O investimento das empresas é a componente mais volátil das economias. Quando a incerteza se adensa, muitos investimentos são travados. Outros são adiados. O investimento tende a cair mais do que o produto. Por outro lado, recupera mais depressa quando se iniciam os períodos de expansão económica. Em 2022, o consumo e as exportações foram os motores do crescimento económico. O investimento foi uma desilusão. Ainda assim, num período de imensa incerteza, nas projeções para 2023, o Governo parece apostar no investimento.
Para além do estado de ânimo dos empresários em relação à evolução da economia, o investimento depende também das condições económicas e financeiras para levar por diante os planos de crescimento. Em 2023, seja por efeito do agravamento dos juros e das condições de acesso ao crédito, seja pelo aumento dos preços da energia e de outros custos, a situação económica e financeira das empresas poderá não ser a mais robusta. Sem alguma exuberância e sem recursos financeiros, o investimento definha.
Em 2022, espera-se que a taxa de crescimento do PIB real atinja 6,7%, o valor mais elevado desde 1990. Apesar do forte aumento dos preços, o bom desempenho do mercado de trabalho e as poupanças acumuladas em 2020 e 2021 permitiram às famílias aumentar o consumo em cerca de 5%. No entanto, a taxa de poupança das famílias cairá de 9,8% em 2021 para cerca de 5% em 2022, um valor inferior ao de 2019. O aumento das taxas de juro, o clima de incerteza e os riscos inflacionistas deverão levar as famílias a reduzir o consumo e a adiar decisões de consumo de bens duradouros, como é o caso dos automóveis ou outros equipamentos domésticos. Em 2023, o consumo não deverá dar um contributo significativo para o crescimento da economia. O Governo prevê no Orçamento do Estado um aumento do consumo em 0,7% (0,5%, na previsão do Conselho de Finanças Públicas).
As exportações têm sido o outro motor do crescimento em 2022, esperando-se que cresçam cerca de 18%. Foi um ano extraordinário para o turismo, e um bom ano para a exportação de bens. No entanto, com um ambiente recessivo em alguns dos principais parceiros comerciais de Portugal, como a Alemanha ou o Reino Unido, as expectativas para o crescimento das exportações em 2023 são inevitavelmente baixas (3,7% no OE para 2023).
Num contexto de consolidação orçamental, com a previsão da redução do défice público de 1,9% para 0,9%, o Governo espera que o investimento seja um dos motores do crescimento, prevendo que cresça 3,6% em 2023. As empresas portuguesas precisam de aumentar significativamente o investimento para se continuarem a modernizar e poderem enfrentar os grandes desafios da transição climática e energética, e da digitalização. No entanto, há razões para cautela em relação às previsões para a evolução do investimento das empresas.
Durante 2022, o crescimento do investimento foi revisto em baixa. O Governo e o Conselho de Finanças Públicas preveem um crescimento de 2,9%. O Banco de Portugal, no Boletim Económico de outubro, prevê apenas 0,8%. O clima de incerteza e de aumento das taxas de juro provocou uma desaceleração no investimento das empresas e no investimento em habitação. Por outro lado, mantêm-se os atrasos na execução dos fundos do PRR e na conclusão do PT2020. Para além da fraca execução do investimento público, uma das marcas dos Governos de António Costa, há muitos riscos em relação ao investimento privado.
O primeiro resulta do aumento das taxas de juro. O impacto do aumento das taxas Euribor no crédito à habitação e no orçamento das famílias tem sido muito discutido nas últimas semanas. No entanto, o aumento das taxas de juro deverá ter também um forte impacto sobre a situação financeira das empresas, que continuam muito endividadas (114% do PIB em 2021). Por essa via, as empresas ficarão limitadas na sua capacidade de realizar investimento.
Numa economia como a portuguesa, em que as empresas competem essencialmente com base nos preços, torna-se mais difícil repercutir o aumento dos custos da energia e de muitas matérias-primas nos preços finais. As economias de outros países mais desenvolvidos, em que as empresas competem com base na inovação, têm maior capacidade de repercutir o aumento dos custos nos preços finais. No caso da larga maioria das empresas portuguesas, o aumento dos custos energéticos resulta no esmagamento das margens de lucro e na deterioração da sua situação financeira. Este contexto é mais exigente para as empresas com um maior peso dos custos energéticos nos custos totais, nomeadamente na área dos transportes e da indústria. A desaceleração das economias, já observável nos dados e que consta em todas as previsões de agências nacionais e internacionais, tornará ainda mais difícil a repercussão do aumento dos custos nos preços finais e, assim, levará muitas empresas a adiarem a realização de investimentos.
A atual elevada volatilidade nos preços da energia e, assim, a elevada incerteza em relação ao seu impacto na situação económica e financeira das empresas, poderá condicionar as decisões de investimento e levar ao seu adiamento.
Finalmente, a deterioração da situação financeira das empresas, em resultado do aumento das taxas de juro, do aumento dos preços da energia ou da quebra na procura, poderá limitar o acesso a fundos europeus, bem como à sua capacidade de execução de investimentos.
A grande experiência dos gestores portugueses em contexto de crise pode ser uma vantagem para enfrentar a incerteza durante o próximo ano. No entanto, esta é uma crise nova, com múltiplos choques da oferta e da procura. Para mitigar o seu impacto, é fundamental que o sistema financeiro faça uma avaliação rápida das empresas mais expostas aos choques energéticos e nas taxas de juro. E que as políticas direcionadas do Governo consigam fazer chegar os apoios em tempo útil. A capacidade competitiva das empresas portuguesas em relação às suas concorrentes dependerá da sua condição económica e financeira, e dos investimentos que conseguirem realizar no próximo ano.