Há-de haver uma frase curtíssima e extraordinária que diga tudo. De uma vez por todas. Que explique finalmente e sem margem para dúvida o que significa o mundo e o existirmos.

A gente sabe, ou sente, que essa frase definitiva, esclarecedora daquilo que mais inquieta a alma dos homens desde o princípio, existe. Só não foi ainda encontrada. Uma frase tão poderosa e irrevogável que torne inúteis as veleidades de toda a literatura, de toda a prosa e poesia. E dispense também a filosofia com as suas razões e a própria religião com a sua fé.

Bastam poucas palavras, se forem certas. “Ao princípio era o Verbo”, diz o Evangelho, consagrando a origem cósmica e o poder divino da palavra genuína.

É em busca dessa frase essencialíssima que os autores mais ilustres porfiam desde a antiguidade, em vão. E, como não a encontram, escrevem milhentas frases de substituição que compõem os tratados de filosofia, as odisseias poéticas e os romances russos de oitocentas páginas.

Todavia continuamos à espera da tal frase simples e essencial que responda de uma vez ao grande “Para Quê?”.

Sim, para quê? Para quê tudo isto? Este nascer e este morrer, este querer e este doer, este esperar e este alegrar, todos estes dias e estas noites sempre a passar, sem parar?

Uma coisa é certa: a grande inquietação não pode ser sossegada pela razão. A tal frase só pode ser pronunciada pela intuição.

“Pensar nisto serve para quê?” – perguntam os apoucados, os práticos, os frívolos e os cínicos, que são todos a mesma coisa. É claro que os fundamentos nunca servem para nada. Contêm, apenas, o significado. Servir é para o tamanho ou medida dos sapatos.

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