Há muitos anos que sou professora. Ensinar é uma paixão que me enche a alma todos os dias. Na minha vida docente já desenvolvi vários projetos premiados a nível nacional, regional e europeu com centenas de alunos. Desde que trabalho colaborativamente em rede com escolas europeias, a questão da Cidadania Digital tornou-se uma prioridade, em particular o da Cibersegurança dado o risco de cyberbullying e sexting e de todo o tipo de ameaças a que os alunos estão expostos quando navegam na internet, como o roubo de dados, perfis falsos, discurso do ódio online, fake news entre outros, situação que me preocupa imenso.

O primeiro passo que dei foi fazer formação na área da literacia digital para me sentir mais preparada para combater a falta de segurança online e agir preventivamente. Entre muitas formações, destaco dois MOOC promovidos pela DGE, na plataforma Nau: “CiberSegurança nas Escolas” e “Bullying e Ciberbullying: Prevenir & Agir (II)”.

Na minha prática diária, encetei esforços na promoção do uso responsável da internet integrando a Tecnologia de Informação e Comunicação no currículo das disciplinas que leciono e nos projetos que desenvolvo, pois muitos conteúdos podiam ser explorados em contexto educativo e prevenir o surgimento de problemas online. As vulnerabilidades são imensas, pois os alunos têm uma maior tendência para permanecer, interagir e socializar online, cada vez mais cedo, e, por isso, podem ter mais tempo para agredir e/ou ser alvo de ciberbullying.

Um dos sinais de que um aluno pode estar a ser vítima de bullying, ou de ciberbullying, é a diminuição do seu rendimento escolar e a recusa em ir para a escola. A intensa e constante angústia, conduz a uma diminuição ao nível da concentração, motivação e, nalguns casos, vontade de viver.

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Enquanto o bullying presencial ocorre sobretudo num tempo e espaço determinados, por exemplo no recreio da escola, durante a semana, em horário letivo e em presença do agressor, o ciberbullying pode ocorrer a qualquer momento, independentemente do local, e o agressor pode permanecer desconhecido. Ao contrário do que acontece com o bullying, aumenta a sua imprevisibilidade e aumenta, bastante, o estado de medo e de angústia provocados, por exemplo, pelo envio repetido de ameaças, de mensagens altamente intimidatórias e ofensivas ou até mesmo a publicação de fotografias e vídeos de natureza íntima e pessoal. A situação é tão grave, que muitos alunos chegam a pedir a transferência para outra escola devido à exposição que vivenciam, pois uma vez na internet, para sempre na internet.

É muito importante que os alunos conheçam os seus direitos e os seus deveres enquanto cidadãos digitais. Um dos domínios que trabalhamos nas aulas é a nettiquete, ou seja, as regras de conduta online. Os alunos aprendem que a forma como comunicam no mundo virtual, que traz, sempre, consequências e deixa uma pegada digital. Ser cordial, ter uma atitude positiva e responsável são aconselhados na vida online. Outra questão importante está relacionada com a proteção de dados e direitos de autor que são trabalhados pelos alunos, em concreto, através da gamificação como o kahoot ou o Quizizz.

A Literacia para os Media e a Desinformação é tema de conversa nas nossas aulas, pois vivemos rodeados de notícias falsas. Quando vem a propósito, faço a distinção entre aquilo que são factos e notícias falsas, que proliferam muito nas redes sociais e acabam por influenciar e prejudicar muitas pessoas. Abordar este assunto na escola é uma oportunidade de exercer uma cidadania ativa com informação credível e factual com valor e rigor.

Não menos importante é a criação de eventos presenciais e online de sensibilização eSafety, ao longo dos anos letivos, que têm impacto na comunidade escolar e, sobretudo, que conduzem a um comportamento preventivo na vida individual de cada aluno sujeito, diariamente, aos perigos da internet. Há várias iniciativas nacionais e europeias, nas quais a comunidade escolar tem participado e muitas delas promovidas pela Direção Geral da Educação, no âmbito do centro de Sensibilização SeguraNet às quais tenho aderido. Destaco a participação no “Mês Europeu da Cibersegurança” (European Cyber Security Month) com sessões sobre segurança na internet e a criação de um evento eTwinning, comunidade educativa online, o “Dia Escolar da Não Violência e da Paz”, que promove a educação para a paz, com valores como o respeito, a igualdade, a tolerância, a solidariedade, a cooperação e a não violência e o “Dia da Internet Segura” (Safer Internet Day), uma celebração muito relevante a nível internacional, à qual não poderia ficar indiferente. Este ano, devido às contingências provocadas pela Covid-19, construímos aprendizagens através de um debate e de um kahoot com o tema: “Juntos por uma Internet Melhor!”

A minha experiência enquanto professora, que sensibiliza e alerta os alunos para algumas práticas de Cibersegurança fundamentais para mitigar situações mais complicadas, que interferem não só na vida escolar como na vida familiar, mostra-me o caminho, que é potenciado com a adesão dos alunos que tão bem compreendem os perigos a que estão expostos e formas de os evitar.

Não há dúvida que a internet é uma janela para o mundo. Cabe a todos cuidar “da paisagem” que dela se avista. Eu acredito na geração Z, nativos digitais como motor disseminador de boas práticas.

Caderno de Apontamentos é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.