A economia é uma ciência. Não sei como é agora, mas paraalguém se licenciar em economia antes de Bolonha era preciso muita matemática. E números não estão sujeitos a opinião, existem por si só. O que as ideologias têm feito é tornar a política económica refém dos seus objetivos e agendas partidárias. A investigação pode tirar diferentes radiografias do mesmo sistema e tentar chegar a diferentes conclusões, de acordo com a perspetiva. Mas as grandezas económicas são absolutas, sendo que o seu relativismo provém de desvios e distorções perfeitamente identificáveis. Há indicadores económicos que ainda são utilizados, como o PIB, que são profundamente anacrónicos e estão ultrapassados há décadas. E há outros indicadores, como o nível de desemprego, que são facilmente adulterados pela administração pública. No entanto, há uma série de variáveis que, no seu conjunto, dão uma ideia muito mais valiosa e completa do grau de desenvolvimento de um país, como o índice de desenvolvimento humano, ou a relação entre valores produtivos, setoriais, locais e sociais, que nos podem dar uma ideia muito realista do nível económico-social, das assimetrias e das carências competitivas. Tudo isto é muito mais útil do que medir a riqueza de um país através da forma como os mais ricos se estão a safar, ou analisar a pobreza de acordo com o salário médio, distorcido pela enorme disparidade de ganhos entre um executivo, dirigente e a força de trabalho da economia.
Se é verdade que, caso não consigamos fazer um correto diagnóstico do paciente, não seremos capazes de o tratar da melhor forma possível, também não é menos real que o seu estado de saúde não irá melhorar com remédios homeopáticos. Tal só será possível através da ciência evoluída e eficiente. O problema da economia portuguesa é que está a ser tratada há demasiado tempo com medicamentos paliativos, em vez de intervenções capazes de curar os seus males e terapias que possam conduzir a um estilo de vida saudável. E neste caso, o primeiro passo seria reduzir a obesidade mórbida do Estado, que o torna um vegetal incapaz de realizar as tarefas mais básicas – não basta alimentá-lo cada vez mais e esperar que se levante miraculosamente do sofá para se dedicar às funções que só um atleta seria capaz de desempenhar.
No nosso país, as alternâncias de poder estão ligadas aos ciclos económicos. Sendo um país extremamente dependente do exterior, crescemos quando a economia mundial está em expansão ou quando recebemos a esmola dos países ricos da Europa. Normalmente é aqui que a esquerda governa, há dinheiro para a administração pública, as câmaras, as empresas municipais, as fundações, as associações, comunicação social e demais amigos. Quando acaba o dinheiro, tem de aparecer a direita para salvar a situação e acertar as contas. Isto criou o mito de que a esquerda é amiga dos trabalhadores e a direita é amiga dos patrões. Nada mais errado. O que acontecece é que a esquerda é a esposa que tira o cartão de crédito da carteira do marido. Este último é a direita que, quando recebe o extrato de conta bancária, tem de arranjar segundo emprego e cortar as despesas lá de casa. Quando as finanças finalmente se equilibram, lá vai a esposa outra vez para o shopping com o cartão de crédito, num ciclo que se repete eternamente.
Sabemos que a grande novidade política dos últimos anos foi o aparecimento de dois partidos populistas: o Chega, populista nos costumes; e a Iniciativa Liberal, populista na economia. Este último apareceu com propostas irrealistas de supressão de receitas do Estado. Porque é que isto não faz sentido? Apesar de ser verdade que o Estado ter de ser mais pequeno e eficiente, não se pode curar um obeso mórbido matando-o à fome. A assimetria social existente em Portugal, assim como os baixos salários, requerem que as políticas sociais não possam abrandar. Pelo contrário, é preciso que aumentem através da reestruturação do Estado e da correta afetação de recursos. Também as ideias liberais de ir buscar o mesmo sistema existente em países muito mais ricos, é como meter gasolina num carro elétrico: não funciona, não faz sentido. Tal como comecei por dizer, a economia é uma ciência e há políticas certas para certos estádios de desenvolvimento. E as medidas necessárias neste momento não passam por socialismos irresponsáveis ou liberalismos populistas. É fundamental fazer crescer o tecido empresarial, muscular a indústria, qualificar os gestores, melhorar os técnicos, valorizar a força de trabalho, aprimorar os serviços e voltar a apostar no setor primário. Ou seja, tirar o cartão de crédito das mãos da esquerda e deixar a direita social tomar as decisões corretas que possam salvar o país do abismo que hoje parece inevitável.