Onde estava Roger Waters quando a cidade de Izium foi ocupada por tropas russas, palco de tortura e massacres contra meio milhar de ucranianos? Tão pouco alguma vez na vida terá ouvido falar desta cidade, aposto. Tenho a certeza de que nem terá o mínimo interesse em conhecer os nomes das crianças violadas, torturadas e massacradas pelo exército russo ou tão pouco do paradeiro do seus restos mortais, atirados em valas comuns, que agora um por um estão a ser exumados. Os familiares sobreviventes das zonas libertadas pelo exército ucraniano vão começar a procurar os corpos dos seus entes queridos nas valas comuns, ao longo do tempo vamo-nos deparar com outras valas comuns de ucranianos algures na Ucrânia, algures na Europa, algures na Rússia e, independentemente de tudo, há uma questão que será repetida à exaustão pelas famílias enlutadas: “porquê foram mortas?” E Roger Water há muito que já tem a resposta pronta e que tudo justifica: “morreram porque a NATO desafiou a Rússia”.

É público e notório que a NATO não atacou ninguém ou não lançou mísseis contra cidades russas ao contrário do que a Rússia está a fazer com a Ucrânia, não mentiu afirmando que faz exercícios militares perto da fronteira da Ucrânia e na calada da noite ataca a Ucrânia e também pouco importará a realidade para Roger Waters, pois este artista transformado em agente de influência russo segue a cartilha anti-NATO e anti-americana para estar em boas graças dos regimes ditatoriais e sanguinários como a Rússia e a China e poder assim efabular-se de libertador do mundo. É óbvio que no mundo, e nomeadamente no mundo livre, existem muitos Roger Waters que preferem Putin a Biden. Em Portugal está institucionalizado através do Partido Comunista Português (PCP).

Qual é a origem desta narrativa?

Em primeiro lugar é um completo absurdo afirmar que a NATO desafiou a Rússia. Ainda antes do início da agressão russa em Donbass e da anexação da Crimeia, o apoio dos ucranianos à adesão à NATO era de 18 por cento, contra 67 por cento que diziam “não à NATO” (2013). De acordo com um inquérito em 2014 já 47,8 por cento dos ucranianos eram a favor da adesão à Aliança Atlântica e apenas 32,4 por cento eram contra. Por outro lado o aumento dos apoiantes e simpatizantes da NATO na Ucrânia não era relacionado apenas com a defesa contra a agressão russa mas principalmente com reformas exigidas à Ucrânia através do processo de adesão. Acima de tudo e em primeiro lugar trata-se do combate  à corrupção, pois é esta a pedra angular do modus operandi e da influência e modo de governação russa sobre a Ucrânia.

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Os apologistas e defensores da propaganda russa sobre a ameaça da NATO à Rússia esquecem-se que muito antes da fundação da Aliança Atlântica os russos já organizavam os genocídios dos ucranianos, remontando a Pedro o  Grande.

A comunidade ucraniana católica em Lisboa lembra que em 2011 a Diocese de Lisboa organizou a Festa de Natal dos Imigrantes em que cada grupo de imigrantes foi convidado a comparecer com as suas bandeiras nacionais e aconteceu que neste evento o padre da igreja russa em Portugal apelidou a Bandeira Nacional da Ucrânia de “trapo nazi”. Este exemplo não é um caso isolado pois para a igreja russa, de Kyrill, os ucranianos não podem ter a sua entidade nacional própria, considerados como sub-humanos na acepção da palavra usada por nacionais socialistas de “Untermensch” sujeitos à solução final.

Estes russos que massacraram ucranianos em Bucha, em Irpim, em Mariupol, em Izium fizeram tudo por ódio aos ucranianos. Eles que vieram das estepes odeiam que os ucranianos queiram ser independentes, odeiam que os ucranianos tenham em suas casas máquinas de lavar roupa, lavatórios e sanitas, os principais bens saqueados pelas forças armadas russas, porque é sabido que a maioria dos russos não têm acesso a tais bens.

Depois do avanço militar ucraniano, o exército russo começou a mobilizar criminosos para guerra. Além de violar os mais básicos direitos humanos, apresentava-se uma de duas alternativas, a de continuar preso ou partir para a matança de ucranianos.

A questão que hoje se coloca e que urge ser colocada no seio da sociedade russa é que os políticos e generais russos têm de explicar bem e à nação inteira, sendo que já não vale a pena dar mais explicações à comunidade internacional, o que vão os criminosos russos fazer ou defender na Ucrânia?
Mais uma vez e com ajuda de Roger Walters, diria que “os criminosos russos vão salvar o mundo da NATO!”.

No mundo livre e na Europa toda esta situação é anedótica, mas na Rússia, onde qualquer desacordo com Putin é logo punido com vários anos de prisão, tortura ou simples desaparecimento, ninguém decente poderá levar as palavras de Roger Waters a sério.

Toda esta poesia e música de Roger Waters só vão ajudar a prolongar o sofrimento e morte de centenas de milhares de ucranianos e, por isso, e em memória das vítimas da Bucha, Irpim, Mariupol, Izium e dezenas de outras cidades massacradas na Ucrânia, não financiem o terrorismo internacional, não comprem bilhetes para o concerto de Roger Waters em Lisboa, não participem no genocídio contra os ucranianos, não sujem as mãos de sangue.

Eis um pequeno gesto de elementar justiça e de solidaridade com o povo ucraniano para que possa o mais rapidamente extinguir o fogo da guerra.