao poder com a obrigação de fazer as reformas impostas pela «troika». Hoje, com a dívida herdada de José Sócrates e de António Costa, venha quem vier ao poder terá de fazer muito mais do que Luís Montenegro fez até agora.