Nos últimos dias, Luís Montenegro e a sua equipa governativa têm apresentado várias iniciativas, tais como: medidas de reconciliação com os pensionistas; programa de habitação  “Construir Portugal”, tendo iniciado diálogo com os partidos; acordo alcançado com os professores; propostas na negociação em curso com forças de segurança, profissionais de saúde e justiça, ainda sem a concordância dos sindicatos; nova ponte sobre o Tejo; TGV Lisboa-Madrid; decisão sobre o aeroporto, depois de 5 décadas em banho-maria e ziguezagues na última legislatura entre António Costa e Pedro Nuno Santos; pacote para os jovens.

Independentemente de se concordar mais ou menos com os contornos destas iniciativas, é inegável que a Aliança Democrática começa a mostrar, em termos mediáticos, capacidade de ação. Depois de ver gorada a aprovação de várias das suas intenções — com a rejeição do PS e do Chega, enquanto o PS fazia vingar as suas propostas (estando na mó de cima da perceção política, como abordei no artigo anterior) —, o recém-formado Executivo toma finalmente a dianteira do protagonismo político, o que é necessário para justificar simbolicamente a sua própria existência.

Na atual situação político-partidária, muito fragmentada e pouco linear, o primeiro-ministro, se quer continuar a sê-lo, tem de conseguir ser fazedor (dimensão material) — e passar a imagem de que o é (dimensão simbólica). Se a montra do Executivo fosse apenas a de que está manietado pela coligação negativa e imóvel perante o arrastamento de assuntos por resolver, então seria muito difícil legitimar a sua ontologia (isto é, a natureza da sua própria realidade), resvalando para a inutilidade da sua existência. Ou seja: se a sua visibilidade se prolongasse como estando associada ao impedimento ou incapacidade de trabalhar, este Governo somaria progressivo descrédito na sociedade. Ainda por cima, a AD contou com a confiança de menos de um terço dos portugueses votantes. Assim, ao que parece, o objetivo do PSD/CDS não está a passar apenas pela vitimização para tentar conquistar a empatia dos portugueses, até porque, julgo eu, seria inverosímil que a adesão ao lamento da coligação negativa (e ao queixume do legado do antecessor) se estendesse para lá dos eleitores do centro-direita.

Ainda assim, não é um dado adquirido que este bom momento de forma se mantenha. É que a luta pelo protagonismo político se antevê acesa. Em circunstâncias normais, estaria destinado ao Governo em funções. Mas os tempos são imprevisíveis. O PS tentará repetir aquele seu ritmo de aprovação inicial? O Chega, na sua postura do contra para também entrar no filme, continuará a entregar o protagonismo ao PS?

Os partidos aguardam os resultados das eleições europeias para definirem os seus futuros passos. O que se sabe por agora é que, nas próximas semanas, Montenegro fará mais anúncios: políticas para a saúde e a imigração.

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