O exercício de prever o futuro é sempre algo difícil. Mas analisando o presente, compreendendo as suas tendências sociais e percebendo as transformações comportamentais, conseguimos mais ou menos prever como as atuais e futuras gerações irão abraçar o mundo do trabalho e quais as necessidades que as empresas irão valorizar.

De acordo com a terceira edição do Relatório “Future of Jobs” do Fórum Económico Mundial, que mapeia os empregos e as competências do futuro, metade de nós terá que adaptar e aprender novas competências nos próximos cinco anos, muito graças às transformações tecnológicas, como a automatização que irá pressionar a extinção de vários empregos, nomeadamente operacionais, bem como devido aos impactos económicos da pandemia, que alteraram a nossa relação com o trabalho e o local onde o realizamos.

Apesar de o relatório estimar que, até 2025, 85 milhões de empregos que atualmente são ocupados por humanos possam ser substituídos por máquinas, serão por outro lado criados ainda mais empregos – 97 milhões – que eram antes inimagináveis e que serão realidade graças à nova divisão do trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos.

Para além destes números, o relatório faz particular referência às 10 principais competências profissionais para 2025, que incluem: pensamento analítico e inovação; aprendizagem ativa; resolução de problemas complexos; pensamento crítico; criatividade; liderança; uso de tecnologia e programação; resiliência; flexibilidade e por fim Ideation (criação de ideias e capacidade de as transmitir ao outro com clareza).

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Sabemos que a transformação digital e tecnológica está a tornar-se uma constante em todos os sectores de actividade, pelo que é interessante perceber que as competências mais referidas pelo Fórum Económico Mundial são aquelas que intitulamos como Soft Skills – competências que se relacionam com a personalidade e comportamentos do trabalhador. Envolvem aptidões mentais, emocionais e sociais. Competências muito específicas de cada indivíduo, pois nascem de acordo com a experiência de vida, contexto cultural, nível de consciencialização e educação de cada um de nós, entre outros fatores.

Se ao que referi em cima juntarmos o facto de o Digital Transformation Institute afirmar que quase 70% das empresas estão numa crise de soft skills no seio dos seus funcionários, compreendemos que mais do que nunca estas competências ganham maior relevância do que as intituladas hard skills – as competências que habitualmente apreendemos em meio académico ou em formações profissionais – exactamente as que estão em maior risco de desaparecer devido à transição tecnológica.

A maioria de nós sabe que a educação não é mais algo que fazemos apenas antes de entrar no mercado de trabalho. Hoje, a educação é contínua e para a vida toda, muito devido à complexidade transformacional que vivemos, quer sejam transformações sociais, tecnológicas, de saúde pública ou até devido às alterações climáticas. Todas elas estão a acontecer a um ritmo mais acelerado e imprevisível.

A ideia de que um diploma (ou vários) concluído aos vinte e poucos anos nos fornece as competências suficientes para nos manter no mercado de trabalho é algo do passado. As novas competências extravasam o conhecimento académico e estão cada vez mais relacionadas com as nossas vivências humanas e seus paradoxos – precisamente as que são quase impossíveis de substituir tecnologicamente. Daí ser muito importante as universidades e o ensino tradicional quebrarem a barreira entre a si e a sociedade e o chamado “mundo real”, que é onde conseguimos aprimorar e praticar as nossas soft skills.

No meu primeiro artigo no Observador dei o exemplo de como “Inclusão e diversidade são o primeiro passo para a inovação”, mas para tal suceder não basta ter uma equipa heterogénea em contraponto com uma homogénea. Inclusive, se tal for feito sem ter em conta as competências individuais das diferentes pessoas que nos propomos juntar (nomeadamente as suas soft skills) o resultado será de total entropia. E é exatamente aqui que as competências de futuro vem dar resposta aos desafios de um mercado cada vez mais competitivo, global e imprevisível.

Diogo Vieira da Silva é licenciado em Comércio Internacional e tem duas pós-graduações, uma em Gestão Hoteleira e outra em Marketing Digital. Encontra-se a finalizar o The Lisbon MBA Católica|Nova, uma joint-venture entre a Católica-Lisbon, a NOVA SBE e o MIT Sloan. Desde cedo se envolveu na promoção dos Direitos Humanos das pessoas LGBTI+, tendo ajudado a fundar duas ONG’s nesta área e assumido a Coordenação Europeia do Projeto Norte-Americano It Gets Better Project durante dois anos consecutivos. Co-Fundador da VARIAÇÕES – Associação de Comércio e Turismo LGBTI de Portugal, detém o cargo de Diretor Executivo e a Coordenação da Campanha Proudly Portugal. É atualmente o curador dos Global Shapers Lisbon Hub.