Que semana atroz. A degolação de um padre católico ontem em França introduziu na Europa aquilo que tem sido uma característica do extremismo islâmicos nos últimos tempos: perseguir os cristãos. Um dos primeiros raptos do ISIS, ainda grupelho desconhecido, foi de um padre jesuíta. Ora, sem surpresa, ontem o atentado de Rouen causou uma reação pavloviana da nossa esquerda jacobina.

Ou falta de reação, em alguns casos, e igualmente sintomática. Por exemplo o primeiro-ministro, que não reagiu mesmo depois de o ISIS reivindicar a bela ação durante uma missa. Um ataque direto à religião maioritária dos seus governados não lhe mereceu comentário oficial. Nem no twitter, onde se embaraça com frequência a propósito de demasiados assuntos: durante a noite do atentado de Nice perorou em francês; disse a correr umas banalidades sobre amor inspiradas em Corín Tellado depois do atentado de Orlando; e – a mais estonteante – escreveu do atentado de Munique que o terror veio ‘do nada’.

(Se faz favor ninguém informe António Costa do avião que explodiu por cima de Lockerbie. Ou que a 11 de setembro de 2001 morreram quase três mil pessoas nas Torres Gémeas. Porque, por um lado, Costa tem todo o ar de ser pessoa para apreciar viver feliz na ignorância. E, por outro, está muito calor, e a notícia assim de chofre do terror islâmico não surgir do nada em 2016, pelo contrário, já matou muitos milhares de pessoas, ainda lhe provocava uma indisposição. O que, em calhando, o poderia levar a tornar-se ainda mais emocionalmente carente do que o habitual, e o senhor já nos envergonha o suficiente em estado normal a pedir ‘palavras de carinho’, em vez de sanções, à instituição hiper-burocrática que é a União Europeia, habituada a que os políticos discutam impostos, fundos e indicadores económicos em vez dos seus devaneios emocionais.)

Já Fernanda Câncio, que funciona como uma espécie de definidora de tendências da esquerda socialista (por quem é absolutamente reverenciada, talvez pela sua destemida defesa das mais absurdas e ruinosas políticas socráticas), reagiu. Dizendo no twitter que uma notícia, dando conta do reconhecimento de que os atacantes de Rouen eram tropa do ISIS, era ‘fazer a propaganda do Daesh’. Como se trata de uma jornalista – pelo que se pode presumir que vê como um bem as populações estarem informadas do que de relevante se passa no país e no mundo – que, tanto quanto sei, não sugeriu a sonegação de informações sobre os atentados de Orlando, Nice, Paris ou Bruxelas, ficamos desconfiados que o desconforto repentino com as notícias da brutalidade do ISIS se deve à qualidade de religioso católico do degolado e não à seita de assassinos islâmicos.

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De facto, em certos meios um padre brutalmente assassinado por islâmicos é algo que mais vale ficar nas gavetas da polícia, não vamos incomodar as pessoas com estes assuntos tão sem importância. Ainda se fosse ao contrário, imaginem lá bem a comoção que seria por toda a comunicação social, os êxtases que teria a fação jacobina de esquerda, se um católico ultra-conservador a assassinasse um clérigo muçulmano numa mesquita europeia. Isso sim, mereceria ser noticiado até à exaustão. Agora apresentar os católicos como vítimas? Era o que faltava. O jornalismo (jacobino) não foi feito para isso.

Na semana passada teci umas considerações sobre os europeus que se tornam cúmplices dos islâmicos violentos ao tão obcecadamente denunciarem quem enumera os perigos para a Europa da imigração muçulmana, ao mesmo tempo que encontram as justificações mais alucinadas para os atos dos terroristas islâmicos e pregam. Esta semana houve acrescentos. Agora, pelos vistos, a culpa dos atentados é das notícias sobre os atentados. Pessoas (por acaso islâmicas) perfeitamente normais, integradas, amigas do seu amigo e amantes de fotografias de gatinhos ouvem na TV que um maluco muçulmano disparou sobre este e aquele. Vai daí, são tomadas – assim com Ben Gazzara num dos meus filmes preferidos, Anatomia de um Crime, de Otto Preminger – por um ‘impulso irresistível’ e quando dão por elas mataram meia dúzia a eito. É uma explicação perfeitamente plausível para o terrorismo islâmico.

Peguemos no degolador de Rouen. Estava referenciado como extremista islâmico perigoso e em prisão domiciliária com pulseira eletrónica. Já tinha tentado juntar-se ao ISIS na Síria. Donde: é evidente que assassinou um senhor de 86 anos por causa das notícias que leu no tablet.

A morte do padre católico também nos lembra que para a esquerda jacobina não interessa se existem tribunais da sharia na grande Londres, dispensando justiça (muita tosse) à margem da lei britânica. O que lhes dá ataques de nervos é, por exemplo, usarem dinheiro dos contribuintes para pagarem um bom projeto educativo que uma ordem religiosa disponibiliza a uma população de miúdos carenciados. Se os islâmicos ajudarem a escaqueirar o que sobra da cultura judaico-cristã (ou greco-cristã, como alguns preferem) – que é a nossa e que não por acaso permitiu a emergência da sociedade mais livre e tolerante de todos os tempos – em boa verdade então são companheiros de armas da esquerda jacobina. Que, de resto, adora abusar da alegada necessidade de não ofender o islão (no seu pedestal) para atacar, até, as celebrações católicas de Páscoa e Natal.

Duas coisas são certas. Uma: para responder ao terrorismo não podemos confiar nos líderes políticos que escancararam as portas aos refugiados (Merkel), ou que diziam que os terroristas viajavam de avião (Guterres). (O bombista do festival de Ansbach foi um migrante que supostamente fugia da guerra). Duas: a falta de garra na oposição às barbaridades islâmicas várias na Europa – por exemplo as burqas, símbolo da mulher-que-vale-menos-que-gado – é filha do desprezo jacobino pela cultura europeia, que inclui a herança cristã.