Depois de um primeiro assomo de independência, o BE e o PCP, que diziam estar disponíveis para participar numa reunião dos líderes parlamentares a fim de discutir o caso de Tancos, tiveram medo e refugiaram-se junto do PS em silêncio perante a lama que veio ao de cima nos últimos dias da campanha eleitoral. Disponibilizam assim outra vez os seus votos para o PS formar o próximo governo, sem essa mirífica «maioria absoluta» que nunca teve base estatística real. Maior oportunismo das «esquerdas» é difícil, sobretudo depois de António Costa ter declarado que, no caso de lhe faltarem deputados, iria buscá-los ao tal PAN…
Entretanto, aproveitando o «timing», Sócrates despejou petróleo na fogueira em que arde o sector da Justiça em Portugal e denunciou ao seu sucessor como primeiro-ministro mais um alegado «golpe» desse Ministério Público (MP) que o prendeu e mantém sob acusação há mais de cinco anos! Segundo ele, o MP atacou de novo o PS com o caso Tancos para se vingar do apoio do governo à nova PGR… Junto a tantos outros casos antigos e recentes, ficamos inteirados do que se passa entre os lugares do poder político e os da Justiça sob a deliberada cegueira da «geringonça»!
Após décadas de manipulação partidária das leis e de cada um dos ramos corporativos que actuam no terreno minado da Justiça, desde os juízes aos advogados, passando pelos procuradores e os outros agentes judiciais, não é de certeza aqui que mora Montesquieu. A sua famosa ambição de uma desejável «separação de poderes» entre governos, legisladores e tribunais era, naturalmente, mais indicativa do que imperativa. Hoje, ela sofre múltiplos efeitos da evolução societal, desde a ciência e tecnologia à economia, que se revelaram perniciosos para qualquer «separação de poderes» efectiva, devido à juridificação generalizada da vida pública e privada.
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