O que está a acontecer nas relações franco-turcas e alastrou à NATO pode ser uma surpresa para muitos. Mas a Turquia, o país “neutral inteligente ” da Segunda Guerra Mundial, continua ser a maior “ferida” da Aliança, causando terríveis dores de cabeça à sua liderança. Desta vez, de facto, não é a agressão usual de Ancara contra a Grécia, mas contra a França, depois de um incidente no Mediterrâneo Oriental entre navios de guerra dos dois países, com óbvia responsabilidade turca.

O Presidente Trump mostrou, desde o início, que para ele é, hoje, difícil entender o propósito da existência da NATO. De facto, ele está a preparar-se para retirar tropas americanas da Alemanha com a desculpa – convincente – de que alguns países da NATO esperam tudo de Washington e não cumprem as obrigações proporcionais ao orçamento que gastam em defesa. Em 2019, os Estados Unidos acordaram com os seus parceiros da Aliança Atlântica em reduzir a respectiva contribuição para o orçamento da organização. É claro que o presidente Trump não quer subsidiar a prosperidade europeia, pagando com o orçamento dos EUA a parte que caberia aos europeus. O presidente francês Emmanuel Macron já falou da “morte cerebral” da NATO e levantou questões sobre sua relação com a Rússia e a sua relação com a Turquia. E o que está a acontecer na Líbia, com o envolvimento turco, deixa Paris e Atenas irritados.

O debate sobre o novo papel a desempenhar pela NATO começou logo após o final da Guerra Fria. Em dado momento, no entanto, por causa dos novos planos e desenvolvimentos geopolíticos, essa discussão “congelou”. E aconteceu o grande erro na Jugoslávia: em 1999, a NATO bombardeou uma capital cristã da Europa, Belgrado, ajudando a criar um novo Estado nos territórios da Sérvia, o Kosovo. Atualmente, a liderança do Kosovo está a ser investigada pelo Tribunal Penal Internacional em Haia por crimes de guerra terríveis! Qual foi o resultado, então, das operações da NATO, uma vez que o Kosovo não é reconhecido por países da Aliança Atlântica, como Espanha, Roménia, Grécia e Eslováquia?

É claro que a NATO tem de mudar. Não enfrenta a ameaça islâmica, ainda sob a influência do povo do “estado profundo” dos EUA. Está ainda interessada numa lógica reconhecidamente arteriosclerótica na Rússia. E há estados-membros que estão constantemente a tentar envolvê-la num conflito com Moscovo. A Turquia fez isso, assim que abateu um bombardeiro russo em 2015, na fronteira com a Síria, temendo a retaliação de Moscovo, e os estados bálticos fazem-no há algum tempo.

Até agora a NATO reagiu aos problemas com calma. Mas é claro que tem que mudar de orientação. Fluxos de imigração, a situação na Líbia, o comportamento agressivo da Turquia em relação aos seus aliados da NATO, a guerra na Síria, a ameaça que a República Islâmica do Irão representa para o Ocidente e para Israel e a tensão contínua no Médio Oriente, são desafios que a Aliança Atlântica deve enfrentar.

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