Vivemos hoje um sentimento de urgência como se estivéssemos quase a perder o comboio para uma viagem inadiável. É preciso andar mais rápido que os outros e obter meios de consumo, actividade económica distintiva do valor pessoal. Há uma inegável tendência imediatista ligada à necessidade crescente de recompensa instantânea, princípio do prazer que exige, faça já, compre sem demora, mude de vida se não quiser ficar de fora do mundo produtor de pessoas bem-sucedidas com o esforço de um clique!
Entre o imediato digital e a vida real situa-se o lugar da solidão, um esforço insano em parecer aquilo que se não é, causador de vulnerabilidade face ao stress da desrealização.
A vida centrada no imediatismo, desejo de tudo para ontem, coincide com altas taxas de suicídio em dados estatísticos mundiais publicados pela Organização Mundial de Saúde em 2023 que registam mais de 700 mil suicídios por ano. Este quadro tem subjacente estados prolongados de Ansiedade e Depressão, distúrbios complexos que excedem o diagnóstico, classificação redutora da pessoa na sua forma singular de viver esta realidade emergente e confusa.
Condicionados pela celeridade vivemos com pressa, um desorganizador mental das nossas realizações, depois a ansiedade se não nos paralisar leva ao Improviso, recurso de sobrevivência que ao longo da História tanto têm feito heróis como mártires. A habilidade de improvisar, de transformar fraquezas em forças ou o óbvio em algo refinado, excepcional, não é para todos. A frustração de não ser capaz causa sofrimento a quem não têm recursos psíquicos para enfrentar a hostilidade da competição quotidiana.
Frustrados seguimos o balão de ensaio de improvisações imediatistas no espaço político que testam todos os dias a nossa saúde mental! Composições retóricas e pareceres convenientes, o modus operandi do actor de improviso no Poder a quem cabe essencialmente fazer gestão de incoerências, outrora desprezíveis, hoje talento da encenação.
Ora o Poder parece inspirar-se no ambiente cénico porque à arte tudo é permitido, tudo é interpretação. “Improvisar é alcançar a liberdade… não há certo e errado, não há juízo de valor, muito menos maniqueísmos e dicotomias; o que há é o processo da dualidade, onde figura e fundo coexistem, significando e dependendo um do outro. Improvisar é abrir-se à inspiração e ao acaso…” (Lazzarato 2003, cit. “Liberdade, Acaso e Ironia”, Graça Leão 2014).
Abertos naturalmente ao talento criativo, bem-vindo em qualquer área da vida em sociedade, importa-nos também perceber onde acaba a arte e começa o truque.
Em roda livre a actualidade comporta todos os truques, mas não tolera a ideia de Planeamento, porque as regras são para alterar depois do jogo começar. A impaciência entre desejo e concretização leva-nos a preferir soluções mágicas como resposta ao Imediato que permeia um mundo tomado pela sensação de perda iminente, insuportável vivência do tempo.