“Já viste aqueles dois beatos socialistas que publicaram um texto em conjunto no Observador a dizer que um liberal não vota Iniciativa Liberal ?”. Recebi esta mensagem, história verídica, e respondi que não tinha lido, nem tinha intenções de ler. Como liberal na economia e nos costumes, estou mais do que habituado a acusações de neoliberal e fascista vindas da esquerda e acusações de bloquista vindas de certa direita.

Debates académicos à parte, apesar de pessoalmente me identificar como alguém de direita liberal, percebo exatamente o porquê da IL querer fugir destas caixinhas. É que se há a certeza, dentro da IL, que a mesma não é de esquerda, ao ver a beatice estatista e socialista que a maioria da direita portuguesa assume, facilmente se percebe o motivo pelo qual muita gente da IL não quer ser identificada como de direita. Da minha parte, como escreveu há pouco tempo o Alberto Gonçalves também no Observador, “defino-me por não gostar de tudo aquilo o que a esquerda é. Quanto à direita, tem dias. E tem direitas”.

Ao contrário dos dois senhores – até foram precisos dois, imagine-se — que escreveram o artigo não tenho a pouco humilde pretensão de dizer em quem um liberal pode ou não pode votar. Mas posso-vos dizer em que partido um determinado liberal votou. Eu, assumidamente liberal, já votei. Fiz uso do voto antecipado e para tal estive uma hora e meia à espera (a desfrutar do melhor que a ineficiência estatal tem para oferecer). Votei na Iniciativa Liberal (IL), como muitos que já o fizeram, com convicção. Mas poderia ter sido até por exclusão de partes, visto que nos partidos grandes temos por um lado Paulo Rangel, que ao longo dos anos já disse várias vezes que nem ele é liberal nem o PSD é um partido liberal, acompanhado de Rui Rio que ainda recentemente reiterou que o PSD “na sua origem e agora não é um partido liberal”, e por outro lado Nuno Melo que já afirmara que “é preciso não esquecer que não somos liberais, o CDS tem uma matriz democrata-cristã”.

Votei na IL, um partido que recebeu elogios de intelectuais liberais e liberais-conservadores, entre outros, como o Alberto Gonçalves, o João Pereira Coutinho, o André Azevedo Alves, o Rui Albuquerque e, com o seu estilo peculiar, o Vasco Pulido Valente. Tendo em conta os nomes que citei, não seriam certamente dois, alegadamente, beatos socialistas que me fariam mudar o voto. Votei num partido que tem muitos liberais ligados às organizações, redes e blogues liberais que andam há anos e anos a combater o socialismo que impera no país e nos partidos grandes, como o Insurgente e o Blasfémias.

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Votei num partido que recebe ataques de figuras socialistas como a Fernanda Câncio, o Daniel Oliveira, adjuntos de Ministros, entre outros. Desde acusações de fascismo, de neoliberalismo e da IL ser um grupo de órfãos do Passos Coelho até insinuações sobre a origem dos fundos que a IL recebe. Até Pacheco Pereira se quis juntar a esta lista de pessoas que não consegue conceber como é que cidadãos doam dinheiro voluntariamente a um partido para o mesmo defender “Menos Estado e Mais Liberdade”, como a IL faz. É verdade que parece impensável neste país onde todos os partidos vivem à custa de dezenas de milhões de euros dos pagadores de impostos, mas essa é uma vitória que a IL já conseguiu.

Votei num partido que, com o pouco dinheiro que tem recebido de forma voluntária, arriscou na colocação de vários cartazes irreverentes com mensagens disruptivas para combater sobretudo o socialismo. Votei num partido que teve um cartaz temporariamente expropriado de forma ilegal por uma empresa pública. Votei num partido cujo candidato afirma sem medos que “todo o indivíduo tem direito a dirigir a sua própria vida”, quer em termos económicos quer em termos sociais. O Estado deve estar fora do bolso e do quarto dos portugueses. Não importa se é para ter prazeres “tradicionais” ou prazeres “avançados”, não quero o Estado na minha cama a condenar ou a promover qualquer tipo de comportamentos. Votei num partido que segue os ensinamentos do liberal Fernando Pessoa, que quer que o Estado saia o máximo possível da vida privada das pessoas e da economia.

Votei num partido europeísta, que defende os valores europeus, que sabe que, mais do que algum liberalismo económico e disciplina orçamental a que a UE felizmente nos obriga, a UE “é uma influência positiva em domínios nos quais o nosso país tem ainda muito por onde evoluir. É o caso da transparência, da justiça, da exigência cívica, da concorrência, e da cultura do mérito”, como diz o cabeça de lista Ricardo Arroja. Mas votei também porque a Iniciativa Liberal não é cega. A UE não é perfeita, obviamente. A IL é contra a burocracia da União Europeia nalgumas áreas da economia, contra a harmonização fiscal, contra o politicamente correto do policiamento da linguagem (a favor de uma internet livre!) e sobretudo contra o afastamento de uma parte das elites de Bruxelas em relação ao cidadão comum.

Votei num partido que combate os privilégios e que expõe as desigualdades perante a Lei que existem entre funcionários públicos e funcionários privados a nível nacional. Num partido que expõe e combate vícios do sistema como presenças, viagens e votações falsas. Votei num partido que quer um Estado como árbitro, como um regulador que pouco interfere. Não quer um Estado como árbitro e jogador. Votei num partido que não quer que o Estado use dinheiro de impostos para salvar as empresas amigas de políticos do regime.

Votei num partido que defende menos Estado, mas que aceita que o Estado possa financiar algumas funções sociais, sendo depois os privados a prestar o serviço (como acontece em parte com a educação e a saúde em vários países europeus como a Holanda, por exemplo). Votei num partido que defende uma redução drástica da carga fiscal e da despesa pública, com pequenos excedentes orçamentais para ir pagando a dívida pública que os socialistas de rosa e laranja nos deixaram. Votei num partido que pretende que o Estado deixe de ter o peso elevado que tem na economia, começando com reformas adaptadas localmente como as que foram feitas na Irlanda e na Estónia, de que são exemplos a grande descida do IRC ou a eliminação e simplificação de várias legislações que complicavam a vida das empresas.

Vejo o Liberalismo como uma filosofia sobre o Governo e a Iniciativa Liberal como um instrumento para o país seguir o caminho de aproximar o poder dos indivíduos, famílias e comunidades sempre que possível, limitando e diminuindo gradualmente o poder do Estado, para que as pessoas tenham a Liberdade de seguir os seus projetos de vida do modo que quiserem e com quem quiserem com o que é seu, desde que respeitem a liberdade e propriedade dos outros.

Finalmente, votei na Iniciativa Liberal porque é um novo partido que não faz parte do sistema. É uma iniciativa de cidadãos, a maioria sem qualquer experiência política, que tem de trabalhar dez vezes mais sobretudo ao nível das redes sociais por não ter a projeção mediática (em bom português, o colinho da comunicação social) que é dado a outras forças políticas. Votei porque a IL defende o princípio do “Vive e deixa viver”. Votei na IL porque é um partido que de forma criativa combate o socialismo e o estatismo patente de esquerda e de certa direita. A IL é um projeto de longo prazo com uma batalha cultural difícil pela frente, mas que tudo fará para que esta Onda Liberal, sem a licença de ninguém e com a Iniciativa de muitos portugueses, continue a crescer.