Destrói-se o princípio natural da autoridade e colapsa inexoravelmente todo o edifício social.

Desagregam-se as famílias, perdendo o seu papel educativo dos novos e protector dos velhos. Os filhos tornam-se alheios, presas fáceis de culturas deletérias da auto-satisfação. E os avós, já inúteis, morrem esquecidos em lares e hospitais ou em apartamentos na Brandoa. Quebra-se o cimento entre as gerações, que liga o passado ao futuro.

Desacreditam-se as grandes instituições da fábrica social: a Igreja, com o seu magistério espiritual e moral; as forças armadas, última ratio da segurança e defesa colectiva; a magistratura, garante dos direitos particulares e da paz social; a escola e a universidade, depositárias da cultura acumulada e agentes de saberes transformadores; a empresa, unidade fundamental da vida económica assente na disciplina da colaboração dos factores de produção, o capital e o trabalho; e as elites, supostamente exemplares na dedicação ao bem comum e inspiradoras da consciência colectiva, da elevação do gosto e dos comportamentos.

Sucumbe também o Estado, que organiza a Nação histórica, expressão máxima da identidade, da soberania e da liberdade de um povo.

Perde-se até a simples dimensão comunitária da existência, a noção do dever supra-individual, a sensação de perenidade que as instituições transmitem, a consciência do passado e a esperança no futuro.

Sem autoridade genuína e consensualmente reconhecida não há vida ordenada, nem paz social, progresso ou civilização. É o salve-se quem puder, o canibalismo social, o retorno ao Estado de Natureza, à lei da selva.

Depois, sobre os escombros, alguém há-de levantar o redil onde se guarde um gado assustado, manso e utilitário.

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