Estamos cada vez mais conscientes das nossas identidades, características e complexidades. Vivemos mais do que nunca numa sociedade heterogénea, onde a expressão da nossa individualidade ganha cada vez maior significado.
Talvez por isso as questões de identidade assumam um papel dianteiro na discussão pública, onde os vários traços que nos compõem, seja a cor da pele, a religião, a identidade de género, a orientação sexual, etc., passaram a fazer parte de posicionamentos políticos e ideológicos outrora inexistentes.
Tal acontece porque somos cada vez mais conscientes de que as nossas características fazem parte incontornável do nosso ser e bem-estar. Por isso, a luta pela visibilidade e ocupação de espaços públicos foram os primeiros passos dos movimentos de conquista dos direitos sociais de grupos habitualmente oprimidos. Como tudo, no nosso contínuo processo de crescimento, estas características identitárias criam-nos vivências singulares, tornando-nos seres únicos e com uma diversidade de experiências de vidas que nos permitem encontrar diferentes soluções em momentos de adversidade.
Na promoção cívica que melhor conheço, dos Direitos Humanos das pessoas LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo) e na sua conquista de igualdade de oportunidades, apercebo-me de que o que foi fundamental para a evolução legal e política, resultou da representatividade pública nos media, bem como, da conquista de espaços no debate político, tornando a discussão possível. Tal se deve a bravos ativistas que deram a cara, e a quem devemos reconhecer o valor e combatividade. Mas a transformação social de mentalidades também advém dos/as vários anónimos/as que, nas suas vivências e mundos, promoveram a mudança pelo exemplo, a excelência e a normalização de algo que era desconhecido. Na escola, família, amigos, comunidades e locais de trabalho, estas pessoas deram pequenos passos na mudança de mentalidades.
A grandeza de qualquer estrutura, seja formal ou informal, associativa ou empresarial, pública ou privada, advém da diversidade de pensamento e confronto de ideias. Onde, de uma forma honesta e sem medos, podemos ser e dizer o que acreditamos, tendo sempre a disponibilidade para mudar a nossa perceção e criar novos pensamentos.
Falar de diversidade é falar de evolução, de temas que achávamos impensáveis debater há uns anos e que, por vezes, nos fazem sentir desconfortáveis. Falar de inclusão é estar disponível a aceitar pessoas que à partida nos deixam desconfortáveis e/ou com anseios, pois achamos que “eles/as” são antagónicos aos nossos valores e crenças.
Mas é apenas com a junção destes dois fatores, diversidade e inclusão, que é possível impulsionar a inovação, promover a criatividade e orientar estratégias de futuro. Tal como é referido neste relatório da Forbes Insights “Múltiplas vozes levam a novas ideias, novos serviços e novos produtos e incentivam o pensamento fora da caixa. […] uma força de trabalho diversificada a nossa empresa dos concorrentes e ajuda a captar novos clientes.”
Isto é particularmente importante de se fazer no seio do tecido empresarial português como processo de transformação e internacionalização do mesmo, ainda muito marcado por pequenas e médias empresas onde os seus valores organizacionais são traduzidos pelos dos seus donos/patrões. Num momento de total incógnita sobre o futuro, só uma equipa heterogénea é capaz de arranjar soluções ágeis de alteração e adaptação aos novos desafios.
Contudo, tal só é possível com a responsabilidade de cada um. A diversidade, por mais que possa às vezes ajudar, não se impõe por decreto; advém do esforço individual e organizacional em pensarmos sobre o mundo que nos rodeia e o que fazemos para que este se torne mais representativo. Conseguir fazer uma autocrítica construtiva sobre as nossas escolhas e sobre o quão seguros são os nossos locais de convivência (grupo de amigos, família e locais de trabalho) para permitir que as pessoas que nos rodeiam possam ser elas mesmas. Só assim conseguimos criar um ambiente de inclusão e impulsionar o surgimento de inovação dentro da diversidade que nos compõe.
Tudo isto é extremamente difícil de se implementar e promover, pois temos a tendência a confinar-nos a núcleos homogéneos de pensamento. Exemplo disso são as redes sociais e seleção do que queremos ou não ver/ouvir. Inconscientemente, criamos grupos quase clubísticos que exacerbam as nossas crenças e nos impossibilitam o diálogo com quem diverge de nós. A polarização da sociedade cria pequenos mundos, pouco diversos, com tendências autoritárias e destrutivas. Totalmente o oposto ao conceito de diversidade e inclusão, que tem por base a construção de algo e não a sua destruição.
A título de exemplo, quando faço consultoria para empresas que queiram ter produtos ou serviços direcionados para o público LGBTI, a primeira ideia que transmito é a necessidade de esse esforço ser liderado por alguém que compreenda e saiba comunicar com estes consumidores. Não necessita de ser obrigatoriamente alguém LGBTI (mas ajuda), mas ser alguém com total à vontade para abordar a diversidade de temáticas que compõem este segmento trendsetter, e assim permitir tirar vantagens de futuro.
Termino com uma frase que me fez refletir, retirada de um dos vídeos do canal Porta dos Fundos, que, apesar de se referir à temática do racismo, pode ser transportada para uma panóplia de outras questões sobre a diversidade: “O racismo está nos detalhes, na brincadeira e no olhar. Quando você percebe que trabalha num ambiente que não tem nem um preto e não faz nada para mudar isto.”
Diogo Vieira da Silva é Licenciado em Comércio Internacional com Pós-Graduações em Gestão Hoteleira e em Marketing Digital. Desde tenra idade se envolveu na promoção dos Direitos Humanos das pessoas LGBTI tendo ajudado a fundar duas ONG’s nesta área e assumido a Coordenação Europeia do Projeto Norte-Americano It Gets Better Project durante dois anos consecutivo. Atualmente é General Manager Assistant no The Late Birds Lisbon – Gay Urban Resort e Co-Fundador da VARIAÇÕES – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, onde também assume o cargo de Diretor Executivo e a Coordenação da Campanha Proudly Portugal.