Não há soluções fáceis para problemas complexos. No país, o nacional porreirismo foi substituído, faz tempo, pelo nacional achismo. É com base neste princípio fundacional da cultura actual que se têm desdobrado soluções para “resolver” o problema da (falta de) habitação. Assim se fazem ou tentam fazer leis que contam com as pré-existências e com a colaboração, forçada se necessário, dos proprietários e de outras entidades, como as Câmaras Municipais.

É um facto que há carência de habitação para arrendar nos centros urbanos. Ou pelo menos carência de oferta a preços que consigam encontrar a procura. Mas mesmo esta “informação” é curta. Antes de se procurar “soluções” há que entender todas as variáveis do problema.

Os agregados (famílias), segundo a Pordata globalmente decresceram de 2020 para 2021, tendo subido “apenas” nos casais com filhos. De igual modo, a população decresceu globalmente. O número de habitações “clássicas”, olhando também apenas globalmente, supre em quase o dobro o número de famílias.

Então será preciso uma análise mais fina. Não basta construir habitação, é preciso que seja no preço, na tipologia e nos locais que continuam a faltar e que a população precise, não a que pretende. Por norma os nossos anseios superam as nossas necessidades.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O plano inclinado em que de desloca a classe média em Portugal contribuiu para o desaparecimento dos promotores de habitação “corrente”

A perda de população em Portugal tem sido assimétrica. Há uma migração do interior para o litoral, onde também se situam as maiores cidades, como foi explicado no DN por uma geógrafa em 2021. A questão tem sido falada desde há muito,

Essas migrações levam ao abandono também das habitações, mas percebo que seja pouco prático trabalhar em Lisboa e viver em Viana do Alentejo. Se pensarmos a carência de habitação como uma das variáveis dos problemas económicos percebemos que discriminações positivas do interior ajudam na resolução do problema. Apoios a empresas e famílias, redução de impostos, mas também a manutenção do que define a urbe, como escolas, centros de saúde, correios, bancos serão necessários.

Também a necessidade de reduzir a dimensão das habitações, como tenho vindo a defender. Há também a questão da geografia simplificada, na mesma cidade, há zonas para onde as pessoas não querem ir morar. Compete às autarquias resolver esta aversão, intervindo. Lisboa tem bons exemplos de intervenções. Também a sociologia recomenda que se façam prédios pequenos para reduzir a conflitualidade. A economia também, já que são mais baratos.

No fundo há que colocar várias borboletas a bater as asas. Umas provocarão o crescimento da economia no interior, outras melhorarão as acessibilidades, outras promoverão a habitação pública para arrendamento, outras ainda mudarão a forma como construímos e projectamos.