‘Negócio’ significa etimologicamente ‘negação do ócio’. A verdadeira civilização, porém, floresce com o lazer, que é a ausência ou libertação das actividades economicamente produtivas.

Repare-se como as grandes religiões começaram todas com desocupados, incluindo Jesus Cristo que fugiu em novo da carpintaria do pai.

Também não consta que os filósofos gregos tivessem fundado o pensamento ocidental em horário pós-laboral. O mesmo acontece com a pintura, a música e a boa literatura. Dante nunca frequentou a bolsa de Florença, Camões não perdeu a vista por passar muito tempo ao ecrã analizando cotações, nem Don Quijote (espírito empreendedor, aliás) saiu da sua ‘zona de conforto’ para fundar startups.

É sabido que a melhor arquitectura europeia veio toda encaixotada da indolente Itália, que praticamente se limitou a copiar velhas ideias dos gregos e romanos. E a guerra e a alta política que forjaram os impérios mais gloriosos eram entretenimentos de ociosos já fartos de caçar e matar animais, preferindo desenfastiar-se matando e capturando homens.

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Sem ócio não há verdadeira civilização, que é afinal uma imitação humana do paraíso celestial. Portanto o negócio, ou negação do ócio, é o inferno terreal. E o ídolo do nosso tempo, o negociante, sobretudo o banqueiro, é afinal a própria encarnação de Belzebu.

Felizmente, após duzentos anos de retrocesso civilizacional perpetrado pela Revolução Industrial, a ciência e a tecnologia estão em vias de resgatar a cósmica Lei do Menor Esforço e o correspondente direito à divinal preguiça.

Os avanços tecnológicos permitem diminuir o esforço e o tempo que as pessoas têm dedicado ao trabalho, sem que tal implique uma quebra significativa no nível geral de prosperidade da sociedade e do bem estar comum.

É por isto que países de vistas largas, como a Islândia ou os Emirados Árabes Unidos, adoptaram entretanto a semana de quatro dias de trabalho. Mas o melhor ainda está para vir: o rendimento básico universal ou a atribuição automática e incondicional de um salário suficiente a todos os cidadãos. Ideia que ingressou já no debate político contemporâneo, estando em teste no País de Gales.

Aleluia! Com o regresso à indolência sustentável, os seres humanos poderão retomar o seu verdadeiro destino, trocando a triste viagem de comboio para o escritório e a fábrica por fascinantes viagens para o Infinito ou as regiões do Belo e do Amor. E com passe gratuito.