No contexto da vigilância dos incêndios rurais, releva-se a importância crescente da utilização dos Sistemas Aéreos não-Tripulados – vulgarmente designados por Drones. Neste texto, abordaremos a forma como as Forças Armadas têm vindo a edificar e a desenvolver esta capacidade conjunta, evidenciando as mais-valias destes meios para as funções de vigilância, dissuasão e combate aos incêndios rurais.

Esta capacidade é constituída, atualmente, por 12 aeronaves operadas por equipas constituídas por elementos dos três ramos das Forças Armadas, que integram a Esquadra Nº 991, sediada na Ota. Com peso máximo à descolagem de cerca de 40 kg e uma autonomia de até 9 horas, estes sistemas foram adquiridos em 2020, tendo sido concebidos e fabricados pela indústria portuguesa, e previamente testados com a colaboração da Força Aérea, nos anos de 2018 e 2019, com o objetivo de analisar as mais-valias da sua utilização em missões de vigilância e combate aos incêndios rurais.

Destaca-se, em particular, a avaliação operacional levada a cabo em 2019, onde foram realizadas cerca de 230 horas de voo, sem qualquer acidente, a partir do aeródromo da Lousã, com resultados considerados promissores, que justificaram a sua aquisição e posterior edificação progressiva da capacidade conjunta, tendo em vista a sua plena operacionalização.

Ainda relacionado com o desenvolvimento desta capacidade, e integrado no processo de Inovação e Transformação das Forças Armadas, tem-se dado particular enfoque à elaboração de conceitos doutrinários de emprego de Drones em cenários mais amplos que o dos incêndios rurais, como, por exemplo, no apoio à busca e salvamento e à vigilância dos espaços marítimos e terrestres, o que permitirá rentabilizar a sua utilização em missões de natureza militar e de apoio a emergências civis.

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No sentido das Forças Armadas retirarem o máximo partido da capacidade que está a ser materializada no domínio dos Drones, e decorrente da elevada complexidade associada ao respetivo processo de edificação, subsistem, ainda, melhorias a implementar, as quais estão, paulatinamente e de forma sustentada, a ocorrer, destacando-se, em particular, a formação, qualificação e treino de mais operadores provenientes dos três Ramos das Forças Armadas, e o desenvolvimento do Projeto “Vista Aérea sobre os Incêndios” (VAI) para apoio à tomada de decisão.

 Relativamente ao emprego de Drones na vigilância de incêndios rurais em 2022, incluindo a monitorização e a deteção de comportamentos não conformes com as regras de prevenção em vigor para a época, as Forças Armadas estão a operar a partir de três localizações distintas, designadamente, Mirandela, Lousã e Beja, tendo já realizado, até ao dia 12 de julho, 68 missões das 97 solicitadas pela Guarda Nacional Republicana a que correspondem 259 horas de voo sobre o território nacional continental, cobrindo uma área total superior a 220.000 km2, equivalente a mais de duas vezes a área total de Portugal Continental. Em conjugação com estas operações aéreas, foram realizadas 272 patrulhas terrestres, envolvendo 3 militares por patrulha, as quais têm o mérito de estabelecer um contato direto com as populações, facto de enorme relevância para a sensibilização da temática relacionada com os incêndios rurais.

Apesar de a missão atribuída às Forças Armadas, no âmbito dos incêndios rurais, estar atualmente mais focada na vigilância, considera-se de particular importância vir a explorar, no futuro, as características ímpares de resolução e alcance dos sensores integrados nos Drones para ações de dissuasão. A este propósito apresenta-se: na Figura 1 uma imagem captada a cerca de 4 km de distância; na Figura 2 a deteção de um incêndio noturno a cerca de 12 km de distância, oferecendo a possibilidade de reconhecer viaturas que circulem nas áreas próximas/circundantes dos incêndios, o que faz prever, a curto prazo – e caso exista interesse por parte das autoridades competentes – que os Drones das Forças Armadas possam vir a ser utilizados, de forma sistemática, em ações de vigilância noturna, maximizando o efeito de dissuasão pretendido.

Fig 1. Vista a cerca de 4 km de distância (fonte: Forças Armadas)

Fig. 2 Deteção noturna de um foco de incêndio a uma distância de cerca de 12 km (fonte: Forças Armadas)

A colaboração com a Proteção Civil na fase do combate aos incêndios rurais é, também, uma das valências dos Drones passível de ser aprofundada. A Figura 3 ilustra um helicóptero de combate aos incêndios a lançar água, bem como as áreas de maior atividade do incêndio, obtidas através do sensor de infravermelhos instalado a bordo do Drone (canto superior esquerdo), informação muito útil para otimizar o esforço dos meios de combate.

Fig. 3. Vigilância e monitorização, em tempo real, da evolução de um incêndio e das respetivas operações de combate (fonte: Força Aérea Portuguesa)

As Forças Armadas prosseguirão a edificação da capacidade de Drones tendo em vista primordialmente, nesta fase, a sua utilização na vigilância dos incêndios rurais em estreita colaboração com as autoridades competentes, podendo promover, no futuro, ações de dissuasão, através da realização, de forma sistemática, de voos noturnos, bem como de apoio ao combate, acrescentando eficácia a esta tipologia de missões de proteção civil, ao serviço de Portugal e dos portugueses.