Em Portugal na última semana viveram-se talvez os mais conturbados dias de violência urbana que assisti em vida, conturbados nas ações, conturbados nas palavras, conturbados nos efeitos sobre uma parte significativa da população residente de alguns bairros limítrofes da cidade de Lisboa, mas muito mal compreendidos por grande parte dos protagonistas políticos, comentadores e jornalistas da extrema-esquerda à extrema-direita.
Há falta de Oferta Pública de Habitação, somos o país da Europa com pior resposta nesta área. Os últimos governos, depois do período de Cavaco Silva, simplesmente ignoraram este problema, cabendo a maior responsabilidade ao Partido Socialista.
Recuperar este enorme deficit mesmo com vontade política é muito difícil e demora décadas, tantas como as que passaram sem qualquer resposta dos governos, com clara evidência dos de esquerda (em próxima oportunidade focar-me-ei neste assunto com mais profundidade).
Há muita pobreza na maior parte destes bairros com enorme desemprego, em especial nos mais jovens. Estas populações vivem manifestamente com enormes dificuldades, na sua grande maioria, as que conseguem empregos, são de baixíssimos salários.
Os governos e muitas Câmaras desprezaram a oferta social e de equipamentos nestes bairros, neste contexto terá de se salientar o papel da Câmara de Oeiras que nos últimos trinta anos tem sido uma enorme exceção,
Embora esta população seja já na maioria portuguesa de segunda e terceira geração, o significativo aumento de imigração dos PALOPs e não só, veio aumentar a densidade e a pressão populacional nestas zonas a que se acrescenta nos últimos anos o aumento de habitantes por fogo com os filhos e netos sem respostas alternativas.
O desemprego e o abandono escolar deixam uma grande parte dos jovens destes bairros, sem ocupação útil e terreno fértil para a marginalidade em todas as suas manifestações.
O papel positivo da Igreja e de algumas associações é muito pouco para atenuar o agudizar deste grave problema, que não terá solução fácil nem rápida.
Com tudo isto temos a receita para o que nestas circunstâncias aconteça o mesmo que em todos os países, que sofrem ou já sofreram deste problema, é o crescer da insegurança e da violência e com elas o terreno aberto para todo o género de aproveitamentos políticos, sem que deste aproveitamento surja qualquer remédio ou solução, antes pelo contrário.
Muitos destes jovens organizam-se em gangues quase sempre rivais pela posse de território e são facilmente levados para o tráfego de droga, roubos e outros delitos quase sempre envolvidos em atos de violência.
Estes gangues como em todas idênticas manifestações pelo mundo, são hierarquizados tendo chefes e mentores que são os estrategas das suas atividades ilícitas.
Estas pequenas organizações criminosas não são menos criminosas por serem pequenas, pelo menos ao nível dos territórios que dominam e aproveitam qualquer oportunidade que lhe aparece para aumentar a sua própria capacidade de ação, fazendo mesmo pactos de associação e cooperação, de forma a escalar a sua intervenção criminosa e amedrontar as populações desses bairros e polícia, encontrando na comunicação social e nas redes sociais o eco que lhes dá notoriedade e proveito.
As televisões encontram aqui o leitmotiv para aumentar as suas audiências fomentando permanentemente a polémica e a discussão, quanto mais acesa e diversificada melhor para o canal, rádio ou jornal. É vê-las à disputa em horas nobres da notícia mais dramática e violenta e da discussão mais acesa. Aumentam as audiências e os ganhos em publicidade de que todos se alimentam.
As polícias, em especial a PSP e a GNR, estão num dilema permanente: se atuam de forma soft e simpática na sua abordagem a quem de qualquer forma julgam poder ser agentes de insegurança, para o averiguar terão de os mandar parar e eventualmente revistar, logo o risco de serem agredidos, insultados e chamados de racistas, acabando por ter que fugir ou sujeitar-se a levar um tiro como já aconteceu dezenas de vezes. Se atuam de forma musculada tentado averiguar e prevenir atuais ou futuros crimes, cai o Carmo e a Trindade com todos a reclamarem da sua prepotência e violação de todos os direitos de cidadania.
Acresce que estas as forças policiais são as mais mal pagas e mal equipadas a que se junta a guarda prisional, também ela sujeita a graves riscos. No meio disto o anterior governo de António Costa, sabendo que o erário publico não suportaria aumento igual para as outras forças de segurança aumenta a Polícia Judiciária, de todas a que está sujeita a menores riscos na sua atividade, sabe-se com que intento, criando o perpetuar da injusta desigualdade entre as forças de segurança.
No meio deste caldo de cultura acontece uma desgraça, por razões ainda não totalmente apuradas, é atingido e morto um cidadão numa operação de stop que desobedeceu à ordem de paragem e resistiu à abordagem da polícia, que talvez com algum exagero, nervosismo ou medo terá disparado a sua arma que nunca deveria ser a matar, mas matou um cidadão com ou sem cadastro com ou sem demonstração de agressividade, nunca deveria ser morto.
Os gangues não deixam de perder esta oportunidade para um surto de violência e destruição como nunca se viu, a esquerda extrema e a direita extremada cada um de acordo com o seu interesse fomentam apoiam e participam na exaltação do mal e da virtude, da polícia ou dos desordeiros.
A extrema-direita exalta a polícia estimulando uma resposta a tiro, a extrema esquerda aprova e estimula os atos criminosos, os moradores dos bairros sofrem as consequência do banditismo que lhes queima os caixotes do lixo, incendeia os carros, alicia os seus filhos para o consumo de drogas, para o crime e não raro ataca pessoas, a Comunicação Social no seu todo serve de tapete a este pugilato, cobrando disso os seus proveitos.
O Governo tenta criar soluções embora sabendo que no curto tempo mediático é impossível, pelo menos nos seus principais contornos, tenta acalmar as várias associações dos bairros, sabendo que não terá grande êxito pois a maioria é orientada pelo Bloco de Esquerda que tudo fará para cavalgar esta onda que tanto alimenta a sua narrativa, e que esqueceu nos largos anos que suportou as políticas de António Costa , que muito ajudaram a este estado.
Aguardemos os próximos capítulos, pois esta série apenas está a começar.