Há uma semana um rocket lançado pelo Hezbollah matou 12 crianças israelitas que jogavam à bola. O ataque repôs a pergunta de 7 de Outubro: será o Estado de Israel ainda capaz de proteger o seu povo? É que se não for a sua existência perde, em grande parte, sentido. Há uma semana, o Irão (governado por uma elite de homens que pune mulheres que queiram viver) sentia-se poderoso no Médio Oriente. Até há dias, Nicolás Maduro sentia-se seguro na Venezuela. Tanto o Irão, com os seus satélites Hezbollah e Hamas, como a Venezuela são aliados de Vladimir Putin ao ponto de uma possível visita de Nicolás Maduro à Rússia ter sido referida em Abril.

No entanto, e de forma inesperada, na semana que passou Ismail Haniyeh foi morto em Teerão, no quarto onde o líder político do Hamas dormia com o seu guarda-costas. O ataque não revelou apenas que o Irão é um gigante com pés de barro. Foi muito mais que isso: comprovou que Israel tem capacidade tecnológica para levar a cabo acções deste calibre. E porque não há uma sem duas nem duas sem três, Mohammed Deif, líder militar do Hamas, e Fuad Shukr, líder militar do Hezbollah, foram mortos, respectivamente, nos dias 13 e 30 de Julho. O segundo era procurado desde 1983, mas pisou o risco quando matou 12 crianças que jogavam à bola. O primeiro foi um dos principais responsáveis pelo ataque terrorista de 7 de Outubro.

Entretanto, no outro lado do planeta mas durante a mesma semana, e depois de umas eleições tão fraudulentas que só o PCP não é capaz de o reconhecer, o povo venezuelano saiu à rua para exigir o afastamento de Nicolás Maduro. O sucesso está longe de garantido, mas o regime venezuelano encontra-se isolado e sem muitas saídas. Uma ditadura comunista na América do Sul precisa, para sobreviver, de muito mais do que o mero apoio de autocracias como a Rússia, a China e a Síria. Necessita de uma narrativa que iluda e entusiasme quem lá não vive. Foi isso que segurou o regime cubano depois do colapso da URSS e dos seus aliados europeus. Sem essa utopia, miserável mas que apela à fantasia e ao alheamento da realidade, o actual regime comunista na Venezuela não tem margem de manobra. Ainda pode durar algum tempo, mas o fim está à vista. A passagem da Venezuela do sector russo para o lado do ocidente, para o nosso lado, será um acontecimento de efeitos geoestratégicos consideráveis, nomeadamente ao nível da energia.

Pode perfeitamente acontecer que daqui a uma semana a situação se inverta. Os avanços e recuos são próprios de qualquer conflito. Mas nada apaga o que aconteceu por estes dias: que num curto espaço de tempo, o Irão ficou descredibilizado, o Hamas e o Hezbollah perderam as suas chefias e a Rússia está a caminho de perder uma das suas lanças na América do Sul.

P.S.: Do esmagamento emocional do alemão Lukas Märtens, enquanto escuta o hino do seu país com a medalha de ouro dos 400 metros livres ao peito, à alegria da sul-africana Tatjana Smith dos 100 metros bruços, passando pela serenidade da sueca Sarah Sjöström e a felicidade de Patrícia Sampaio pelo feito de uma vida, até à descontração de Léon Marchand, com o ar de quem passou por ali apenas para que os seus compatriotas lhe cantem a Marselhesa, os Jogos Olímpicos são o lugar da superação humana que nos cabe celebrar. Atletas vitoriosos que trabalharam e sofreram reveses e derrotas, atletas derrotados que semeiam a glória dos próximos jogos. Só por isso estão todos de parabéns.

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