Nos Analectos diz-se de Confúcio: “Se o tapete não estivesse direito, não se sentava nele.” 1 Esta passagem, na leitura de Zhu Xi 朱熹 (1130—1200), um dos principais expoentes do neo-Confucionismo, significa a estreita ligação que o Mestre estabelecia entre corpo e mente: o corpo reflete fisicamente o estado da mente, ao mesmo tempo que os gestos, movimentos e posição do corpo, bem como o espaço físico onde está e por onde se desloca, de algum modo formatam a mente. Nada que um praticante de Tai-chi 太極拳, ou outra arte marcial chinesa ou japonesa, não saiba.

Por isso, Confúcio não se sentava num tapete que estivesse torto. O sentar-se num tapete que está direito é uma pequena expressão da ortodoxia2 mental de um junzi3—e o se sentar na posição correta promove o bom balanceamento da mente. De igual modo, quando Confúcio visitava um palácio ducal agachava-se ao passar pelo portão, como se fosse bater com a cabeça ao passar, pois o corpo representa o que nos vai no espírito e até as mais pequenas ações corporais afetam a mente, que é fortalecida no bom pelos gestos corretos. E, pelo mesmo motivo, quando visitava a corte envergava trajos da corte, e quando lá não ia não os usava. E não comia o que era servido em loiça não apropriada ao tipo de comida, e assim por diante.

Pela mesma razão, qualquer defensor da liberdade & dignidade humana não se senta no tapete da iliberal4. A razão? Porque a iliberal está torta no que é mais fundamental. Pode estar direita & ter ideias interessantes, se bem que pouco ambiciosas, no que respeita a reforma do estado administrativo, sns, educação, sistema fiscal, etc. Pode estar correta no diagnóstico das causas da estagnação económica nacional. Mas está torta no que respeita à defesa da vida humana. Que é o mais importante de tudo e é a base de todas as nossas liberdades & garantias. Estando torta neste cantinho, está irremediavelmente toda torta, tornando-se imprestável para proteger a liberdade do individuo contra todas as prepotências estatais.

Infelizmente este não é um problema restrito à iliberal. Não é só na iliberal que um amante da liberdade não se deve sentar: também não deve votar em nenhuma outro agrupamento que defenda a violação de qualquer um dos direitos humanos que servem de base & justificação à liberdade da pessoa humana, entre os quais está o direito à vida e a à sua inviolabilidade. Ou cujos dirigentes tenham defendido, ou os seus deputados votado nas passadas legislaturas, a favor da violação da inviolabilidade da vida humana, seja através da legalização do aborto, da liberalização da cacotanásia, ou do louvor às atividades do Hamas.

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A razão é simples: um voto na iliberal, ou em qualquer agrupamento com ela irmanado no desrespeito ao mais básico dos direitos humanos, é uma ação que não só demonstra uma predisposição, possivelmente inconsciente, para o totalitarismo, que é comum a todos que acham aceitável matar pessoas inocentes & indefesas em algumas circunstâncias, como é um ato que nele fortalece essa predisposição eticamente nociva. Votar iliberal faz-lhe mal à saúde da mente e, consequentemente, diria Zhu Xi, à do corpo.

Então, que tal votar no pan? Nos Analectos também se pode ler: “Se as cavalariças tivessem ardido, quando regressava da corte o Mestre perguntava: ‘Ficou alguma pessoa ferida?’. Nunca perguntava pelos cavalos.” 7

Us avtores não segvew as regras da graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein as du antygu. Escreuew covmv qverew & lhes apetece. #EncuantoNusDeixam

  1. Analectos, 10, 9.
  2. Ortodoxia: posicionamento correto dos ossos no esqueleto e, por analogia, posicionamento correto das ideias na tola. Ao posicionamento correto dos ossos apenas no pé chama-se ortopedia.
  3. Junzi 君子: entidade mitológica chinesa, como o dragão, que designa o Verdadeiro Príncipe, o governante virtuoso & sábio. Segundo Confúcio y seus discípulos, só o governante que internalizou todas as facetas de ren4 e yi5 é junzi, Verdadeiro Príncipe. Os outros são malfeitores & ladrões.
  4. Iliberal: pessoa ou agremiação que que se opõe a um, ou mais do que um, dos objetivos básicos de uma sociedade liberal: “life, liberty and the pursuit of happyness”; il para os amigos: “il est antilibéral / aussi certainement que Bergoglio sera cardinal”, Poèmes Lexicaux Écrits en Français par le Père Mário Centavo, Paris: Larouse, 1936.
  5. Ren : termo classicamente usado no hétero-patriarcado chinês para representar “varonil” e que foi adaptado por Confúcio e seus discípulos para designar humanidade e bondade no comportamento masculino; moralidade, integridade ou a firme disposição de por as necessidades dos outros e da comunidade antes dos próprios, exatamente ao contrário do que fazem & farão os governos do ps/d.
  6. Yi 義: o que é recto, direito e moralmente apropriado, representado literalmente por “um cordeiro em cima de mim”; conceito que significa propriedade e direito na ação, razão pela qual é um vício que nenhum socialasta8, pessoa que pretende a abolição de toda a propriedade e defende que toda a ação governamental deve ser de esquerda, tem.
  7. Analectos, 10,12.
  8. Socialasta: um entusiasta pelo socialismo & totalitarismos afins; pessoa animada pelo puro espírito do materialismo dialético; socialastro9.
  9. Socialastro: pessoa ou organização warxista que é lastro para a sociedade, isto é, cuja concentração excessiva leva qualquer sociedade ao fundo (ver exemplos de Cuba, Tugolândia ou Venezuela)