Desde 2013 que o país está em recuperação económica. Mais concretamente, desde o final de 2013 que a taxa de desemprego está em queda (sem qualquer alteração na tendência entre 2013 e 2019) e desde o primeiro trimestre de 2014 que o PIB regista um crescimento positivo. Em 2015, os partidos que eram governo à data das eleições ganharam-nas. Em 2019, aconteceu o mesmo. Ocorre que, desta vez, o governo era do Partido Socialista.

Ou seja, ser governo na fase ascendente do ciclo económico continua a ser uma enorme vantagem eleitoral. As pessoas tendem a associar o desempenho económico à prestação do governo vigente. A mesma sorte não teve o Bloco de Esquerda e a CDU, que, no agregado, perderam 175 mil votos, quando o PS ganha 125 mil face a 2015. Apoiar o governo não chega, é preciso fazer parte dele.

Conclui-se que o bom comportamento da economia beneficiou em particular o PS. O problema — crónico, refira-se — é que o nexo de causalidade é unidirecional: é a economia que beneficia o PS e não o PS que beneficia, ou potencia, a economia. E isso acontece porque a esquerda, onde o PS se insere, é muito eficaz a redistribuir o bolo, mas muito incompetente a fazê-lo crescer. As políticas da esquerda parlamentar reduzem o potencial de crescimento de Portugal a umas décimas mais que países como Itália ou Grécia, e muitas décimas abaixo dos nossos competidores directos, como Irlanda, Estónia ou Lituânia. Estamos estagnados há 20 anos.

O problema agrava-se quando a alternativa política capaz de fazer o país crescer, a direita, se encontra em implosão autoinduzida. O CDS está sem líder, a enfrentar uma crise existencial interna. O PSD tem um líder que dedicou demasiado tempo a explicar que o PSD não é de direita, que está menos à esquerda do que António Costa, e muito pouco tempo a fazer oposição à esquerda. A Iniciativa Liberal, recém-chegada ao Parlamento, tem as ideias certas, mas é ainda um partido pequeno com influência limitada. E o Chega ocupa-se com tiradas xenófobas e outras lamentáveis quezílias, como a castração química de pedófilos, pelo que acabará isolado no Parlamento.

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O problema é que nunca foi tão importante como agora ter uma direita aglutinada, focada, com norte, capaz de encontrar na pluralidade e na heterogeneidade das suas várias correntes a convergência para quebrar este fado que atira Portugal para a lista dos mais pobres da Europa, reiteradamente a ser ultrapassado por países que nem há 30 anos eram arrasados pelo socialismo soviético. A direita precisa do contributo de todo o espaço não-socialista. Precisa do vanguardismo económico e político do liberalismo, que percebe que a fonte da prosperidade está na ordem espontânea e na acção dos indivíduos — de todos, seja qual for a cor, a origem, a religião ou a etnia. Precisa da ponderação do conservadorismo para temperar pulsões revolucionárias. Precisa da constante recordatória da democracia-cristã de que à medida que se criam condições para maior prosperidade, existem custos de ajustamento e é necessário apoiar os mais vulneráveis. E precisa de uma visão social-democrata contemporânea, reformista e personalista, que não veja no socialismo o fim último, mas que perceba que o socialismo chegou ao fim e que o caminho para o progresso e prosperidade é outro.

Isto implica um projecto trans-partidário, que agregue todos aqueles que não se reveem neste Portugal pobre e estagnado. E implica também dirigentes partidários, sejam eles quem forem, que aceitem e abracem esta pluralidade, não tentando fazer dos dois principais partidos de direita, o PSD e o CDS, redutos de puritanismo ideológico, onde só entra quem concorda com a visão do líder, ou meras extensões estilísticas do espaço do centro-esquerda, já preenchido pelo PS. Tal estratégia apenas iria ajudar a fragmentar ainda mais a direita, permitindo à esquerda assumir plenamente a sua agenda.

Esta congregação trans-partidária, não obstante as diferenças entre as suas correntes, tem de concordar no fundamental: só com profundas reformas estruturais que potenciem a produtividade e a competitividade é que será possível quebrar o fado da estagnação. Só acabando com as asfixia fiscal que imobiliza empresas e famílias é que será possível gerar mais riqueza que crie mais e melhor emprego, com melhores salários. E mais: terá de convergir numa solução para o estado calamitoso da educação e da saúde, cruciais (em especial a educação) para aumentar o potencial económico de Portugal, o que implicará quebrar o dogma de que serviço público implica prestação pública. E tudo isto requer mitigar, inverter e reverter políticas socialistas. O foco tem de estar aí. Tudo o resto é acessório.