Muita gente ficou intrigada com os resultados do ensino privado no PISA 2018 – que dá um trambolhão tremendo – e tem-se entretido a avançar, ou mesmo inventar, respostas para aquilo que é, de todos os ângulos, um resultado absolutamente anormal e contraditório. Mas, como abaixo se verá, todas essas respostas estão erradas. Isto porque nenhuma consegue explicar como é que, em 3 anos e após 15 anos de avaliações PISA, a composição social das escolas privadas se alterou dramática e bruscamente (empobrecendo) — ainda por cima, quando a economia até está a crescer. Excluídas as várias hipóteses sociais e sistémicas, há uma que se assume como a mais provável: poderá existir um erro metodológico na análise de Portugal no PISA 2018. Vamos por partes.
1: o primeiro facto. Um dos aspectos que se destacou nos dados do PISA 2018 foi a inexistência de diferenças significativas na composição social das escolas públicas e das escolas privadas. Ou seja, os dados revelaram que, contrariamente a dados anteriores, as escolas públicas e as escolas privadas servem uma população muito semelhante – tanto numas como noutras existem alunos socialmente desfavorecidos e alunos socialmente favorecidos em proporção semelhante, mesmo que prevaleça ainda alguma “vantagem social” para as escolas privadas. Numa frase, o perfil social das escolas privadas, tradicionalmente muito mais elevado do que o das escolas públicas, baixou de forma relevante e significativa entre 2015 e 2018, aproximando-se do perfil das escolas públicas. Essa foi uma das notas que destaquei na minha primeira análise aos resultados do PISA 2018, no dia da sua publicação. E os dados são tão elevados como difíceis de contextualizar. Por exemplo, a percentagem de alunos desfavorecidos nas escolas privadas triplicou, entre 2015 e 2018, de 10,8% para 30,3% (mantendo-se inalterada nas escolas públicas). Ou, por exemplo, o Estatuto Económico Social e Cultural dos alunos no privado passou de 0,52 (positivos) para -0,12 (negativos), enquanto nas escolas públicas se manteve inalterado nos -0,44 (negativos).
2: o segundo facto. Na Educação, sabe-se que o perfil socioeconómico dos alunos é o factor mais fiável para prever o seu sucesso escolar. E, em Portugal, sabe-se igualmente que essa correlação entre perfil socioeconómico e desempenhos escolares é particularmente forte. Assim sendo, verificando-se uma diminuição do perfil socioeconómico dos alunos do privado no PISA 2018, não surpreende que os seus resultados também tenham sido inferiores (e de forma muito relevante) aos de avaliações anteriores. Aliás, foi mesmo uma queda com estrondo. Entre o PISA 2015 e o PISA 2018, os alunos do privado perderam (em média) 48 pontos de desempenho, colocando-se numa posição semelhante à dos alunos do ensino público — algo que não só nunca havia acontecido em Portugal como não é normal acontecer em lado nenhum, face às vantagens sociais de quem tem condições para pagar propinas e frequentar o ensino privado. Ou seja, tal como o perfil social se alterou significativamente, os resultados dos alunos do ensino privado também caíram em flecha.
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