Confirmando a tendência de 2019, voltaram a piorar os resultados dos alunos portugueses no Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) , que examina, a cada 4 anos, o desempenho de crianças de vários países a Matemática e Ciência. Depois de terem atingido a melhor classificação em 2015, os nossos jovens retrocederam nas duas avaliações seguintes. A queda desta edição é a maior entre os países europeus.

Porque é que isto acontece? A resposta é tão simples que até os alunos portugueses do 4.º e 8.º ano, com enormes dificuldades em matemática, conseguem entendê-la: em 2015, depois de formar Governo com o apoio do BE e do PCP, o PS acabou com os exames nacionais, tornou o ensino da matemática menos exigente, substituindo as rigorosas metas curriculares por modernas aprendizagens essenciais mais abandalhadas.

As aprendizagens essenciais são um eufemismo burocrático para “não é preciso dar a matéria toda, basta um lamiré e mandar para o recreio”. Já em 2021, o Prof. Jorge Buescu, ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, tinha avisado:  “Na prática, as aprendizagens essenciais é dizer: ´Isto é preciso dar, isto pode dar ou não`. Quer dizer, dar ou não 25% do programa ficava à escolha do professor. Isto é uma coisa com muitos níveis de gravidade. Eu costumava dizer a brincar: ´Então, na primária qual das quatro operações deixa de se dar?`. Isto foi feito sem coerência nenhuma, tirava-se uma coisa daqui, que daí a dois anos ia ser importante, mas ninguém sabia, e isso desarticulou o ensino todo, ficou uma coisa mesmo desengonçada”.

Como se sentirão os professores de matemática, que se fartaram de alertar para o facilitismo em que se estava a tornar o ensino? Muito bem, aposto, uma vez que são cientistas e adoram acertar previsões.

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Em 2015, a propósito dos exames que queria eliminar, Catarina Martins, então coordenadora do Bloco de Esquerda, afirmou que preferia crianças que dessem gargalhadas a crianças cujos conhecimentos fossem testados. Passados quase dez anos, os resultados dos TIMSS provam que é possível conjugar as duas coisas: crianças que, ao serem testadas, riem. Não que se estejam a divertir. Fazem é aquele esgar próprio dos tolinhos, que imita muito bem o sorriso. Normalmente, acompanhado por um fiozinho de baba.

Quando eu entrei no 10.º ano, há 32 anos – ou, para os leitores que tenham frequentado o ensino no tempo da Geringonça, em 1992 – escolhi a área de Humanidades, que não tinha a disciplina de matemática. Na altura, dizia-se de alunos como eu que estávamos a fugir à matemática. Hoje isso já não acontece. O ensino é mais democrático. O que significa que agora é a vez de ser a matemática a fugir dos alunos. E como corre a sacaninha! Vê-se que está leve, só carrega o essencial. São cada vez menos os alunos que a conseguem apanhar.

Há quem não se preocupe com o ensino deficiente da matemática. Dizem que, com as ferramentas tecnológicas acessíveis, já ninguém precisa de saber fazer contas. Não tenho tanta certeza. A maioria dos jovens que hoje anda na escola vai acabar a trabalhar ao balcão de um café, onde é essencial saber fazer trocos.

Importa notar que as alterações nos currículos extravasam o âmbito da matemática e têm impacto noutras disciplinas, como a língua portuguesa. Por exemplo, antigamente a definição de “calculista” era “cínico que se move por interesse próprio, pelo que calcula poder ganhar”. Agora, “calculista” significa “charlatão”, porque quem diz que calcula só pode ser aldrabão. É do conhecimento geral que já ninguém sabe calcular o que quer que seja.

A boa notícia é que estes maus resultados são transversais e afectam tanto os alunos da escola pública como os do ensino privado. Isto é que é inclusão. Os desfavorecidos das escolas secundárias conseguem ser tão burros quanto os privilegiados dos colégios. É o fim da discriminação entre massas e elites. Não é por o papá ter mais dinheiro que a Pureza se pode armar em mais bronca que a Célia.

Finalmente, o Ministério da Educação descobriu como mitigar os efeitos da falta de professores. Para os alunos não serem prejudicados, é simples: se não há matéria para ensinar, é indiferente não haver professor para não a leccionar. O professor falta e as crianças não aprendem a lição do dia, que era nenhuma.  Chama-se a isto o elemento absorvente da multiplicação: como o zero, transforma tudo em nada. É um conhecido conceito matemático. O que significa que só pode ter sido aplicado sem querer.