A República do Mali tem sido afetada por uma crise com graves consequências políticas, económicas, sociais e de segurança. Em 2013, para conter tais efeitos, a Organização das Nações Unidas estabeleceu uma operação de apoio à paz, na qual a Força Aérea Portuguesa (FAP) realiza missões de transporte aéreo, evacuações aeromédicas e lançamento aéreo de ajuda humanitária.

A operação de paz, denominada Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para Estabilização do Mali (MINUSMA), foi mandatada para apoiar a restauração da governação democrática e da ordem constitucional no Mali, monitorizar os acordos de cessar-fogo e a reconciliação entre o governo e os grupos armados, bem como promover os direitos humanos, a assistência humanitária e os projetos de estabilização.

A intervenção inicial das Nações Unidas no Mali permitiu que a situação no terreno evoluísse favoravelmente até ao final de 2013. Todavia, a instabilidade e a insegurança intensificaram-se em 2014, em parte pelo recrudescimento dos atentados terroristas, da violência indiscriminada e dos raptos. Estas ações motivaram um significativo número de baixas entre a população e nos militares das Nações Unidas. Para além disso, colocaram em perigo as deslocações por via terrestre e afetaram a distribuição de ajuda humanitária. Nestas circunstâncias, face ao sentimento generalizado de insegurança e ao agravamento das condições humanitárias, foi necessário reforçar o empenhamento de meios aéreos de transporte, essenciais para cumprir o mandato das Nações Unidas.

Foi neste contexto que, em 2014, Portugal passou a atribuir um destacamento aéreo à MINUSMA, por períodos de 3 a 6 meses, nos quais têm sido empenhadas aeronaves de transporte C-130H e C-295M da FAP, que já realizaram quatro missões no Mali.

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Em 1 de setembro de 2014 iniciou-se o primeiro empenhamento na MINUSMA. A complexidade deste teatro de operações, bem como a crescente instabilidade e insegurança, obrigaram à preparação meticulosa da projeção de 47 militares da FAP e de uma aeronave C-130H, da Esquadra 501 “Bisontes”. Durante 3 meses foram realizadas 249 horas de voo, em 42 missões de transporte aéreo de passageiros e carga, incluindo uma evacuação aeromédica. Este empenhamento permitiu operacionalizar, pela primeira vez, uma estrutura de comando e controlo para a adequada articulação do destacamento aéreo com o Estado-Maior-General das Forças Armadas e com a MINUSMA. A força regressou a Portugal no dia 30 de novembro de 2014, com o seu contributo para a estabilização do Mali reconhecido publicamente pelas Nações Unidas.

Em 12 de janeiro de 2015, 41 militares da FAP, 6 do Exército e uma aeronave C-295M, da Esquadra 502 “Elefantes”, integraram o segundo destacamento aéreo nacional atribuído à MINUSMA. Este empenhamento englobou operações aéreas de transporte de passageiros e carga, a partir do aeroporto internacional Modibo Keita, e o lançamento aéreo de ajuda humanitária, realizado com o apoio da Equipa de Abastecimento Aéreo do Exército. Dada a exigência das missões, muitas das quais realizadas em condições climatéricas adversas, em 15 de março de 2015 foi efetuada a rendição do destacamento aéreo, desta vez com o empenhamento de uma aeronave C-130H. Em quatro meses de missão ao serviço das Nações Unidas no Mali, a FAP realizou 299 horas de voo, em 52 missões de transporte de passageiros e carga, incluindo um lançamento aéreo de ajuda humanitária.

C-295M, da Esquadra 502 – “Elefantes” atribuído à MINUSMA, com destino ao Aeroporto Internacional President Modibo Keita-Senou, Bamako, Mali, e C-130H , da Esquadra 501 – “Bisontes” para apoio aéreo logístico necessário a esta missão. Base Aérea n.º 6, Montijo.

Em 2015, a situação securitária no Mali agravou-se novamente, como consequência dos atentados terroristas ocorridos em Bamako, que obrigaram à reavaliação do empenhamento dos meios aéreos de transporte das Nações Unidas, procurando soluções mais robustas para fomentar a segurança e a cooperação neste complexo teatro de operações. Em consequência, as autoridades norueguesas propuseram às Nações Unidas a celebração de um acordo, entre a Bélgica, a Dinamarca, a Suécia e Portugal, para a utilização do campo militar Bifrost, em Bamako, construído pela Noruega em 2013. Com o intuito de prestar apoio aos militares de várias nacionalidades ao serviço da MINUSMA e de criar um centro de operações de aeronaves de transporte, em regime de rotação semestral de destacamentos aéreos, foi obtida a aprovação política dos cinco países para se operar, continuamente, a partir da capital do Mali, assegurando o transporte de passageiros e carga, as evacuações aeromédicas e o lançamento aéreo de ajuda humanitária.

Assim, o terceiro empenhamento da FAP na MINUSMA, que ocorreu de 27 de novembro de 2016 a 26 de maio de 2017, foi já realizado ao abrigo deste novo acordo, ao qual se seguiriam os destacamentos dinamarquês e sueco, garantindo, desta forma, a presença contínua de aeronaves de transporte no Mali. Durante seis meses o destacamento aéreo nacional, composto por 60 militares da FAP, 6 do Exército e uma aeronave C-130H, assumiu, pela primeira vez, o comando do campo Bifrost. O empenhamento nacional englobou a realização de operações aéreas de transporte de passageiros e carga, evacuações aeromédicas e lançamento aéreo de ajuda humanitária, contando, este último, com o apoio da Equipa de Abastecimento Aéreo do Exército. À data de regresso a Portugal tinham sido realizadas 450 horas de voo, em 78 missões, tendo as Nações Unidas realçado o profissionalismo e o desempenho dos militares portugueses.

A 1 de julho de 2020 teve início o empenhamento de um novo destacamento aéreo, a partir do campo Bifrost, desta vez constituído por 63 militares da FAP e uma aeronave de transporte C-295M. Num ambiente securitário débil, devido a ataques terroristas recentes, foi efetuado o transporte aéreo de passageiros e carga, bem como algumas evacuações aeromédicas. Para isso realizaram 232 horas de voo, em 45 missões, nos seis meses de operação.

Militares da Força Aérea, no Mali, ao serviço da MINUSMA. Campo Bifrost, Bamako, Mali (22NOV2020).

Embora a instabilidade no Mali fosse constante, os militares portugueses permaneceram seguros e focados no cumprimento do mandato da MINUSMA. O seu regresso a Portugal ocorreu no dia 31 de dezembro de 2020, tendo vivenciado um Natal maliano diferente, longe das suas famílias, mas com uma vincada satisfação de missão cumprida. Este sentimento foi reforçado pela visita do Ministro da Defesa Nacional aos militares portugueses destacados em África, na qual expressou o amplo reconhecimento do país e da comunidade internacional, pelo trabalho que tem sido desenvolvido pela FAP no Mali.

Em 2021 Portugal honra, uma vez mais, os compromissos assumidos com as Nações Unidas, tendo empenhado no Mali, desde 15 de maio e por um período de 6 meses, uma aeronave de transporte C295M e 65 militares da FAP, para assegurarem o transporte aéreo, as evacuações aeromédicas e o lançamento aéreo de ajuda humanitária.

O contributo para a segurança europeia, através do empenhamento militar em África, constitui uma prioridade da política de defesa nacional. Por isso, a defesa avançada face ao terrorismo, que não respeita fronteiras, beneficia do empenhamento da FAP na MINUSMA, em mais um relevante contributo de Portugal para a estabilização do Mali e da região do Sahel, essencial à segurança da Europa.