Uma curiosa reviravolta nas eleições dos Estados Unidos transformou a disputa pela Casa Branca de uma competição entre dois candidatos de muita idade e em que o extremo estava mais à direita, para uma outra discussão com maior paridade no extremismo, mas com uma proposta de idades muito diferente.
Também passámos a assistir a uma corrida entre um candidato homem, caucasiano e milionário, contra uma mulher afro-asiática e woke.
Para a maioria dos americanos, como para a maioria das pessoas, uma mudança destas pouco efeito terá nas suas opções quando confrontadas com a necessidade de escolher, mas, para um pequeno grupo, tudo mudou e isso poderá trazer uma alteração completa na expectativa dos resultados esperados.
Na verdade, a política hoje está muito fanatizada e é muito comum assistirmos a pessoas que consideramos razoáveis defender posições inadmissíveis por parte dos seus líderes políticos, apenas porque são da sua linha política, ainda que nas suas convicções tal fosse inaceitável e nunca o aceitassem a nenhum dos seus adversários.
Por isso, tem sido frequente ler em vários artigos, mesmo de pessoas que considero, defender qualquer dos candidatos sem terem o cuidado de chamar a atenção, quando destacam os valores positivos das diferentes candidaturas, sobre os erros de atuação e de pensamento que não deveriam ser aceites nas suas propostas.
Naturalmente que, sendo eu uma pessoa de convicções alinhadas com as políticas mais conservadoras e de direita, terei muita dificuldade em entender a solução Kamala como uma excelente alternativa para a presidência americana.
Por todas as razões que defendo em relação às políticas de esquerda que não contribuem para o desenvolvimento da sociedade, junta-se agora a vontade de destruição de uma sociedade ocidental baseada nos valores da pessoa humana, que tentam substituir por teorias absurdas do “tudo é possível apenas porque eu quero”, ainda que isso possa prejudicar todas as pessoas em seu redor.
Contudo, e não conseguindo defender a candidatura democrata nesta nova versão Kamala, ainda que tenha a virtude de trazer novas alternativas ao espectro político americano, é-me completamente impossível defender a candidatura de Trump à presidência.
E é-me tão impossível fazê-lo não porque não esteja de acordo com algumas das posições que ele assume ou até na perspetiva de que entre dois males posso optar pelo mal menor, que seria aquele que defende muitos dos temas da sociedade na linha mais próxima do meu pensamento.
Aquilo que não me deixa apoiar o candidato republicano é simplesmente a sua própria postura relativa à sociedade que eu defendo e que é a base do mundo ocidental com que me identifico.
Para mim é inaceitável aceitar como candidato alguém que, na função de Presidente dos Estados Unidos, tenha promovido, incitado, desculpado ou apenas aceitado um ataque a uma instituição que representa a própria essência da democracia, num país que foi durante décadas o seu bastião.
Para mim, independentemente das posições que cada candidato defenda e antes de fazer qualquer avaliação da sua proposta para o governo do seu país, considero completamente desclassificado, por não cumprir os mínimos para viver na sociedade em que quero viver, o candidato republicano.
Eu quero viver em liberdade e em democracia, e isso é, para mim, incontornável.
Para isso me baterei tanto à esquerda como à direita.
Por isso defendo que haja partidos extremos de cada lado se assim o eleitorado quiser.
Por isso sou contra as políticas de esquerda que tentam destruir os valores da sociedade em que acredito, mas por isso também, aceito a alternância governativa, em que os governos sejam de esquerda ou de direita, conforme o eleitorado preferir.
Não gosto do que propõe Kamala, nem acredito que o Mundo melhore com a sua governação, mas para mim ela está sozinha neste ato eleitoral pois o candidato republicano está desclassificado.