No próximo dia 20 de dezembro, com as eleições gerais em Espanha, encerra-se o ciclo eleitoral legislativo nos países do Sul da Europa que estiveram sob programas de assistência económica.
Os dados das sondagens deixam perceber que, a exemplo do que se passou em Portugal em 4 de outubro, nenhum partido logrará a maioria absoluta. Aliás, as semelhanças não se ficam por aí, pois, lá como cá, o partido que está no Poder – o PP – continuará a ser o mais votado, apesar de perder um elevado número de deputados.
De acordo com as previsões, a oposição apenas logrará capitalizar parcialmente o descontentamento popular decorrente da aplicação das medidas de austeridade tomadas pelo Governo de Mariano Rajoy.
De facto, depois de uma fase em que o Podemos de Pablo Iglésias parecia em condições de vencer as eleições, os espanhóis despertaram para a realidade face ao exemplo da Grécia onde duas eleições e um referendo fizeram do Syriza o campeão, no plano ideológico, das políticas anti austeridade e o executor dessas mesmas políticas no plano da realidade.
Assim, ainda a fazer fé nas sondagens, o Podemos terá de se contentar com o quarto lugar, atrás do PP, que ficará bem à frente do PSOE, e do Ciudadanos, partido que deixou o berço catalão para se afirmar como um partido de âmbito nacional e se aproxima do peso eleitoral do PSOE. Âmbito que, diga-se, quer manter, uma vez que não confunde autonomia com separação e, como tal, não apoia a independência da Catalunha.
Como o número de deputados eleitos por cada um destes partidos vai obrigar, forçosamente, a acordos ou alianças pós-eleitorais para viabilizar o novo Governo, o PSOE de Pedro Sanchéz alimenta a esperança de imitar a tática – que pouco tem de estratégia – de António Costa.
Afinal, se Costa perdeu as eleições mas conseguiu fazer valer o segundo lugar para assinar «posições conjuntas» com três forças partidárias e chegar a primeiro-ministro, por que razão Sanchéz não pode convencer apenas dois partidos, o Ciudadanos e o Podemos?
Aliás, como o Podemos é uma espécie de irmão gémeo do Bloco de Esquerda, recuperando o exemplo português, a dificuldade só se colocará relativamente ao Ciudadanos.
Face ao exposto, a chave da solução estará nas mãos de Albert Rivera, o líder do movimento cívico outrora catalão. Um partido que já foi colocado à esquerda e à direita, moderadas ou extremistas, do espectro político espanhol, mas que parece pertencer a uma nova família política que incorpora uma praxis que não se revê por inteiro na dicotomia tradicional. Matéria que justifica investigação.
Na sequência das mais recentes eleições autonómicas, nos casos em que a posição do partido foi determinante, Rivera optou por viabilizar acordos de investidura com o vencedor minoritário, ou seja, seguiu a máxima que aponta para que quem ganha deve governar. Por isso, viabilizou a liderança do PSOE na Andaluzia e do PP em Madrid, Rioja, Múrcia e Castela e Leão. Viabilização que não se assumiu como a passagem de um cheque em branco, pois não se tratou de acordos de governação.
Em 20 de dezembro a questão ganhará complexidade. As eleições serão gerais. O Governo é para toda a Espanha. Será que o Ciudadanos manterá o critério anterior ou manifestará abertura para se coligar com o PP? Ou preferirá uma revisitação da solução parlamentar portuguesa?
Essa é a grande dúvida. É nela que radica tanto o receio de Rajoy como a esperança de Sanchéz e, já agora, de Pablo Iglésias.
Como se constata, a proximidade entre Portugal e Espanha não é apenas geográfica.
Professor universitário e politólogo