Uma candidatura para quem, no espaço não socialista, não se revê nem em Marcelo Rebelo de Sousa nem em André Ventura: tudo aponta que deverá ser esse o eixo central de posicionamento de Tiago Mayan, que anunciou recentemente ser candidato presidencial com o apoio da Iniciativa Liberal.

Para além de proporcionar uma alternativa não socialista a Marcelo e Ventura, ao apoiar esta candidatura a Iniciativa Liberal aproveita também as presidenciais para reforçar a implantação e divulgação nacional do partido. É inegável que Mayan parte com níveis de notoriedade próximos de zero e que tal constitui um desafio difícil para uma candidatura em eleições presidenciais. Mas importa recordar que Carlos Guimarães Pinto e João Cotrim de Figueiredo – inequivocamente as duas figuras mais conhecidas da IL – eram, também eles, praticamente desconhecidos do eleitorado no momento em que se apresentaram a votos. O apoio à candidatura de Tiago Mayan projecta mais uma figura para eleições futuras e reforça a ideia de um partido focado em ideias e não em personalidades mediáticas.

Além de fazer parte do núcleo fundador da Iniciativa Liberal, Tiago Mayan foi também responsável por dirigir a campanha da IL no Porto nas últimas eleições legislativas, nas quais o partido ficou perto de conseguir eleger o então líder do partido Carlos Guimarães Pinto. Mas talvez o dado mais interessante da (modesta) experiência política de Mayan seja a sua proximidade e colaboração com o Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira (curiosamente ele próprio um potencial forte candidato presidencial para… 2026).

Numas eleições presidenciais que se arriscam a ficar marcadas pela bipolarização entre Marcelo e Ventura, o desafio do candidato apoiado pela IL será conseguir apresentar-se como uma alternativa sóbria e credível num contexto previsivelmente dominado por populistas de esquerda e de direita.

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Poucos se espantarão caso o PSD liderado por Rui Rio venha a apoiar o mesmo candidato presidencial que o PS liderado por António Costa (ainda para mais quando esse candidato é uma figura histórica do próprio PSD) mas tal já não seria, de todo, compreensível para a IL. Que adicionalmente parece bem posicionada para aproveitar o facto de o CDS (previsivelmente) optar por não ir a jogo. Com o CDS diluído na vasta frente habilmente congregada por Marcelo, uma parte do seu eleitorado tradicional irá muito provavelmente dividir-se entre Ventura e Mayan, agravando a crise do partido. Uma situação que não deixa de ser irónica considerando que uma possível candidatura presidencial de Adolfo Mesquita Nunes – que chegou a ser equacionada – teria como um dos seus efeitos prováveis levar a IL a apoiar a candidatura presidencial de um militante e figura destacada do… CDS.

Do ponto de vista de Marcelo Rebelo de Sousa, a candidatura de Mayan não terá muita relevância, mas deveria ainda assim ser vista como uma boa notícia. Ainda que possa reduzir ligeiramente as probabilidades de sucesso no sonho de Marcelo de superar a fasquia da votação conseguida por Mário Soares na sua reeleição, a candidatura de Mayan contribui para reduzir a polarização em torno de Ventura da direita que não se revê em Marcelo.

A recente sondagem da Universidade Católica para a RTP e o Público aponta níveis muito elevados de aprovação para Marcelo (87%), mas curiosamente é à direita que há mais insatisfeitos: avaliam como má ou muito má a actuação do Presidente 51% dos eleitores do Chega, 36% da IL, 14% do CDS e 10% do PSD (o que contrasta com apenas 1% de insatisfeitos entre eleitores do PS e 5% entre os do BE).

Dados que sugerem que é precisamente na área não socialista que há mais espaço (ainda que não muito) para afirmar alternativas nas presidenciais. Em qualquer caso, convém ter em conta que, infelizmente, o pior da crise económica e social ainda está para chegar e que daí podem decorrer efeitos não negligenciáveis sobre a evolução do comportamento eleitoral ao longo dos próximos meses.

Umas eleições presidenciais bipolarizadas entre Marcelo e Ventura continuam a ser um cenário plausível mas o alargar do leque de alternativas e o contributo que decorre da candidatura de Mayan para o pluralismo da democracia portuguesa é de saudar.