O Parlamento Europeu, supostamente a casa da democracia europeia, tem sido palco de críticas crescentes devido aos privilégios e luxos concedidos aos seus membros. A vida de um deputado europeu, repleta de mordomias e regalias, contrasta fortemente com a realidade da maioria dos cidadãos europeus, especialmente aqueles que residem no sul da Europa e enfrentam dificuldades económicas.

Esta disparidade levanta questões sobre a legitimidade e representatividade do Parlamento Europeu. Como pode um deputado, que desfruta de um estilo de vida luxuoso e distante da realidade da maioria dos cidadãos, representar efetivamente os interesses do povo?

Esta questão é ainda mais pertinente quando sabemos que o acesso a cargos políticos, incluindo o de deputado europeu, depende em grande parte da filiação partidária.

Esta realidade também levanta questões sobre o papel dos partidos políticos na democracia. Serão eles facilitadores ou entraves à participação política?

O sociólogo Robert Michels, na sua obra Sociologia dos Partidos Políticos, refere que, apesar de serem instrumentos da democracia, os partidos tendem a tornar-se oligárquicos, concentrando o poder nas mãos de uma elite partidária. Esta elite, por sua vez, pode usar o seu poder para garantir privilégios e vantagens para si e para os seus membros, como o acesso a cargos políticos e os luxos que os acompanham.

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A disparidade entre o estilo de vida dos deputados europeus e o dos cidadãos comuns, levanta questões sobre a justiça social e a igualdade de oportunidades na União Europeia.

O economista Thomas Piketty, argumenta que a desigualdade económica tem aumentado nas últimas décadas, tanto a nível global como dentro dos países e isso terá, necessariamente, consequências negativas para a democracia, pois pode levar à concentração do poder político e económico nas mãos de uma pequena elite.

Os luxos e privilégios dos deputados europeus, a dependência dos partidos para o acesso a cargos políticos e a crescente desigualdade socioeconómica na Europa são questões que deviam merecer uma reflexão e debate franco e alargado. Mas creio que isso não interessa aos poderes instalados.  Afinal, a democracia não se resume ao ato de votar, mas implica também a garantia de igualdade de oportunidades, justiça social e representatividade política. Depois? Depois admiram-se do crescimento dos extremos!