Nem a auditoria ao Novo Banco, nem a cimeira Trump-Kim, nem a situação na Venezuela. O grande assunto de semana foi indiscutivelmente o Festival da Canção. Até a ex-ministra da Cultura Gabriela Canavilhas comentou o concurso ao vivo no Twitter: “Se o Conan Osíris ganhar isto, o Festival da Canção entra novamente na idade das trevas durante muitos anos”, vaticinou esta Zandinga do cançonetismo nacional. Tendo em conta que em 2009 a então ministra da Cultura também terá prognosticado que José Sócrates daria um estupendo primeiro-ministro prevê-se um futuro risonho para o certame musical da RTP.

E bem precisa o canal público de programas de sucesso para concorrer com o que parece ser o novo canal público, a SIC. Desde que a estação começou o novo show matutino já houve mais políticos n’ O Programa da Cristina que no Canal Parlamento. Depois de Marcelo Rebelo de Sousa, Assunção Cristas e Marisa Matias, foi agora a vez de António Costa. O primeiro-ministro pretendia ensinar a fazer cataplana de peixe, mas acabou por dar uma aula de política. Primeiro porque a cataplana é, no fundo, uma geringonça culinária: é uma salganhada de peixes que não têm nada a ver uns com os outros, mas como não havia garoupa suficiente arranjou-se uns mais pequenos para fazer número. Depois porque, ao levar para o programa a mulher, os dois filhos e a nora, António Costa exemplificou na perfeição como funciona o Conselho de Ministros no governo do PS.

Mas divago. Não percamos de vista o tema fundamental da semana. Assim que Conan Osíris ganhou o Festival da Canção, o Comité de Solidariedade com a Palestina, o SOS Racismo e as Panteras Rosa — diz que é a “Frente de Combate à LesBiGayTransFobia”, segundo a Wikipédia — apelaram ao artista para não ir a Israel representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção. Defendem estas organizações que Israel nega os direitos mais básicos aos palestinianos de Gaza e Cisjordânia. Eu também acho que Conan Osíris não deve ir a Israel. Giro, giro, era ir ao Festival da Canção de Gaza. Em vez de cantar a música “Telemóveis” apresentava uma nova versão do tema chamada “Telemóveis Armadilhados para Rebentarem numa Rua de Tel Aviv Repleta de Civis”. E, na plateia, os membros do Comité de Solidariedade com a Palestina, do SOS Racismo e das Panteras Rosa vibrariam com a actuação enquanto desfrutavam da calorosa recepção que tradicionalmente os fundamentalistas islâmicos reservam a indivíduos de raças e credos diferentes, a pessoas com orientações sexuais alternativas e às mulheres em geral. Aliás, só para terem uma ideia, em Gaza o respeito pelos direitos das mulheres faz o juiz Neto de Moura parecer a Isabel Moreira.

Por falar em direitos das mulheres, a Victoria’s Secret está em crise. A marca não descarta, inclusive, a hipótese de acabar com o tradicional desfile dos “anjos”. O meu pensamento está com estas mulheres que atravessam uma fase delicada da sua vida, em que a instabilidade laboral pode levar a perderem o posto de trabalho, com as dificuldades que daí advêm ao nível da sua auto-estima e independência financeira, numa sociedade que continua a colocar inúmeros obstáculos ao percurso profissional das mulheres. Este seria, sem dúvida, o momento certo para as modelos da Victoria’s Secret ouvirem uma palavra de conforto de todas as activistas feministas. Ou uma palavra de conforto, ou o clássico “Tão magras. Estúpidas. Bem feito”.

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