Thomas Paine, Pai Fundador do Estados Unidos da América e autor de “Senso Comum”, numa carta aberta aos cidadãos dos Estados Unidos, criticava um dos seus opositores da fação federalista dizendo: “A carreira política deste homem começou em hipocrisia, continuou em arrogância e terminou em desprezo”. Apesar de terem sido escritas há mais de dois séculos, estas palavras poderiam ter sido muito bem utilizadas para descrever a carreira política do Ministro das Infraestruturas, João Galamba.

Na sua mais recente contribuição para o debate público, o Ministro João Galamba teceu algumas considerações sobre a opção de Santarém para o novo aeroporto de Lisboa e desconsiderou esta opção por achar ser “longe”. Uma frase inconsequente de um ministro inconsequente, cuja autoridade política está por estes dias firmemente guardada no bolso do Primeiro-Ministro. Não mereceria muito mais do que uns minutos de desdenhosa consideração, não fosse ela uma frase exemplar de males maiores: por um lado, a prepotência e arrogância do Governo e da Maioria Absoluta do PS na forma como lidam com o País fora da capital e, por outro lado, a forma como este Governo e a Maioria do PS estão dispostos a comprometer os interesses nacionais em troco de benefícios políticos e eleitorais do PS.

Em primeiro lugar, esta declaração comprometem os interesses nacionais uma vez que podem muito bem ser vistas como uma tentativa de ingerência política nos trabalhos que ainda decorrem da Comissão Técnica Independente para o Novo Aeroporto. Esta Comissão está a trabalhar na análise de um conjunto de opções para a localização do novo aeroporto de Lisboa baseada em critérios técnicos e rigorosos como a eficiência da solução, o seu peso para o erário público, o seu impacte ambiente, as suas consequências para o desenvolvimento infraestrutural e económico do país, entre outras. Ao emitir esta declaração, o Ministro Galamba parece querer condicionar à partida uma destas opções, sem considerações técnicas e com base num “achismo” de treinador de bancada.

A opção Santarém oferece um conjunto de vantagens técnicas e económicas que são dignas de consideração séria, rigorosa e independente. Senão vejamos alguns exemplos: (i) uma localização central que teria o potencial de transformar este projeto infraestrutural verdadeiramente nacional e não apenas lisboeta, com ligações privilegiadas a vastas regiões do Centro do País, e ligações ferroviárias e rodoviárias ao resto do País, valorizando a coesão territorial nacional; (ii) um reduzido impacte ambiental, como atestam vários estudos preliminares; (iii) um potencial de escalação que acompanhe um aumento da procura; (iv) um peso bastante reduzido para o Erário Público, uma vez que se o grosso do investimento proviria de investidores privados; (v) um potencial motor de desenvolvimento económico para as regiões do centro do País.

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Em particular para os jovens desta região, a opção Santarém oferece uma perspetiva de desenvolvimento económico – emprego, oportunidades de negócio, projeção global – para as regiões do Centro do país. De repente, muitos jovens poderiam abraçar a ideia de permanecer e ter um futuro risonho nas suas terras de origem ao invés de estarem condenados ao custo de vida exorbitante da Lisboa. O Centro do país, tão agastado pela desertificação e o envelhecimento da população, certamente ficaria a ganhar com este rejuvenescimento.

Mas o Ministro Galamba preferiu desconsiderar todas estas importantes considerações e atirar-nos com a sua opinião tão técnica como a sua autoridade política. Mas as suas intenções são claras para todos: um aeroporto em Santarém, perto de Lisboa, mas longe dos interesses da pequena corte do Governo e da maioria absoluta do PS, assusta o Partido Socialista. Assusta o Partido Socialista porque não vai poder pôr um grande cartaz de “Oferecido pelo PS” no novo Aeroporto de Lisboa. Assusta o Partido Socialista porque tem um preconceito ideológico e político à iniciativa privada como fonte de soluções para o desenvolvimento do País. Para sua vantagem política e eleitoral, o Partido Socialista prefere soluções que podem vir a custar muitos milhões de euros ao Erário Público em vez de apostar numa solução que fomente o desenvolvimento nacional e regional, mas que não passe pelo Largo do Rato.

As palavras inconsequentes desta vez foram do inconsequente Galamba. Mas poderiam muito bem sido do seu predecessor, Pedro Nuno Santos, ou mesmo de António Costa. São sintomas de um mal maior, de um descaso que, em nome de uma pequenez política tão risível quanto trágico, submete a prosperidade nacional aos interesses políticos do Governo e da maioria absoluta do PS.

A Comissão Técnica Independente continua os seus trabalhos e não é ainda líquido qual vai ser a solução considerada como a melhor para o novo Aeroporto de Lisboa. Mas contaminar este processo técnico, rigoroso e independente com “achimos” que mal disfarçam os interesses políticos do Governo e da maioria absoluta do PS é um descaso dos trabalhos da Comissão, um descaso à seriedade com que este projeto deve ser tratado e mais um sintoma da prepotência e arrogância com que o Partido Socialista submete o interesse nacional aos seus interesses políticos. O Rei de França Luís XIV dizia “o Estado sou eu”. Em Portugal, o Estado é o PS e é o PS que anda bem longe do resto país.