Acontece quando se é jovem aspirar à condição de adulto, pelos ganhos da liberdade de escolha e de acção. Aspira-se a uma espécie de clímax da vida, onde foram depositadas expectativas de realizações.  Vive-se uma ou duas décadas no auge, mas chegada a meia idade, surgem novas interrogações. A crise da meia idade vive-se tal segunda adolescência, com oscilações hormonais e psíquicas que também deixam os adultos a borbulhar por dentro.

A turbulência emocional faz questionar valores, escolhas de vida como a profissão, sítio onde se vive, par amoroso, amigos. Os sustos de saúde, a percepção do envelhecimento que bate à porta, o contacto com as primeiras perdas significativas, despoletam angústias que só se gostaria de fazer ricochete.

Para fazer face às angústias de perda e de morte, pode ocorrer uma tendência em negar as mesmas adoptando comportamentos ditos mais do tipo adolescente, procurando estados esfusiantes por forma a combater uma possível depressão e ansiedade.

Tomar consciência da antecipação do processo de envelhecimento, e o que tal acarreta, é extremamente difícil. A estrutura de apoio é importante na maior ou menor facilidade com que se vive esta (longa) fase.

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Ocorrem alguns momentos charneira durante este ciclo. O confronto com as primeiras rugas  e cabelos brancos antecipa o que aí vem. Uma primeira impressão que não retira o esgar de sorrisos com tal constatação e a vida segue. A instalação da rotina e da “vidinha” é que pode esboçar as primeiras interrogações de onde se está e do que se faz, traçando-se as primeiras retrospectivas. Altura que podem ocorrer mudanças de emprego e divórcios. Dão-se reajustes e a vida continua. Quando se confronta com as perdas dos mais velhos ou se sente a pressão de cuidar desses e dos mais novos, mais árduo começa a ser o desafio de pôr ao serviço o ser adulto, que corre corre sem parar, ensanduichado mas lá vai andando na sua rotina, alternando entre as obrigações e os escapes. Quando o próprio adulto se depara com um problema de saúde seu que tem de se cuidar, o impacto é ainda maior e as angústias que ecoavam em relação a si, de forma indirecta, são agora na primeira pessoa. Mais uma variante  a adensar o medo e a redefinir obrigatoriamente uma rotina com novos hábitos. Revê-se a rede de apoio e filtram-se os amigos verdadeiros. O gatilho de fazer contas à vida precipita-se. As limitações castram o sentimento de poder do “forever young”. Uma terceira fase do ciclo, é a percepção do crescimento dos filhos e a saída desses de casa. Com o ninho vazio, olha-se cada vez  mais trás. Mais do que nunca, as escolhas pessoais são alvo de reflexão. A noção que a velhice aproxima-se provoca fazer balanços aos se’s que podiam ter feito seguir caminhos diferentes e ponderam-se as consequências. Actuam-se eventuais mudanças para ir a tempo antes da curva descendente.

Para prender a juventude, pode querer aproveitar-se a vida ao máximo, vivendo num aqui e agora o presente. Tal o adolescente que também vive assim não pensando no futuro, o adulto da meia idade fá-lo com essa consciência que não há tempo a perder. E, com motivações diferentes do seu filho adolescente, ao lado dele, silenciosamente, também equaciona possíveis mudanças de vida. Ser adulto não retira a vontade de continuar a sonhar, de desejar viver a vida em pleno e com vigor. É de facto mais difícil conciliar pretensões e realizações mas será um exercício contínuo conseguir fazê-lo ao estilo carpe diem. É um desafio carregar a experiência que se acumula com coisas boas e más, integrando tudo com propriedade e discernimento numa existência o melhor possível.

anaeduardoribeiro@sapo.pt