Nunca percebi o motivo para a psicologia ser considerada um parente pobre no ramo da saúde. Raro é o seguro de saúde que aceita despesas de psicologia nos seus encargos, mas muitos são os seguros que aceitam despesas de psiquiatria. Sim bem sei que são duas especialidades diferentes, mas ambas têm uma palavra a dizer na verdadeira epidemia do século XXI que são as doenças mentais como a ansiedade ou a depressão. Infelizmente, o destrate ao qual a psicologia está sujeita nos seguros também se verifica no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Para os leigos na matéria, convém esclarecer desde logo as grandes diferenças entre psicologia e psiquiatria. Ambas as especialidades podem ajudar com doenças como a ansiedade ou a depressão, no entanto enquanto a psiquiatria promove a cura com recurso a medicação a psicologia promove a cura com ajuda e partilha de ferramentas para o autoconhecimento. Enquanto a psiquiatria implica muitas vezes um longo período de tratamento, com elevada probabilidade de recaída ou viciação em substâncias psicotrópicas, a psicologia promove o autoconhecimento da pessoa, agindo proactivamente e dando ferramentas para que o paciente não seja reincidente. Consoante a gravidade do caso, as especialidades podem até ser complementares, no entanto, muito provavelmente, se tivesse existido um acompanhamento psicológico atempado, a gravidade seria reduzida e as consequências evitadas.
Diria que diferença entre psicologia e a psiquiatria é um pouco como promover o exercício físico ou realizar uma lipoaspiração ou banda gástrica. Ambas as soluções conseguem resultados, no entanto, considero que as primeiras dão maiores garantias de sucesso no futuro enquanto as segundas dão resultados mais imediatos.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, em 2020, mais de 60% da população portuguesa estava em risco de depressão ou ansiedade. Estes valores contrapõem com os cerca de 30% da população em países como a Dinamarca ou a Finlândia. Levanta-se então a questão, se Portugal tem sol, mar, boa comida, temperaturas amenas e pessoas bonitas, por que motivo é que nos sentimos tão ansiosos ou depressivos? A resposta é simples, os países nórdicos não tratam a psicologia como uma ciência do oculto e apoiam e promovem o uso desta terapia.
Financeiramente falando, poucos são os portugueses que conseguem acomodar nos seus rendimentos uma consulta periódica num psicólogo. Por exemplo, uma pessoa que receba o salário mínimo nacional necessita de trabalhar quase dois dias para o conseguir. Poucos, também, são os portugueses que têm seguro que cubra esta especialidade ou que conseguem obter consultas de psicologia no SNS. Não deveria o estado promover a existência de um maior número de consultas de psicologia, seja pela contratação de um maior número de psicólogos para o SNS, seja promovendo e negociando acordos junto das seguradoras, para garantir maior aceitação desta especialidade?
A implementação destas medidas poderá trazer um custo no imediato à despesa do SNS, no entanto, em última análise, é o estado que mais irá beneficiar a médio e longo prazo. A disponibilização de um maior número de consultas à população permite reduzir os apoios estatais em ansiolíticos e antidepressivos, e capacita as pessoas com ferramentas para uma melhor saúde mental, resultando em opções de vida mais saudáveis, redução do absentismo, maior produtividade no trabalho, maior autoestima na sua vida pessoal e consequentemente um melhor ambiente da sociedade!