As épocas de maior crescimento da economia portuguesa coincidiram sempre com períodos de abertura ao exterior. Os Descobrimentos no século XV, a entrada na EFTA em 1960, a adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986, corresponderam a momentos de abertura da economia, de intensificação das relações comerciais com o exterior e de forte crescimento económico.

Foi a adesão à CEE que permitiu derrubar o muro que nos separava de Espanha. Em 1984, o mercado espanhol apenas representava 4% das exportações portuguesas. Aquele muro secular, construído e mantido por gerações, que impedia as relações comerciais com o único país com o qual temos fronteiras terrestres, foi essencial para preservar a soberania de Portugal e impedir a sua absorção por Espanha. Mas ao impedir as relações comerciais entre os dois países, a preservação da soberania teve um enorme custo em termos económicos. Por essa razão, ao longo da nossa história surgiram surtos de iberismo entre aqueles que não acreditavam que Portugal pudesse prosperar sem fazer parte da grande Ibéria. Mesmo um patriota como Joaquim Oliveira Martins cedeu momentaneamente a essa tentação, considerando, com razão, que o desenvolvimento da indústria necessitava de escala. Na perspetiva do grande historiador do século XIX, a junção à Ibéria poderia ser a via para alargar os mercados da indústria que, assim, ganharia a escala necessária para ser competitiva internacionalmente. Felizmente, os nossos governantes, com muitos dos defeitos que a história foi registando, alcançaram o objetivo de preservar a soberania de Portugal. A partir do momento em que integrámos a União Europeia, o risco de assimilação pela Espanha desapareceu e foi possível normalizar as relações comerciais. Assim, em menos de uma década, como preveem as leis do comércio internacional, o país vizinho tornou-se o principal mercado das exportações portuguesas e o principal fornecedor das nossas importações. A eliminação das fronteiras com Espanha e o aprofundamento das relações comerciais, e outras, entre os dois países ibéricos foi provavelmente o resultado mais positivo da integração de Portugal na UE.

Na primeira década da integração europeia o peso do comércio internacional aumentou de forma significativa. Seguiu-se um longo período, de cerca de 15 anos, em que o peso das exportações no PIB se manteve aproximadamente constante em torno dos 30%. Assim, entre 1995 e 2010, as exportações não puxaram pelo crescimento da economia portuguesa. A apreciação da taxa de câmbio, associada ao anúncio da adesão à União Económica e Monetária no início dos anos 90, penalizou as exportações dos bens de baixa tecnologia (têxtil, vestuário e calçado), que tinham um enorme peso nas exportações nacionais. A entrada da China na Organização Mundial de Comércio, em 2001, agravou a situação daqueles sectores. A entrada dos países do Leste Europeu na UE penalizou as exportações de média tecnologia. As baixas taxas de juro, resultantes da entrada na Área do Euro, permitiram o acesso ao crédito, que alimentou o consumo e o investimento até à crise financeira internacional.

Desde 2010, o setor do turismo, que teve o engenho de aproveitar a insegurança no Norte África causada pela Primavera Árabe e por ataques terroristas, quase duplicou o número de dormidas numa década, de 37 para 70 milhões. Mas o crescimento das exportações não se limitou ao setor do turismo. Este, em 2022, representou 18% das exportações totais. De facto, também as exportações de bens cresceram muito acima do PIB na última década. Em 2022, o peso das exportações no PIB ultrapassou os 50%. Manter esta trajetória de crescimento das exportações é essencial para alcançarmos taxas de crescimento do PIB que permitam uma convergência sustentada e rápida com os países mais desenvolvidos da UE. No entanto, para mantermos o forte ritmo de crescimento das exportações temos de procurar outros mercados, fora da UE.

A UE é um espaço económico muito rico, mas que tem vindo a perder importância na economia mundial. Entre 2000 e 2022, o peso da economia da UE na economia mundial caiu de 20% para 15%. Hoje, mais de 50% das exportações portuguesas têm como destino os três mercados mais próximos por via terrestre: Espanha, França e Alemanha. Estes mercados continuarão a ser muito importantes para as exportações portuguesas. No entanto, Espanha, França, e também Itália, estão entre as economias da UE com pior desempenho na última década. É muito difícil crescer com vizinhos que têm um tão fraco desempenho económico. Nas últimas duas décadas, a zona mais dinâmica da UE foi o Centro e o Leste Europeu. Hoje, aquela região está envolta numa grande incerteza. Se tudo correr bem e a Ucrânia expulsar a Rússia do seu território, a reconstrução vai levar a uma enorme concentração de recursos naquela região. Se a guerra se prolongar indefinidamente, aquela região sofrerá com a incerteza e arrastará a UE para um longo período de estagnação. Todos desejamos a primeira situação. No entanto, do ponto de vista da competitividade, nenhuma das situações se adivinha favorável para a economia portuguesa. Assim, a estratégia a seguir é reforçar os laços com outras áreas económicas mais dinâmicas. Depois de quase 40 anos de integração europeia, com a normalização das relações comerciais com Espanha, está na altura de voltarmos a reforçar a nossa posição atlântica. Mais uma vez, o turismo tem estado na linha da frente dessa reorientação, com o mercado americano, que é o mercado mais rentável em termos das estadias turísticas, a ganhar cada vez mais importância.

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