O PS já formou governo com o PSD e com o CDS. Em 1978, o II governo constitucional resultou de uma coligação entre o PS e o CDS. Em 1983, o IX governo constitucional, o famoso Bloco Central, adveio de uma coligação entre o PS e o PSD.

Em 2022, num cenário em que nenhuma maioria absoluta é vislumbrável, a grande preocupação é se a IL fará governo com o PS. “E se Costa assediar a IL?” Dizem. Ou “Há demasiadas formas de votar PS nestas eleições”, exclamam.

Haja paciência, meus senhores. Podem ter a certeza de que a IL não fará o que o PSD e o CDS já fizeram. Conhecemos a história. Mas não é essa a razão. É uma questão de princípio. João Cotrim de Figueiredo, presidente da IL, já em diversíssimas ocasiões afirmou clara e inequivocamente que não viabilizará qualquer governo de esquerda, onde, para os mais esquecidos ou distraídos, se insere o PS. Já se esqueceram do conteúdo da moção estratégia global que foi aprovada na VI Convenção da IL? A IL não apoia o PS, nem se coliga com o PS.

Curiosamente, ou não, quem expressa estas opiniões são sociais-democratas e conservadores, que, ao fazê-lo, negligenciam a verdadeira pergunta. Qual é a probabilidade de a história se repetir? Eu penso que é alta, principalmente por parte do PSD.

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A IL é quarenta e dois anos mais nova do que o PSD e o CDS. Só foi constituída em 2017. Contudo, terminados os debates televisivos entre os líderes partidários, parecem-me inegáveis duas observações:

1 Os assuntos que foram discutidos por todos os intervenientes resultam dos temas e das matérias representadas e apresentadas pela Iniciativa Liberal.

Tenha sido pela sua introdução, tenha sido pela sua recuperação, tenha ainda sido pela sua nova abordagem, não há qualquer dúvida de que o léxico político português se alterou por causa da Iniciativa Liberal. Para além disso, também há que referir que as fotocópias que foram frequentemente usadas para confrontar os adversários nos debates, invariavelmente exibiam dados e gráficos do + Liberdade, um instituto criado, entre outros, pelo Carlos Guimarães Pinto, para combater um dos principais flagelos da sociedade portuguesa: a iliteracia económica.

Convém não esquecer que apesar de já não ser possível a nenhum partido político deixar de abordar a estagnação do país, a falta de crescimento económico e a perda de competitividade, há partidos que apenas expressam retoricamente estes temas sem intenção ou vontade de alterar os condicionalismos que impedem o país de crescer.

2 Parece-me ter ficado claro que, independentemente dos resultados, a permanência de António Costa como secretário-geral do PS é fundamental para Rui Rio.

Rui Rio já afirmou que viabilizará um governo socialista sem maioria absoluta. Como tal, o que está em aberto, que gera expectativas e que requer ponderação, é o que se passará após a noite eleitoral. Que significa essa validação? No caso de António Costa ganhar as legislativas sem maioria absoluta e sem a capacidade de reproduzir a geringonça, que fará o PSD de Rui Rio? Irá sustentar um governo socialista no Parlamento? Ou estará disponível para recuperar o bloco central como Vice-primeiro-ministro?

Estas questões devem ser colocadas porque no caso duma vitória do PSD com maioria relativa não é suficiente saber se o PS viabilizará esse governo. Também está em cima da mesa a possibilidade da formação de um novo bloco central, agora liderado pelo PSD. Para isso, é necessário que António Costa não saia da liderança do PS. E é isso que Rio quer saber desesperadamente.

Ora, uma solução governativa entre PSD-IL (e CDS) é preferível a um governo PSD-PS, ou PS-PSD, que origine um novo bloco central. Nada mudará no país com um bloco central. Para que haja mudança, para que haja reformas estruturais, é necessário dar mais força, mais representatividade, mais capacidade política à Iniciativa Liberal. Só com a IL é que é possível promover as mudanças de que Portugal necessita urgentemente. O ímpeto reformista é agora da IL, não do PSD.

A história demonstra que entre o PS e o PSD apenas se verifica um processo de alternância. O que o país precisa de é de alternativa. E essa alternativa só é possível com novas pessoas e novas ideias, ou seja, com a IL

Um voto na IL consolida uma alternativa política credível e potencia a possibilidade de um governo de coligação entre PSD-IL. Um voto no PSD não invalida a possibilidade de o PS se manter no poder através de um novo bloco central.

O apregoar ao voto útil não passa de um apelo a mais do mesmo. É desejável o voto pleno. E o voto pleno é na IL. Um voto na IL não será da esquerda.