Começou por ser muito giro, mas agora confesso que estou fartinho. Estou fartinho desta dança parva do “Portugal é racista!”, “Não é nada. Portugal não é racista!”, “É, é. Portugal é extremamente racista!”, “Não é, não. Portugal não é rigorosamente nada racista!”, que o Chega e o Bloco de Esquerda teimam em bailar entre uma manifestação, a respectiva contra-manifestação, ainda outra contra contra-manifestação e a raisparta-manifestação. Estou convencido que esta polémica se resolvia com uma espécie de cimeira política ao mais alto nível. Só que não era bem uma cimeira. Nem era política. Muito menos ao mais alto nível. Mas de resto era muito semelhante. Isto resolvia-se com recurso a uma técnica milenar, aplicada em tantos e tantos lares quando irmãos desavindos bulham por causa de uma qualquer bugiganga: era um bom bofetão em cada um e não se falava mais no assunto.

Eventual Leitor(a) desta Crónica: Portanto, Tiago, quando falas em “bofetão” referes-te a uma clara indicação por parte dos eleitores, em próximas idas às urnas, de quão insatisfeitos estão com a forma como Bloco de Esquerda e Chega exploram politicamente a questão do racismo.

Não, não, caro(a) Eventual Leitor(a) desta Crónica. Refiro-me mesmo a uma boa lambada. Uma valente chapadona. Uma rica galheta. Idealmente, uma rica galheta. Que faz uma quasi-cacofonia muito interessante.

Se bem que, esta semana, merece destaque a manifestação antifascista que aconteceu no domingo, em Lisboa, na qual o Movimento Alternativa Socialista exibiu um cartaz em que se lia “Neo-nazis e extrema-direita fora de Portugal”. Confesso que fiquei comovido por ver que, apesar de tudo o que os separa, e em virtude dos parcos meios de que dispõem, um partido extremista de esquerda como o MAS e os seus congéneres de extrema-direita conseguem pôr de parte as divergências e partilhar meios de propaganda. Sim porque, acabada a manifestação antifascista, o MAS entregou o cartaz à Nova Ordem de Avis — Resistência Nacional, esta colou por cima de “Neo-nazis e extrema-direita” um autocolante com os dizeres “Comunas e extrema-esquerda” e avançou para a sua contra-manifestação fascista. Tivesse o resto da nossa sociedade este sentido de entreajuda e Portugal seria um país tão mais fraterno.

Agora, noto alguma descoordenação no seio do bando de desbravadores do caminho para uma sociedade socialista. É que, enquanto nas manifestações antifascistas reivindicam a saída da extrema-direita de Portugal, em simultâneo preconizam uma cerca sanitária ao Chega. Ora, ainda que não me considere especialista em cercas sanitárias — nem em cercas em geral, na verdade –, mas tendo assistido às semanas de cerca sanitária a Ovar, sei que se trata do tipo de dispositivo que não permite que um indivíduo de lá saia, quanto mais para fora de território nacional. Portanto, decidam-se, ó construtores do comunismo. Não dá é para ter fascistas na eira e neo-nazis no nabal. Acho eu, mas também não percebo muito de lavoura.

A propósito da Covid, e depois da Rússia, agora foi a vez da China revelar que também já tem uma vacina para a doença. Passo. Novamente. Obrigado. E acho que já se vislumbra uma tendência nestes anúncios. Ou muito me engano, ou o próximo país a anunciar ter a vacina para a Covid vai ser um destes três: Coreia do Norte, Venezuela, ou Bielorrúsia. Aqui chegados, parece-me evidente que neste campeonato por uma vacina que realmente funcione, vão ser os chalupas e/ou facínoras uns contra os outros e no fim ganham os Estados Unidos da América.

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