Há dias, no sábado 24 de Março de 2018, publiquei no “Observador” o artigo “Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa, e não Museu das Descobertas”, e na sequência apresento mais alguns dados e ideias.
Para melhor inteligibilidade do assunto, peço aos que não leram esse texto que o leiam agora.

1. Em primeiro lugar, agradeço os já muitos e ponderosos apoios  a este meu projecto museológico.

Transcrevo aqui apenas os  apoios, já recebidos por escrito, de quatro entidades institucionais:  Academia das Ciências de Lisboa;  Academia Portuguesa da História; Presidente do Conselho Internacional dos Museus – ICOM Europa, o qual é, por nomeação da   Comissão Europeia, Membro do Comité do Ano Europeu do Património Cultural;  e o apoio do Coordenador Nacional do Ano Europeu do Património Cultural.

Não posso deixar de mencionar a imediata mensagem de Whats App do promissor jovem, já com vasta e notável carreira internacional,  que é doutorado em paz e tem colaborado com a ONU, Prof. Doutor Rodrigo Tavares :“Conte com a minha ajuda para o que precisar”.

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De facto, preciso de imensa ajuda/colaboração, pois trata-se de um projecto complexo, a necessitar da união de muitos, união que os portugueses tão bem têm demonstrado ao longo dos séculos, por exemplo aquando da Expansão e dos Descobrimentos, e que deve ser uma excelente inspiração.

Este projecto museológico, feito essencialmente à base das novas tecnologias, pode ser altamente rentável e é importante na valorização do país, de regiões e de autarquias.
Para a sua instalação é conveniente  amplo espaço, mas pode-se adaptar um edifício antigo.
Para o essencial financiamento, já há perspectivas, e talvez se arranjem verbas comunitárias, e provenientes de mecenas até de outros países e continentes, dada a abrangência global da temática, e a tradicional simpatia com que povos de diferentes culturas e civilizações encaram os portugueses, e vice-versa!

Sou museóloga por paixão e carreira profissional, a que acrescentei o profundo gosto em dar aulas de História e de História de Arte, como convidada, na Universidade, e este projecto museológico, conforme confidenciei, é por mim acalentado e actualizado desde há quase quatro décadas. Depois de ter sido conservadora e directora de fascinantes museus e palácios (Palácio do Correio-Mor em Loures, Museus Municipais de Lisboa, Museu Nacional de Machado de Castro em Coimbra, Palácio Nacional de  Sintra, Palácio/Museu da Assembleia da República/Parlamento, Museu de São Roque), o meu  único intuito agora é modestamente ser útil, a favor da paz, pois, com quase 75 anos, já nem idade tenho para ser directora do museu …

Gostosamente, dou lugar aos mais novos, mas para que sinta que o “envelhecimento activo” é útil, apenas peço que o museu seja concretizado de acordo com este meu velho sonho …

Anoto que estou também em contacto com o Ministro da Cultura, com a Câmara Municipal de Lisboa,  com outras autarquias e entidades.
Como é natural acontecer, há entidades que não terão lido o artigo, pelo que as vou contactar.

Conforme o atrás anunciado, transcrevo partes dos apoios por escrito das seguintes quatro notáveis Entidades e Instituições, para melhor se verificar o seu imediato e grande empenho na criação do Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa:

A ACADEMIA PORTUGUESA DA HISTÓRIA COLABORA “COM O MAIOR ENTUSIASMO”.
Logo na terça-feira 27 de Março, a Presidente da Academia Portuguesa da História, Profª Doutora Manuela Mendonça, enviou-me o ofício 21.GD.2018, Proc. 6.2:
“…  tenho o gosto de comunicar que, conforme decisão do Conselho Académico, é com o maior entusiasmo que esta Academia aceita colaborar no projecto de criação do “Museu da Interculturalidade”.
Como muito bem diz e defende, “é tempo de nos reconciliarmos com o passado, a favor da inclusão, do diálogo, da solidariedade, da paz”. Importa, conhecendo e compreendendo o processo histórico português, tudo fazer para criar laços e não alimentar cisões, muitas delas sustentadas numa visão actual e sem a menor capacidade de, “viajando no tempo”, compreender as conjunturas que ditaram cada actuação.
Numa época em que comemoramos Fernão de Magalhães, no seu contributo para uma primeira perspectiva de globalização e em que a sua ousadia inspira outra gesta – a da exploração do espaço – é tempo de nos assumirmos  no valor do “risco” que secularmente caracterizou o povo português.
Ficamos, pois, à disposição para toda a colaboração necessária à condução do projecto que em tão boa hora nos apresentou”…

O PRESIDENTE DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA, PROF. DOUTOR ARTUR ANSELMO, CONSIDERA O PROJECTO “DO MAIOR INTERESSE”.
Logo que teve conhecimento do projecto, o Prof. Doutor Artur Anselmo, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa,  escreveu-me num mail:
“… Li com atenção o texto do seu projecto, que me parece do maior interesse.
A nova designação do Museu das Descobertas, porém, afigura-se-me de difícil memorização. Aliás, a palavra “Descobertas”, inclui, de um ponto de vista semântico, não somente a ideia de descoberta geográfica mas também a de “descoberta do Outono.”…

O COORDENADOR NACIONAL DO ANO EUROPEU DO PATRIMÓNIO CULTURAL, PROF. DOUTOR GUILHERME D`OLIVEIRA MARTINS, “FELICITA VIVAMENTE PELA PERTINÊNCIA DAS CONSIDERAÇÕES”
No dia 26 de Março, o Prof. Doutor Guilherme d`Oliveira Martins escreveu-me num mail:
“… Li com muito gosto e concordância o texto que publicou no “Observador”. Felicito-a vivamente pela pertinência das considerações.
É indispensável pensar nestes temas e agir em conformidade.
Bem-haja! Parabéns…”
Depois, voltou a contactar-me para  agendarmos uma reunião, a qual ficou prometida para breve.

O PRESIDENTE DO CONSELHO INTERNACIONAL DOS MUSEUS – ICOM EUROPA, E (POR NOMEAÇÃO DA COMISSÃO EUROPEIA) MEMBRO DO COMITÉ DE PARTES INTERESSADAS DO ANO EUROPEU DO PATRIMÓNIO CULTURAL, PROF. DOUTOR LUÍS RAPOSO, APOIA “COM ENTUSIASMO” …  EM “TUDO O QUE ENTENDA ÚTIL”.
O Prof. Doutor Luís Raposo, Vice-Presidente da  Associação dos Arqueólogos  Portugueses, foi expressivamente eleito  Presidente do ICOM Europa, a Aliança Regional que reúne quase meia centena de Comités Nacionais do ICOM, em sentido europeu amplíssimo, do Atlântico aos Urais e mesmo para lá (Azerbeijão, Israel, etc.) e é, por nomeação da Comissão Europeia, o único português membro do outro pilar em que assenta o Ano Europeu do Património Cultural, o pilar das Organizações Não Governamentais, integrando o Comité de Partes Interessadas (as chamadas Vozes da Cultura). Recordo que o Conselho Internacional dos Museus – ICOM, a maior organização   internacional do sector, dedica-se à preservação e divulgação do património cultural e natural mundial, do presente e do futuro, tangível e intangível, e  tem relações formais com a UNESCO, tendo esta entidade como objectivo máximo a Paz  . O ICOM tem estatuto consultivo na ONU.
No dia 30 de Março, recebi um extenso mail do Prof. Doutor Luís Raposo, do qual transcrevo: “…Tinha já lido o seu texto e reagido com agradecimento (no que respeita à referencia tão simpática que me faz, simpática quanto porventura excessiva, atribuível ao   privilégio que tenho da sua amizade) e sobretudo com entusiasmo quanto à substância da sua proposta de  Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa. Creio que o terei feito no Facebook… Reforço, pois, por esta via as minhas felicitações pela sua proposta, bem mais interessante do que a do sempre falado e nunca concretizado Museu dos Descobrimentos, com uma história de equívocos e insucessos  de mais de meio século …  apenas poderia entusiasmar-me ao ler a sua proposta, que me parece tão convergente (les beaux esprits se rencontrent ?, diriam os clássicos do racionalismo). Conte, pois, comigo, cara e distinta amiga, para tudo o que entenda útil … Repito, conte comigo no que entender e mais uma vez muitos parabéns pela sua iniciativa…”

2. Em segundo lugar,  apresento mais sugestões que entretanto me ocorreram.

O museu não deverá estar apenas localizado na zona de Lisboa, mas  ajudar à descentralização.

No ponto 5 do meu referido artigo “Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa, e não Museu das Descobertas”, publicado no “Observador” do dia 24 de Março passado, eu considerava que o museu devia estar sediado em Lisboa “capital também da Expansão, dos Descobrimentos e da Interculturalidade”, e por cortesia contactei a Câmara Municipal de Lisboa em primeiríssima mão, e aguardo notícias.

Entretanto, outras autarquias, na região de Lisboa e no Norte, já manifestaram interesse, pelo que o museu  poderia ter outras localizações.

Assim, poderia haver dois pólos principais, um pólo na região de Lisboa e outro na região do Porto, ou três pólos principais, acrescentando um para o Algarve, e deviam-se fomentar roteiros de visitas entre todos eles.
No caso dos três pólos principais, sugiro o seguinte:

  • no Norte, enfatizando que no Porto nasceu o Infante D. Henrique, o pólo com enfoque na construção naval, lembrando que no Norte tem ocorrido muita da construção naval, designadamente na época dos Descobrimentos. Julgo que seria excelente se este pólo ficasse situado no Porto.
  • no Algarve, o pólo com enfoque  na navegação, lembrando que a ponta de Sagres e o Cabo de São Vicente, distantes meia dúzia de quilómetros, separam duas costas completamente diferentes, a atlântica e a algarvia, e que por aí se faz a navegação entre o Mediterrâneo e  o Atlântico. Julgo que seria excelente se este pólo ficasse situado  em Vila do Bispo, distrito de Faro, complementar à Fortaleza de Sagres, cuja origem remonta ao séc. XVI.

Entretanto, a Comunicação Social noticiou a 29/ 3/ 2018: “Startup brasileira escolhe Faro para produzir esfera de realidade virtual e partir à conquista da Europa”. A Motion Sphere nasceu no Brasil em 2014, chegou aos E.U.A. em 2016, e agora à Europa, indo criar   uma unidade fabril no Algarve para produzir estes equipamentos; está ligada, por exemplo, à Universidade do Algarve. Esta startup, dona do dispositivo de realidade virtual, sensorial e interactivo associado a uma plataforma de movimentos, pode criar qualquer tipo de experiência, dando eles como exemplos: simulador de carro desportivo, de motos, de avião e de nave espacial. Pergunto eu: porque não de caravelas… ? Dão também sensações associadas como calor, frio, vento, sons…

Como a interculturalidade portuguesa é uma característica e uma mais-valia não só histórica, mas que é útil implementar na actualidade, sugiro ainda outros pólos, mas sem quaisquer custos, nas instalações que tenham.
Estes pólos seriam considerados apenas devido a certificação científica,
fomentando-se aí visitas na perspectiva da interculturalidade, procurando-se que esses núcleos se  desenvolvam e, sempre que possível, ser mais e melhores motores de desenvolvimento também das regiões em que se inserem.

Por exemplo, certificar-se-iam pólos no âmbito das Artes Decorativas, pois estas têm únicas mesclas com o Oriente, Brasil, África; lembro que até os nossos vizinhos espanhóis, inclusivamente no Museu de Artes Decorativas de Madrid,  sublinham estas especificidades das Artes Decorativas Portuguesas, bem distintas das suas. Assim, podiam-se  considerar  pólos: em Castelo Branco a propósito das colchas,  em Arraiolos a propósito dos tapetes, e em locais a definir,  pólos dedicados à ourivesaria,  à cerâmica, ao azulejo,  ao mobiliário, e pólos ainda dedicados à arquitectura, aos jardins, etc.

Concordo plenamente com o Presidente da Academia das Ciências de Lisboa quanto ao nome do museu ser de difícil memorização. Como agora tanto se utilizam siglas, e lembrando que por elas toda a gente identifica, por exemplo, os museus de Nova Iorque “MoMA” – Museum of Modern Art , e “The Met” – Metropolitan Museum of Art, e em Lisboa o recente “MAAT” é o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, o nosso  “Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa” poderia ser o “MIOP”.
Assim, os referidos pólos poderiam ser MIOP- Lisboa, MIOP- Porto, MIOP- Castelo Branco, etc.

Um aspecto que me é caríssimo é o social, para o que dou mais umas achegas, com sugestões para fomentar visitas culturais diversificadas, inspiradoras de desenvolvimento presente e futuro, e a realizar sobretudo a locais mais isolados, no interior.
As visitas poderão ser organizadas por temas, épocas, personalidades ligadas a essas zonas, por aí terem nascido, vivido, morrido, por aí  ter havido inspiração para pinturas, obras literárias, etc.
Dou o exemplo da linda e antiquíssima vila de Vouzela, no distrito de Viseu, tão fustigada pelos recentes incêndios, e com imenso potencial para visitas. Restrinjo-me a duas personalidades, por aí terem nascido na época dos Descobrimentos,  as quais bem podiam inspirar até o cinema:
João Ramalho (1493- falecido em 1580, em São Paulo), aventureiro e explorador, que chegou ao Brasil em 1515, tornou-se grande amigo dos índios tupiniquins, conseguindo mobilizar milhares num só dia, teve decisiva acção na criação da cidade de São Paulo, e papel fundamental na exploração do território brasileiro, casou com a princesa índia Bartira (a qual depois de baptizada adquiriu o nome de Isabel Dias), e é considerado o patriarca dos mamelucos, havendo quem diga serem suas descendentes a escritora Lygia Fagundes  Telles, a rainha Sílvia da Suécia …
O Padre Simão Rodrigues (1510- falecido em1579, em Lisboa), sacerdote jesuíta, teólogo, mestre em Artes pela Universidade de Paris. Nessa cidade tornou-se amigo de Santo Inácio de Loiola. Ordenado sacerdote em Veneza, foi um dos membros fundadores da Companhia de Jesus; enviado para Lisboa juntamente com São Francisco Xavier, foi nomeado o primeiro Superior Provincial de Portugal, e formou grande número de eminentes jesuítas. Faleceu em Lisboa, estando sepultado na Igreja de São Roque.

As visitas poderão também envolver outros países, com os quais haja qualquer ligação, como, nestes dois exemplos vouzelenses, o Brasil, França, Itália, Índia, etc.

Soube agora que está, felizmente, em vias de ser concretizada a criação em Portugal do Museu da Língua Portuguesa, com o apoio, inclusivamente, da Academia das Ciências de Lisboa. Em louvável iniciativa, também de descentralização, o Museu da Língua Portuguesa ficará em Bragança.
Eu tinha ficado encantada, há anos, ao visitar em São Paulo o primeiro Museu da Língua Portuguesa.
Dado serem complementares, penso que seria muito interessante serem criados laços estreitos entre o Museu da Língua Portuguesa e o Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa, por exemplo com visitas organizadas em conjunto.

Para finalizar, outra sugestão e outro desejo: como a interculturalidade de origem portuguesa, como apontei no referido texto publicado a 24 de Março, apresenta factores tão interessantes, importantes, distintivos e presentes em tantas culturas e civilizações, gostaria imenso de a ver classificada como Património Mundial Imaterial pela UNESCO, lembrando que os objectivos últimos da UNESCO e do Museu da Interculturalidade de Origem Portuguesa são a Paz.

Colaboradora do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa. Sócia de: Academia Portuguesa da História, Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, Academia Nacional de Belas-Artes, ICOM- Conselho Internacional dos Museus; matildesousafranco@gmail.com