Começo a escrever o presente artigo e apenas no título existem, de imediato, três palavras sublinhadas a vermelho alertando para os erros que o Word encontrou na linguística. O desconhecimento de duas delas, Fidias Panayiotou, é perfeitamente natural,uma vez que nos encontramos perante um nome cipriota. A remanescente – youtuber – desperta para inexistência de um conceito respeitante a esta expressão que vamos, cada vez mais, encarando uma profissão.
O visado descreve-se um “professional mistake maker”, materializando-se tal presságio em demandas como tentar abraçar 100 celebridades, passar uma semana num caixão, e ensinar os seus subscritores a viajar de graça em transportes públicos pagos pelo mundo fora.
Como se tal não fosse carreira bastante, Fidias decidiu adicionar ao seu espólio de feitos a proeza de concorrer ao Parlamento Europeu. Em abril deste ano anunciou a respetiva candidatura, alicerçando-se de forma independente, por intermédio de uma plataforma antipartidária, proclamando como desígnio promover o envolvimento dos jovens na política.
Acontece que, da forma que facilmente se antevê, o youtuber termina por ser eleito. Embora alheio de qualquer experiência política, consubstanciou-se vitorioso nas pretéritas eleições, logrando cerca de um quinto dos votos que se traduzem num surpreendente e consolidado terceiro lugar, reunindo 19,4% dos votos, estabelecendo-se somente atrás do partido de centro direita DISY (25%) e do AKEL (22%), de génese comunista.
Para melhor se entender este fenómeno, é conveniente esclarecer que o país insular possui uma população que ronda o milhão de habitantes, sendo que em 2019 – em idêntico sufrágio europeu – apenas foram às urnas 45% dos inscritos. A presença do youtuber alterou o paradigma da afluência, apresentando-se desta ocasião uma taxa de participação de 59%, aumento este que segundo os analistas políticos cipriotas se deve ao “factor Fidias”.
Estima-se, igualmente, que a adesão dos jovens se revestiu de carácter decisivo para esta eleição, reunindo Panayiotou 40% dos seus votos na faixa etária entre os 18 e 24 anos e 28% do grupo imediatamente supra, que se intervala entre os 25 e 34 anos.
Não crendo estigmatizar o retratado, nem tão pouco desmerecer o ainda parco trabalho do eurodeputado agora eleito a quem se deve conceder o benefício da dúvida, muito distantes e desconcertados dos eleitores têm que se encontrar todos os representantes políticos para que seja possível que alguém sem experiência e baseado, meramente, na reputação de youtuber, consiga num par de meses atingir os resultados que máquinas partidárias e ideológicas não alcançam.
Semelhantemente se ressalva a importância do voto dos mais jovens e a concretização da ideia de que, comparecendo às urnas, podem claramente suscitar uma transformação significativa naquilo que são os bastiões politicamente e partidariamente padronizados.
A eleição de um youtuber ao Parlamento Europeu é uma circunstância inédita não só para o Chipre, como também para os remanescentes países da União Europeia. Contundo, certamente, já se elegeram ao longo dos anos quadros menos capazes.