A ti, voluntario amarelinho, que, como eu, se encontra perdido, porém abraçado, no organigrama mais complexo de que alguma vez fiz parte (e certamente farei!); a ti que acordaste agora na colchonete na escola básica da freguesia mais próxima, ou mesmo a ti que não me lês porque esta língua na qual me exprimo não entendes.
Entrem num metro e atravessem as carruagens entrelaçadas entre cânticos quase hooligans e terços rezados, sentem-se numa esplanada e absorvam a atmosfera, dancem com papuásios, cantem com franceses, partilhem uma roda de tambores com angolanos, e bebam uma geladinha com os nossos amigos ibéricos! Sorriam e digam bom dia, porque têm a sorte de estar na maior aldeia do Mundo durante uma semana. Todos partilhamos algo, todos partilhamos a Verdade, e por isso o Bom e, em jeito de corolário, o Belo.
A sorte, que só por desígnios transcendentes, digo eu, se predispõe diante de nós, obriga-nos a este encontro com o outro tão belo e simples como o sorriso cansado de dois peregrinos oriundos de pontos opostos do globo que partilham uma sombra enquanto recuperam o folgo.
Sob o risco de cair no ridículo, permitam-me o paralelo com a culinária. Quão melhor é a superfície crocante dos bolos, a parte da costeleta próxima do osso, a parte de baixo do bolo de arroz ou até mesmo o açúcar caramelizado do leite de creme, quando comparados às côdeas mornas deste mundo. Fronteiras, trocas e as conexões que destas derivam são muito mais interessantes, intelectualmente e espiritualmente estimulantes do que as zonas suaves, confortáveis e fofinhas. Deixem-se de miolos secantes e abracem o outro.
Por fim também me dirijo a vocês, os céticos, os tímidos, os por conquistar ou ainda os revoltosos, sim, a vocês também, caros irmãos revoltosos que pela internet advogam o oposto ao projeto ao qual me proponho, como um dos seus mais rasos soldados; desçam às ruas vejam o que está a acontecer em Lisboa. Venham a uma missa, conferência ou roda de samba, abracem um desconhecido porque podem! Amoleçam o vosso coração como se de uma esponja se tratasse, pronto para respirar o ar de paz, alegria e fraternidade que se vive sobre a calçada e sol do extremo oeste da Europa.