Os apoiantes da AD já estavam desesperados com a falta de boas notícias. Durante a campanha eleitoral, a AD tem que conseguir três coisas, todas muito importantes, mas todas insuficientes isoladamente. É necessário impedir a reabilitação do PS e do Pedro Nuno Santos, depois do modo como o governo socialista fracassou completamente após dois anos de maioria absoluta. Também é essencial liderar a oposição ao governo. Apesar do que diz André Ventura, não é o Chega, mas sim a AD que é a alternativa ao socialismo.

Aqui, chegamos à tarefa mais importante da AD: mostrar que é uma verdadeira alternativa ao PS. Como se viu com Rui Rio, não basta querer ser uma cópia do PS, mas mais competente. Portugal precisa muito melhor do que o PS, senão não sai deste empobrecimento lento e degradante. A AD precisa de mostrar que tem propostas para fazer muito diferente e melhor. Sobretudo, a AD deve ter um objectivo central: mostrar aos portugueses que tem propostas para o país enriquecer. Os portugueses não estão condenados a empobrecer e viver de um modo remediado e dependentes dos governos. Pelo contrário, podem enriquecer com um governo que lhes dá liberdade e oportunidades para desenvolverem as suas capacidades e ambições. Os jovens portugueses não devem ser forçados a emigrarem para outros países europeus para alcançarem as suas ambições. Devem fazê-lo em Portugal.

Por isso, esta semana foi positiva para a AD. Começou com a apresentação das listas para deputados. Não há listas de deputados perfeitas, nem é possível agradar a todos. Mas a lista da AD é boa e tem gente de qualidade. Antes de mais, há independentes com competência e qualidade, pessoas experientes e mais jovens. Não me recordo a última vez em que uma lista de deputados apresentou quatro cabeças de lista independentes. Além disso, há quadros do PSD e do CDS de muita qualidade.

Depois, o encontro com os economistas, independentes, do PSD e do CDS, também foi uma iniciativa muito positiva. Ouviu-se três ideias que são de louvar. A redução de impostos, sobretudo o IRS para os mais jovens, é absolutamente necessária. Os portugueses merecem a redução da carga fiscal. Depois, a AD foi muito clara em relação ao papel central das empresas no crescimento económico, por isso, quer reduzir o IRC. Devemos assinalar a diferença em relação ao que disse PNS no discurso de encerramento do Congresso do PS. O novo líder socialista quer o Estado a liderar a economia e a decidir em que sectores se deve investir. Fiquei espantado quando vi pessoas de direita elogiarem a proposta de PNS. Eu recordei-me do condicionalismo industrial do Estado Novo e da famosa afirmação de Veiga Simão, “no Estado Novo, eramos socialistas, só não eramos democratas.” O PS quer uma economia comandada pelo governo. A AD quer uma economia liderada pelas empresas e pela sociedade civil. Quando a AD fala de empresas, não pensa nas grandes empresas cotadas em bolsa. Refere-se às pequenas e médias empresas, aos pequenos comerciantes, às start ups, à inovação. A mensagem central é a seguinte: deixem os portugueses criar, inovar e construir. Deixem-nos ser livres para enriquecerem.

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Finalmente, a afirmação de que os sectores privado e social e as PPPs ocupam um lugar decisivo nas políticas de saúde e de educação é igualmente relevante, depois do governo socialista ter degradado a saúde e a educação em Portugal. Os serviços públicos e privados são meios para alcançar o que verdadeiramente interessa: a educação dos alunos e o bem estar dos doentes. São necessárias as melhores soluções para ajudar os portugueses, sem qualquer tipo de preconceitos ideológicos. Estas propostas necessitam de ser explicadas com maior detalhe, mas não me parece que a campanha eleitoral seja o momento adequado para o fazer. A maioria dos eleitores não segue detalhes. O mais importante é a capacidade de executar essas ideias se a AD chegar ao governo, e depois os eleitores farão a sua avaliação nas eleições seguintes. Agora, a AD ficará conhecida por propor mais crescimento económico, menos impostos, uma economia apoiada nas empresas e não no Estado, e a defesa da participação dos sectores públicos e privados nas políticas de saúde e de educação para beneficiar os alunos e os doentes. É um bom ponto de partida para a campanha eleitoral.

Apareceram logo vozes críticas a acusarem a AD de ter abandonado as contas certas (as mesmas vozes que no passado acusaram o PSD e o CDS de só pensarem em contas certas). Gostaria de salientar dois pontos sobre as contas certas. A primeira regressa à herança do governo de Passos Coelho. A propaganda socialista colou a austeridade ao último governo do PSD e do CDS. Mas o restabelecimento da soberania nacional foi apenas um dos grandes méritos desse governo. O outro enorme mérito foi o regresso ao crescimento económico três anos depois da falência nacional, principalmente através do aumento das exportações das empresas portuguesas. O que mostra duas coisas: as contas certas são apenas um meio para chegar ao que interessa, o crescimento económico. O governo de Passos não foi só o governo da austeridade, também foi o governo do crescimento económico. O PSD e o CDS devem ter orgulho nessa herança. Os partidos grandes precisam de ter uma boa história para contar aos eleitores. Partidos sem história são partidos sem identidade.

Em segundo lugar, a União Europeia está a mudar na questão das contas certas. 2024 não é 2011. A França e a Itália lideram o grupo de países que querem mais flexibilidade em relação aos défices públicos. A Alemanha tem um governo diferente e, desde o Covid, adoptou uma política fiscal expansionista através de ajudas de Estado. Hoje, a União Europeia privilegia o regresso ao crescimento económico, num contexto mais difícil por causa da inflação. As contas certas deixaram de ser a prioridade absoluta. Obviamente, que as capitais europeias não defendem políticas despesistas, mas entre uma economia a crescer e a ortodoxia fiscal, preferem a primeira. Um governo da AD deve acompanhar a União Europeia. Portugal tem que travar o caminho do empobrecimento. Os portugueses precisam de voltar a enriquecer. A AD tem que mostrar que isso é possível.