Oiço usar os pensionistas, em campanha eleitoral, e o termo é usar, como se fossem objetos manipuláveis. Objetos. E manipuláveis. Muitos deles são-no, sim, infelizmente pela perda enorme de capacidades cognitivas e de discernimento. Ou até, mais infelizmente, por falta de literacia sobre o que se lhes propõe e suas consequências. Atiram-se, apenas, propostas para o ar.

Porém, o que os nossos pensionistas precisam não é de serem usados em contendas eleitorais vazias, ocas de sentido, desumanizadas. Os nossos pensionistas, os nossos velhinhos, precisam de ser antes amados.

Tenho um pai de 92 anos super-fragilizado.

Nem sempre a minha relação com ele foi a melhor. Mas, chegado a este momento da vida cabe-me a mim, e só a mim, olhar por ele e esquecer esses desaguisados de percurso que fazem parte da vida. E enterrar o passado, para lembrar as coisas boas, bem como recordar os (poucos) momentos que tive com ele, quando me dava a mão e me levava ao jardim.

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O meu pai, por mais atento que esteja aos telejornais, desconhece as promessas que lhe fazem. Sobre pensões ou aumentos ou o que seja. Ele ouve a parafernália de coisas que lhe entram pela televisão como um velhinho que precisa de entretenimento. Mas é muito mais interessante para o meu pai ver um documentário sobre animais ou um programa sobre música ou o que seja do que debates e promessas intermináveis sobre pensões. Já deixou de os perceber. Já deixou de lhes ligar. Já fechou a sua cabeça a esse tipo de elucubrações intelectuais propagandísticas. Mas, dir-se-ia, estará ele intelectualmente incapaz? Não, o meu pai consegue ainda fazer contas simples de cabeça – nem sempre acerta – e manter algum do espírito construtivo que sempre lhe conheci na sua cabeça de engenheiro.

O que ele quer, hoje, é a serenidade e o amor para o seu final de vida. Está interessado na sua pensão? Nem liga. Sou eu que faço a gestão de tudo e já há uns tempos que delegou em mim essa parte. E, sobretudo, pela sua expressão face a determinadas coisas que vai ouvindo, quer que não o macem com promessas que ouviu a vida toda e para as quais deixou de mostrar qualquer interesse.

Há uma semana voltou do hospital, onde já tinha estado antes, por via de uma pneumonia. Foi mais uma experiência entre o ficar e o partir. Uma experiência dura. Muito dura. E não sei como estará para a próxima semana ou mesmo amanhã. Não sei se o consigo colocar a andar, mesmo pouco, como antes. Não sei como será o resto dos seus dias.

Porém, sei do que precisa.

Precisa da presença e da assiduidade das minhas visitas. Felizmente tenho oportunidade de o poder ter em sua casa, de onde não quis sair depois de a minha mãe partir.

Precisa que fale com ele – embora nunca tenha sido de grandes conversas – perguntando-lhe por aventuras da sua vida, puxando-lhe pela memória, procurando levá-lo de andarilho a dar uns passinhos cá em baixo, na rua.

Preciso de o levar a sentar-se ao sol, descendo o elevador, para o trazer à rua.

Preciso de lhe levar um doce porque continua um grande guloso.

Preciso de lhe dar a mão e de lhe fazer festinhas e chamá-lo de “pai”. E repetir muitas vezes a palavra pai. E encostar a minha cabeça ao seu ombro para que sinta que estou com ele.

Precisa que lhe faça a barba, que mostre interesse por ele, que esteja com ele e a ele dedique tempo.

Enfim, precisa de mim. Precisa de que fale com ele. Mesmo estando ele calado. Precisa que não o abandone, que não o deixe desleixado. Precisa de me ver e sentir que faço parte da sua vida até ao fim. Precisa de dignidade, de toda a dignidade e amor que lhe possa dispensar neste seu final de vida. Precisa de um aumento da sua pensão? Dá sempre jeito, claro. Mas precisa muito mais de amor do que de dinheiro.

Morrer com amor e com carinho é muito mais importante do que receber um aumento do x% na pensão. O resto é conversa fiada, eleitoralista, para pensionista acabadinho de entrar na reforma. Uma palavra de empatia, de amor para com os nossos velhinhos? Que é lá isso? As promessas eleitorais servem apenas para dar dinheiro. Mas nunca para, em palavras simples, enobrecer, elogiar, mimar e estimar quem já muito viveu e muito deu ao seu país.

Ouvi alguma campanha eleitoral dirigir-se aos velhinhos com o carinho que merecem? Com palavras de amor e empatia para com eles? Não.

Quem faz a política do meu pai sou eu. E deixem-se de merdas, todos, porque o que ele precisa mesmo é de amor. O resto é o que se sabe fazer nestas ocasiões: comprar votos. E infelizmente isto é transversal à nossa sociedade e aos vários partidos políticos. Mas, desculpem, o meu pai não está à venda!