Todos os anos, cerca de 5 mil portugueses morrem devido à insuficiência cardíaca (IC), uma doença cujo diagnóstico precoce é o passaporte para um tratamento mais rápido e eficaz e, na sequência deste, a obtenção de uma melhor qualidade de vida, poupanças para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, sobretudo, vidas salvas. Porque é disso que falamos quando se trata desta doença.
Os dados mais recentes, resultado do estudo PORTHOS, que atualizou a informação sobre este tema, confirmam que estamos a falar de uma doença com um impacto enorme: atualmente, a IC afeta um em cada seis portugueses com mais de 50 anos, um número que quase duplicou face ao estimado há duas décadas, e é a terceira causa mais comum de hospitalização no nosso país. Números que, a julgar pelas estimativas, podem agravar ainda mais este já muito complicado cenário. De facto, estima-se que a prevalência venha a aumentar entre 50% a 70% até 2030, tornando-se no país, uma das principais patologias crónicas, senão a principal.
Não é, por isso, difícil de perceber a importância do diagnóstico precoce da insuficiência cardíaca. E, neste contexto, a inovação em saúde mostrou já que há ferramentas que podem acelerar este processo de deteção, através da realização de uma simples análise sanguínea para avaliação de um biomarcador (BNP/NT-proBNP), que desempenha um papel importante no despiste dos casos suspeitos de IC.
O que é difícil é justificar porque é que este tipo de ferramentas não estão disponíveis aos médicos de família em Portugal, que ainda não têm acesso à sua prescrição, apesar da recomendação para o seu uso, feita pela Sociedade Europeia de Cardiologia, ter mais de uma década. E esta situação é tanto mais incompreensível quanto um estudo econométrico realizado aponta que a disponibilização do BNP/NT-proBNP nos Cuidados de Saúde Primários tem o potencial de gerar uma poupança de até três milhões de euros para o SNS, o que revela não só o impacto positivo para os doentes, para a sociedade, mas também para a economia e para a sustentabilidade dos serviços de saúde.
A não comparticipação deste biomarcador no SNS é um dos motivos para o diagnóstico tardio da IC em Portugal, com consequente início tardio da terapêutica. Este facto foi, inclusive, apontado no Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal como uma das maiores falhas no que respeita a cuidados desta doença no nosso país. É importante salientar que falamos de uma patologia que se traduz em elevados custos para Portugal, já que representa cerca de 2,6% da despesa pública em saúde, sendo as hospitalizações responsáveis por cerca de 30% destes gastos.
Estas hospitalizações poderiam ser evitadas se tivermos em conta que, até 2030, as estimativas apontam o dobro do número de pessoas com IC, em Portugal, pelo que a avaliação de risco desta doença, que já é essencial, adquire contornos ainda mais importantes.