Tenho observado como a Índia ganhou fama e primazia em TI-Tecnologias de Informação e Serviços Facilitados por TI, por diversas razões, em especial a grande produção de engenheiros de alta qualidade que, emigrados para os EUA, criaram uma reputação de excelência e de ser a Índia um viveiro de cérebros super-dotados em TI. A par de outros engenheiros, também de altíssima qualidade, que não quiseram ou puderam emigrar. Entre uns e outros criaram boas respostas às necessidades de muitos países, em especial com a escrita de códigos para ultrapassar problemas do bug do ano 2000. E mais: com naturalidade os clientes deram-se conta de que os engenheiros da Índia não só escreviam os códigos, coisa bem elementar, como eram capazes de muito mais, com ideias próprias. Isso, naturalmente, aos empresários de mente aberta, fez-lhes descobrir uma mina intelectual riquíssima, nos que vinham da Índia.

Felizmente as empresas de TI indianas seguiram a estratégia de se dedicarem plenamente a explorar as possibilidades que o software aplicado às diversas circunstâncias podia trazer. Tinham recursos humanos e financeiros para tal. Algumas das grandes empresas Indianas tinham o seu ponto de honra de dizer aos clientes que thes forneciam produtos (de software) da “próxima geração”.

É que através das melhorias que iam introduzindo, e alguns passos mais arrojados de que a inventiva humana era capaz, a própria empresa descobria os clientes que poderia beneficiar – para reduzir o tempo de processamento ou ter facilidade de chegar a uma solução que antes poderia ser muito morosa e onerosa –, pagando-se naturalmente. Desta forma, a empresa obrigava-se a continuar a investigar e avançar, surpreendendo os seus clientes com os avanços conseguidos; os clientes estariam ultra-satisfeitos, pela atenção de que eram alvo.

Esta atitude da maioria das empresas de TI fez acelerar, na travessia da pandemia, o desenvolvimento de variadas tecnologias ainda incipientes para a sua rápida aplicação, no superar de restrições que a pandemia impunha. Assim surgiu célere a IA-Inteligencia Artificial, para se entender melhor as opções e ter soluções próximas do que o cliente desejava. Também a ML-Machine Learning, para se criar um substituto eficaz na linha de frente de hotéis, como rececionista, e noutros locais de interação fornecedor-cliente. A robótica entrou em muitos outros domínios além dos mais clássicos e limitados. No polimento de diamantes, em Surat, foram um sucesso, assim como no atendimento na front-desk, embora com a limitação do custo dos robots. E não falemos do amplo terreno da digitalização, para se entrar em cheio na economia digital em matérias de pagamentos, e na “Internet das coisas” e habilitação das pequenas lojas de esquina para serem o elo final da entrega no e-commerce.

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Foi oportuno que as empresas de TI antecipassem o que estava para vir e se tivessem dedicado em pleno ás oportunidade desta imensa vaga de digitalização, preparando e treinando boa parte da população de trabalhadores para ela.

Todo o tema do skilling, reskilling e upskilling faz parte do jargão das empresas de TI, como forma de responder ao grande desafio que se lhes apresenta hoje, com uma elevada rotação dos seus trabalhadores especializados. Esta rotação anda nos 20% anuais, pois a procura é grande bem como a tentação de se mudar quando se recebe uma oferta que duplica o salário e dá outros benefícios nessa mudança.

O crescimento das maiores empresas de TI Indianas, nos últimos dois anos, foi bem alto, de dois dígitos (como não era esperado) devido a essa onda de digitalização. E todos preveem que ela está para durar por bons anos.

Todo o saber acumulado neste domínio fez com que muitas empresas multinacionais viessem estabelecer os seus GCC-Global Captive Centre, Centros de R&D, na Índia, para aproveitar não só a vasta experiência local, como a abundância de mão-de-obra altamente qualificada, com bons hábitos de trabalho e de dedicação inteligente ao que fazem. Além disso, os custos são mais baixos do que nos EUA, UE ou no Japão. Já estão em funcionamento 1750 GCC, esperando-se mais 500 até ao ano 2025. Todos eles, no seu conjunto, irão ocupar cerca de 2 milhões de especialistas, sem contar com o pessoal auxiliar.

Para as empresas de TI indianas continuarem na linha da frente, bem destacadas, deveriam apostar nas start-ups ou promover novas, pois delas poderão vir ideias de rutura, com novos avanços tecnológicos. Como é natural, muitas delas poderão ser rotundos fracassos, mas no seu conjunto é de prever que as vantagens sejam bem maiores que os inconvenientes, pois o que não funciona depressa se pode fechar e canalizar os recursos para aquilo que parece vir a ser um sucesso. E também dos fracassos se tiram lições úteis e valiosas.

Como era de esperar, a atenção dirigida ao fomento das start-ups levou a que haja mais de 50 000 (2018) em laboração, com cerca de 9000 tecnológicas. Destas, 1300 foram criadas no ano 2019.

Nunca se tinha visto um número tão elevado de unicórnios (assim chamadas as start-ups avaliadas em mais de $1 bn), que já são em número de 60. Pode ter havido alguma precipitação no injectar do capital, fazendo que ideias ainda pouco trabalhadas tenham tido um grande salto na sua avaliação. Essa valorização “artificial” poderá ter trazido dissabores, mas assim se vai aprendendo a fazer as coisas com qualidade e valor, dando tempo para a sua afirmação.

Parece haver muito dinheiro “fácil” capaz de distorcer os resultados e levar por vezes a frustração de autores de outras ideias não tão “glamorosas”, mas estáveis e sérias. Dá tranquilidade ver tais start-ups “normais”, sem as estridências de querem ser unicórnios, trabalhando com seriedade até darem provas da praticabilidade da ideia de base.

Para fazer avançar um país na criação de riqueza e trabalho, faz falta uma plêiade de empreendedores, com iniciativas e capacidade de as levar a cabo, ultrapassando dificuldades. Uma parte delas irá de encontro às necessidades de hoje detetadas na sociedade, que são visíveis e se arrastam até aparecer quem se decidida a solucionar. Outras vezes é a antecipação das necessidades do futuro próximo que leva a imaginar e lançar as bases da sua solução.

Houve situações bem localizadas no tempo e na história que fizeram ver o papel do empreendedor como impulsionador do progresso, que de fato é. Noutros ambientes e enquadramentos económicos ou ideológicos, talvez movidos pela inveja da sua própria esterilidade, deram-se a criticar o empreendedor como “explorador do povo”, sem sequer ver o número de pessoas que emprega e do serviço ou produto que a sociedade está avidamente a comprar, por facilitar a vida de cada cidadão.

Qualquer país deve dar importância ao que sabe fazer bem, àquilo em que tem tradição e saber acumulado, levando a fazer mais I&D sobre ele e a aplicá-la e a avançar. Pode haver a tentação de se desviar, para superar o que faz menos bem, descurando o núcleo das atividades bem feitas e com provas dadas.

Com frequência, o que se faz bem tem um limite no que é consumido no país ou exportado. Estava a pensar no vinho do Porto, por exemplo, que tem tradição e condições especificas na sua produção em Portugal. Mas o volume de produção, do consumo e exportação tem limites. A não ser que se aumente a área da região onde se pode produzir um Porto de muita qualidade ou, então, se promovam outras boas variedades de vinhos de qualidade, com especiais características que os tornem “únicos” e muito apreciados.

Coisa bem diferente do Vinho do Porto é quanto acontece com as TI: não têm limite à produção, desde que se tenha abundância de engenheiros preparados, nem à sua aplicação, pois o mundo todo terá de entrar nesta vaga tecnológica de vanguarda. A Índia vai exportar este ano, de Ti e de TIES (serviços facilitados), mais de 150 000 milhões de dólares (FY2020) e cerca de 45 000 milhões consome internamente. Por isso, todos os investimentos no sector, na Índia, parecem ter ainda grande futuro. E se de permeio se aposta na Inovação, mais aplicações interessantes poderão surgir.