No dia 14 de Novembro comemorou-se o Dia Internacional da Diabetes, uma doença caracterizada pelo aumento da glicemia, o nível de açúcar no sangue, e que afeta mais de 1 milhão de pessoas em Portugal, só na faixa etária entre os 20 e 79 anos. Destes, cerca de metade ainda não estão diagnosticados.

A celebração torna-se ainda mais relevante quando se comemoram agora os 100 anos sobre uma das descobertas mais revolucionárias da medicina, e que verdadeiramente mudou a vida de milhões de pessoas: a insulina.

A insulina é uma hormona que regula o metabolismo dos hidratos de carbono, os açúcares. Na sua ausência, característica na Diabetes tipo 1, o açúcar presente no sangue não passa para as células onde é necessário e onde seria consumido, acabando por se acumular no sangue, com consequências nefastas para a saúde. Na Diabetes tipo 2 a insulina está presente mas, por vários motivos, não é corretamente utilizada pelo organismo.

Foi em 1921 que pela primeira vez se isolou e identificou esta hormona. Inicialmente extraída do pâncreas de cães, foi administrada pela primeira vez em Janeiro de 1922 no Canadá com resultados tão surpreendentes que à época levou a uma procura global e a um Prémio Nobel em 1923. Desde então a insulina evoluiu muito. Extraída primeiro de cães e depois de gado é atualmente obtida sinteticamente, tendo sido criadas insulinas com perfil de atuação mais rápido ou mais lento para que os esquemas terapêuticos possam ser personalizados e o mais fisiológicos possível. Foi esta descoberta, e a sua evolução, que permite que aos dias de hoje uma pessoa mesmo com Diabetes tipo 1 tenha uma esperança média de vida, com qualidade, muito semelhante a uma pessoa sem diabetes.

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A insulina é também parte fundamental no tratamento dos outros tipos de Diabetes. Estando a sua utilização longe de ser um indicador negativo, ou o “ultimo recurso”, pode simplesmente ser a opção mais adequada para a pessoa a tratar ou a melhor forma de atingir o controlo glicémico pretendido.

No entanto, é necessário ao doente tratado com insulina compreender que este é um tratamento dinâmico, diferente do “tome três comprimidos por dia, sempre”. É essencial que ele compreenda a sua doença e o seu corpo, sendo que aqui importa a sua alimentação e a actividade física como factores que podem alterar a dose de insulina a administrar. O doente é o gestor da sua doença.

O inicio do tratamento da doença é portanto uma fase complicada para o doente e/ou para os seus cuidadores. Mas também o pode ser a gestão e manutenção da sua doença se não houver um acompanhamento próximo, integrado por vários profissionais de saúde, para o orientar e esclarecer as suas dúvidas. E é aqui que os farmacêuticos podem ter um papel fundamental.

Os farmacêuticos são tantas vezes o profissional de saúde mais acessível e próximo do utente. É junto dos farmacêuticos que os utentes vão renovar as suas prescrições, estando com os farmacêuticos mais frequentemente do que com os seus médicos e enfermeiros e, como tal, colocando-lhes muitas questões e solicitações.

Os farmacêuticos podem auxiliar o doente tratado com insulina e/ou os seus cuidadores na gestão da doença e da terapêutica, ajudando na interpretação e optimização dos resultados obtidos, bem como na minoração dos efeitos adversos, pelo ajuste das doses administradas. Esta gestão e acompanhamento é tanto mais importante quanto sabemos que a diabetes, como doença crónica, é factor de risco e potencia o aparecimento de outras patologias, resultando na necessidade de terapêuticas complexas, seja por um grande número de fármacos como pelo número de tomas diárias.

Um diabético controlado terá menos problemas de saúde no seu futuro e melhor qualidade de vida, como tal irá gastar menos recursos do sistema de saúde. E estas vantagens serão tanto maiores quanto maior for a integração dos farmacêuticos comunitários com os médicos, enfermeiros e outros profissionais que acompanham o diabético, sendo urgente que se criem os canais e pontes de comunicação entre estas equipas.

É óbvio que os ganhos aqui citados não se restringem à diabetes, sendo por demais evidente os benefícios para utentes com outras patologias. Mas tomemos o exemplo da descoberta e evolução da insulina, e tornemos o sistema de saúde “mais fisiológico”, mais centrado no doente.